Mais norte-americanos do que nunca são céticos sobre a integridade e o valor da educação universitária. Não é por acaso. As universidades de hoje estão traindo sua missão e a corrupção se aprofunda a cada ano. Os campos científicos, especialmente quando uma pesquisa discorre sobre questões de sexualidade e políticas públicas, estão sendo submetidos ao projeto político e cultural da esquerda.
Consideremos o seguinte caso. Em 2014, o professor Mark Hatzenbuehler, sociólogo médico da Universidade de Columbia, foi o autor principal de um artigo científico intitulado “Estigma estrutural e mortalidade total em populações de minorias sexuais”, publicado na revista Social Science & Medicine. O estudo começou com a observação de que minorias sexuais, como homossexuais, têm uma expectativa de vida significativamente menor (doze anos, em média) do que o resto da população. Hatzenbuehler e seus coautores argumentaram que a menor expectativa de vida para as minorias sexuais ocorre porque elas vivem em comunidades com altos níveis de preconceito contra gays.
Este trabalho foi divulgado em importantes meios de comunicação. Foi citado com destaque em um relatório de um amicus curiae no caso Masterpiece Cakeshop vs. Comissão de Direitos Civis do Colorado como parte do “grande e crescente corpo de evidências que mostra que condições sociais discriminatórias têm graves impactos negativos na saúde de pessoas LGBTQ”. Os advogados aproveitaram esse estudo supostamente científico para mostrar que o preconceito, entendido como pensar diferentemente e agir de acordo com isso, causa graves danos às minorias sexuais. Portanto, concluíram, estados como o Colorado estavam certos em reprimir o confeiteiro cristão.
O sociólogo Mark Regnerus, contudo, achou que esse estudo não resistiria a uma análise mais cuidadosa. Ele procurou replicar os resultados do estudo de Hatzenbuehler, mas, mesmo usando uma variedade de métodos, isso não foi possível, e sua crítica devastadora, intitulada "O efeito do estigma estrutural na mortalidade das minorias sexuais é robusto?", foi publicada no mesmo periódico em novembro de 2016. Mais de um ano depois, Social Science & Medicine emitiu primeiro uma “errata” e depois, ainda mais tarde, uma retração total do estudo original.
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Revisão por pares e retratações
A revisão por pares no sistema duplo-cego é o “padrão ouro” no âmbito da publicação acadêmica. Na revisão realizada nesse sistema, os revisores não sabem quem escreveu o artigo, e o autor não sabe quem irá revisá-lo. O fato de o estudo de Hatzenbuehler ter passado pelo processo de revisão por pares é em si um crime contra a honestidade acadêmica. Suas medições quantitativas de preconceito foram inconstantes e subjetivas, e seus principais conceitos ficaram inexplicados. Os autores tomaram decisões questionáveis, sempre em favor de exagerar a presença e a influência do “estigma social”. Uma vez corrigida, a influência do estigma social diminuiu na análise estatística. É difícil saber como o artigo poderia ter sobrevivido a uma análise minimamente crítica no processo de revisão.
Mas não vamos ignorar a descoberta mais perturbadora: que homens que fazem sexo com homens vivem doze anos menos do que os que não fazem. Esse resultado espelha o de outros estudos conduzidos na Colúmbia Britânica (que observa uma diferença de oito a vinte anos) e na Dinamarca (que observa uma diferença menor, de quatro a doze anos). O artigo “Disparidades na saúde de gays e lésbicas: evidências e recomendações”, de M. Ryan Baker, publicado em uma edição de 2008 do Journal of Health Disparities Research and Practice, chegou a resultados semelhantes. Para se ter um ponto de comparação, o tabagismo diminui a expectativa de vida em apenas dez anos.
Por que a expectativa de vida entre gays é menor que a do resto da população? Um olhar para a literatura circundante sugere que o processo de revisão por pares nesse caso, como em tantos outros, foi um caso típico de dizer aos pares o que eles querem ouvir, tanto na afirmação sobre a expectativa de vida quanto na resposta ao desejo profundo de justificar seus preconceitos contra a suposta discriminação. Os pares acreditaram que apenas a homofobia poderia ser a causa dessa disparidade surpreendentemente alta.
O trabalho crítico de Regnerus levou à retratação. Retratações ocorrem na revista Social Science & Medicine quando há “infração de códigos de ética profissional, como submissão múltipla, alegações falsas de autoria, plágio, uso fraudulento de dados ou algo semelhante”. Nesse caso, os autores e editores demonstraram acreditar que houve um uso errôneo, não propriamente fraudulento, dos dados. O grupo de fiscalização online Retraction Watch faz uma descrição pormenorizada do caso, incluindo alguns comentários simpáticos sobre as boas intenções dos autores por parte de Mark Regnerus.
Mas nem todos os acadêmicos têm boas intenções. Um estudo de 2015 publicado na Science por Michael LaCour, da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), e Donald Green, da Universidade de Columbia, inicialmente divulgado como pioneiro, também gerou uma retratação por não fornecer dados capazes de comprovar suas afirmações e capazes de serem reproduzidos. O estudo pretendia demonstrar que militantes políticos que fazem visitas de porta em porta, se forem homossexuais, podem influenciar os votantes favoravelmente à posição pró-casamento entre pessoas do mesmo sexo pelo desenvolvimento de empatia através do contato pessoal.
Um artigo de resposta publicado em 2017 na Contraception também causou uma retratação. O estudo original, publicado por Elard Koch e outros, descobriu que a saúde materna melhora com “leis de aborto menos permissivas”. A resposta que veio a ser publicada, supostamente destinada a “exigir mais rigor na pesquisa”, mais tarde demonstrou conter inúmeros erros, incluindo uma simples confusão de um sinal de adição por um de subtração, o que distorceu os resultados para que parecesse que leis de aborto mais permissivas contribuem para a saúde materna. Ops! A conclusão original, de que leis de aborto menos permissivas contribuem para a saúde materna, foi confirmada.
Por um lado mais cômico, vários provocadores acadêmicos inventaram histórias falsas que se encaixavam na linha politicamente correta da esquerda. Três estudos fake ganharam publicação em periódicos revisados por pares. Um deles, “Reações humanas à cultura de estupro e performatividade queer em parques urbanos para cães em Portland, Oregon” foi publicado na revista Gender, Place & Culture em maio de 2018, argumentando que os parques para cães eram uma grande fonte da cultura de estupro nos Estados Unidos. Uma retratação foi publicada quando o embuste se tornou amplamente conhecido.
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Tais retratações e a profunda corrupção que revelam demonstram claramente que muitos acadêmicos em posições de influência se dobram à visão dominante da política identitária.
A lista da esquerda
Quão disseminado é esse problema? Não há como saber exatamente. É possível, parafraseando Michael Kinsley, que o escândalo não sejam os artigos que sofrem retratação, mas os que passam despercebidos como se fossem ciência social. Estudos mostram que a revisão por pares é “inquietantemente inconsistente”. O processo de revisão por pares pode expor erros metodológicos, mas somente quando os pares estão predispostos a serem curiosos e críticos sobre as metodologias empregadas. À medida que a classe dos professores se torna mais autoritária em seu zelo de explicar tudo como causado por discriminação, o processo de revisão por pares está fadado a agonizar – e de fato agoniza. Muitos artigos revisados por pares são baseados em dados duvidosos e facilmente manipuláveis. Em geral, qualquer resultado merece publicação, contanto que confirme os preconceitos acadêmicos.
Certamente muitas metodologias empregadas nas ciências sociais estão abertas a esse tipo de manipulação, mas a adesão à política identitária impede que os acadêmicos da área, que em outros contextos podem ser bastante céticos, percebam esse fato.
A mesma manipulação metodológica ocorre em relação a taxas de suicídio, em que a pesquisa acadêmica se baseia em estimativas de estimativas. Ninguém realmente conta o número de suicídios em Utah, por exemplo, e identifica quantos desses indivíduos eram homossexuais. Tampouco sabemos com o mínimo grau de certeza quem tentou se suicidar. A taxa de minorias sexuais é simplesmente suposta dentro da taxa de suicídio. Apesar desses problemas, um artigo no Journal of Homosexuality contém oito páginas de referências, quase todas argumentando ou sugerindo que legislação antibullying, extensões de direitos civis e outras reformas são essenciais para acabar com o flagelo da discriminação, que (estimativas mostram!) persiste. Soa como se a ciência comprovasse a agenda política da esquerda. Ou pelo menos essa é a conclusão esperada.
Pelo menos políticas públicas não devem se basear nesse tipo de suposição mal sustentada. É de um simplismo risível pensar que taxas de mortalidade, taxas de suicídio ou qualquer outro fenômeno social seja causado predominantemente por um único fator. Do ponto de vista das ciências sociais, todo fator complexo tem muitas causas. Os acadêmicos da área podem concordar com essa complexidade em abstrato, mas esquecem-se dela quando seus resultados tocam nos princípios sagrados da política identitária.
O fato de que muitos desses estudos são publicados por periódicos revisados por pares, enquanto outros esforços para de fato contar as mortes entre minorias sexuais são ridicularizados como desumanos e não científicos, faz parte do escândalo. Vários cientistas sociais de destaque, incluindo os fundadores da plataforma Quillette, começaram a tornar públicos os preconceitos e patologias endêmicas à universidade moderna. Todo dia é possível se servir de um prato cheio de preconceito universitário.
Trabalhos bons e interessantes ainda são feitos nas ciências sociais. Mas quanto mais próximas as questões pesquisadas estiverem do âmago da política identitária, mais difícil será receber um tratamento honesto. Por outro lado, quanto mais próximos os resultados estiverem da ortodoxia dominante na academia, mais fácil será para o autor vê-los impressos e desfrutar de melhores perspectivas de emprego.
Somente a diversidade de pensamento pode salvar a universidade de si mesma, mas essa é uma qualidade em falta. Os estudos confirmam!
*Scott Yenor é professor de Ciência Política na Boise State University.
Tradução de Alexandre Siloto Assine.
©2019 Public Discourse. Publicado com permissão. Original em inglês.
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