Escolas cearenses e militares de ensino fundamental estão entre as melhores do Brasil, segundo o “Ideb por escola”, índice divulgado nesta terça-feira (4) pelo Inep, órgão do Ministério da Educação (MEC) responsável por avaliar a qualidade da educação brasileira.
Na lista das 20 melhores escolas públicas avaliadas no 9º ano do ensino fundamental, 12 são ocupadas por instituições públicas do interior do Ceará (nenhuma de Fortaleza). Outro detalhe que chama a atenção é a presença de quatro escolas militares: Colégio Militar de Salvador, Colégio Militar de Belo Horizonte, Colégio Militar de Curitiba e Colégio Militar de Porto Alegre. O Inep não divulgou o desempenho das escolas particulares para esta etapa da educação básica.
IDEB POR ESCOLA: Consulte o desempenho da sua escola ou das instituições do seu município, nos anos iniciais e finais do ensino fundamental e ensino médio
O desempenho das escolas foi disponibilizado um dia depois dos resultados de municípios e estados brasileiros, quando o MEC admitiu que nenhuma unidade da federação conseguiu alcançar a meta de qualidade para o ensino médio. A avaliação também mostrou que menos de 4 em cada 10 municípios atingiram a meta de melhora esperada para o 9º ano do ensino fundamental.
O Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) cruza os resultados das provas de português e matemática aplicadas a alunos de ensino fundamental e médio, de escolas públicas e privadas, com dados de aprovação das escolas.
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O que acontece no Ceará
Não é de hoje que as escolas cearenses são destaque. Os bons resultados começaram a surgir em 2007, com a implantação do PAIC (Programa Alfabetização na Idade Certa), durante o governo de Cid Gomes, irmão do candidato à presidência Ciro Gomes. O foco inicial era priorizar a alfabetização dos alunos até o final do 2º ano do Ensino Fundamental.
O programa trouxe resultados, principalmente nas taxas de alfabetização: em 2007, somente 39,9% das crianças cearenses concluíram o 2ª ano do Ensino Fundamental alfabetizadas. Agora, os números mais recentes do Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica do Ceará (Spaece) mostram que o percentual está próximo de 90%.
O investimento no PAIC em 2017 foi de R$ 52 milhões. Segundo o governo, esses valores são distribuídos em premiação às escolas e a professores com os melhores índices, avaliações dos estudantes, aquisição de material didático padrão aos estudantes, bolsas aos educadores e gestores e apoio logístico para viabilizar as formações dos profissionais.
Críticos ao sucesso do Ceará nas avaliações nacionais espalham notícias nas redes sociais de que algumas escolas do estado teriam se adaptado de modo a jogar com os rankings – de maneiras nem sempre lícitas. Por isso, só escolas do interior, dizem, aparecem entre as melhores.
Um indício disso seria a recente operação “Educação do Mal”, realizada pela Delegacia Municipal de Itapajé. Durante as investigações, que ainda não acabaram, servidores admitiram que adulteravam as notas de estudantes da Escola Municipal Padre Manoel de Lima para melhorar o Ideb.
Mesmo assim, apesar do abalo gerado pelas revelações em Itapajé, são raros os casos comprovados de uma manipulação dos rankings e avaliações.
Escolas militares
Polêmicas por manter uma disciplina rígida, que inclui a forma de se vestir e portar, as instituições de ensino militares também costumam estar entre as melhores nos rankings do Ideb. O diferencial das escolas militarizadas vai além do bom desempenho.
“O corpo docente é altamente qualificado”, disse o professor capitão Genivaldo Pavanelli, chefe da seção de supervisão escolar do Colégio Militar de Curitiba (CMC) , em entrevista para a Gazeta do Povo no começo do ano. Outro ponto importante, ressalta, no caso do CMC, modelo de outras instituições militares, é que a maioria dos professores dedicam sua docência exclusivamente ao Colégio. “Desta forma, o tempo de trabalho desses profissionais está voltado para a pesquisa, planejamento e execução da atividade docente”, explica.
De acordo com a psicóloga Virginia Maria Pereira de Melo, docente da Universidade Estadual de Goiás (UFG), o bom desempenho das unidades militares está ligado à estrutura das escolas. Isso inclui investimentos maiores, pessoal qualificado e engajamento dos pais, além de um corpo discente sem alunos da classe vulnerável.