Em um prédio, meninas e professoras. No outro, meninos e professores. É assim que a Escola do Bosque, em Curitiba, separa seus estudantes dos ensinos fundamental e médio. O método de educação single-sex (ou sexo único, em tradução livre) faz parte da chamada educação personalizada. A escola (“do Bosque” para os meninos e “do Bosque Mananciais” para as meninas) foi fundada em 2010.
Defensores do método garantem que ele não é retrógrado ou conservador, tal qual eram as divisões por sexo praticadas até o início do século 20, por colégios religiosos e laicos. O objetivo básico “é atender às diferenças, respeitando as igualdades entre meninos e meninas, mas atendendo à peculiaridade que têm na forma de aprender e se relacionar”, explica a educadora María Elisabeth Vierheller. Vice-presidente da Associación Latinoamericana de Centros de Educación Diferenciada (Alced Argentina), ela esteve em Curitiba em outubro, no 5.º Congresso Latino Americano de Educação Single-Sex.
Entre as diferenças a serem reconhecidas e trabalhadas na prática pedagógica, os especialistas argumentam que os meninos teriam o hemisfério esquerdo do cérebro, ligado ao pensamento lógico, mais desenvolvido; as meninas, por sua vez, o lado direito, ligado à criatividade.
Assim, sem mexer no currículo – que é igual para ambos –, uma aula de Matemática pode exigir mais movimentação em sala de aula na turma dos rapazes, enquanto para as garotas talvez o modo o ideal de apresentar o conteúdo seja com ênfase na explicação verbal. A divisão dos docentes respeitando as características de cada sexo também facilitaria a conexão com os alunos.
Estereótipos
Livre docente da Universidade de São Paulo (USP) e estudiosa do gênero no âmbito escolar, Marília Pinto de Carvalho considera que há um problema de origem em separar alunos e alunas, por pressupor que as diferenças entre gêneros são “indiscutíveis e inevitáveis”.
“Desde muito cedo meninas e meninos são estimulados de formas diferentes e é possível que isso gere formas diferentes de como se apropriam do mundo e do saber. Resta saber se queremos perpetuar essas diferenças”, argumenta.
Estudiosa de práticas pedagógicas, a argentina Gabriela Galindez reconhece que o modelo single-sex objetiva “reforçar a masculinidade e a feminilidade” dos alunos. Mas ressalva que isso não significa “atacar nenhum sexo”.
Para María Elisabeth Vierheller, a separação não reforça estereótipo. Na sala single, argumenta, é mais provável que uma menina se sinta à vontade para estudar matemática ou que um menino goste de poesias de amor. É uma forma de incentivar a multiplicidade de masculinidades e feminilidades, defende.