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Tablóide

Eram os deuses astronautas

Todas as formaturas são mais ou menos a mesma coisa – cerimônias públicas de caráter privado. O aparato é de um rito de passagem – iniciado invariavelmente com o "Hino Nacional". Os que contêm o choro "às margens plácidas do Ipiranga" fatalmente vão estar num toró de lágrimas quando o protocolo chegar ao auge: a homenagem aos pais. É para eles que se dedica essa liturgia solene deliciosamente profanada por buzinaços e gritos vindos da platéia.

Pois ouça um bom conselho: não perca uma colação de grau por nada nesse mundo. Embora sejam mais ou menos iguais, a noite promete uma curiosa sessão de cinema, com os vídeos da turma. Os filmes são divertidos. Quando não, um troco bem-dado, feito o da aluna que aproveitou as câmeras para fazer chegar, a uma platéia de lencinho na mão, o seu bombástico "fui enganada". Depois do desabafo, T.F. prestou outros vestibular e foi feliz para sempre.

Mas o melhor fica para as produções que mesclam cenas de esbórnia universitária com fotos do álbum de família. Além de revelar que muitas das moças são loiras de verdade (a não ser que pintassem o cabelo com 6 anos de idade), essas montagens vêm acompanhadas de balões de HQs revelando o que cada um dos pimpolhos pensava fazer quando crescesse.

Numa formatura recente, entre os mais de 40 jovens de borla, cerca de 25% um dia desejaram ser astronautas. Epa! Embarcar numa nave espacial era o sonho besta da molecada que em 1969 ficou olhando para o céu, tentando ver a bandeirinha dos EUA lá em cima, na Lua. Que raios aquela turma nascida na década de 80, que no máximo desejou "ir à estrelas fazer xixi", pensava em fazer fora de órbita? Procurar a cadela Laika é que não era.

Melhor formular hipóteses. Uma delas é a de que ser astronauta ainda é uma boa tradução de viver perigosamente. Criança sabe o que quer. Outra possibilidade é que, vista de longe, a Terra poderia ser entendida. Foi para isso, em última análise, que aquele bando de becados barulhentos chegou até ali. Entre eles, há sempre quem se sinta enganado, como T.F – que estudou e não "chegou à Lua", como esperava. É triste. Mas pior que isso, só ficar sabendo que, numa formatura qualquer, nenhum dos diplomados revele ter desejado, um dia, ser astronauta. Será mau sinal. Se acontecer, pára o mundo que eu quero descer.

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