Apoio de pais e de professores faz a diferença
Jorge Olavo
Situada em área rural, a escola paranaense Imaculada Conceição de Maria, da rede municipal de Rebouças, no Sudeste do estado, é a única da Região Sul do país na lista das 82 instituições que oferecem ensino de qualidade a alunos em situação de extrema pobreza. Com nota 6,4 no Ideb de 2009, a escola antecipou em uma década a meta de 6,3 pontos traçada para o município em 2019. "Ter apenas uma escola do Sul não é nenhum aspecto negativo. Esse tipo de escola que pesquisamos tem mais incidência no Norte e no Nordeste", explica o economista Ernesto Faria, autor do estudo.
O bom desempenho da escola é creditado pela diretora da instituição, Elismara Gempka, ao envolvimento de toda a equipe pedagógica, à proximidade entre professores e famílias dos estudantes e à preocupação dos pais com o desenvolvimento dos filhos. "O mérito está no esforço de cada professor e na união de todos. Apesar de ser uma região pobre, as famílias têm estrutura e passam valores às crianças", afirma.
Baixo rendimento escolar, faltas excessivas, mau comportamento e déficit de atenção são situações acompanhadas de perto pelos professores, que trabalham com reforço escolar em contraturno sempre que necessário. Hoje, a escola atende 115 crianças de 4 a 10 anos de cinco comunidades rurais da região.
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O Brasil ainda está distante da meta de garantir a toda criança um ensino de qualidade, mas há, dentre as mais de 40 mil escolas públicas do país, um pequeno grupo que se destaca pela excelência. São colégios que, além de figurar entre as primeiras posições de rankings educacionais, conseguem atender alunos de baixíssima renda e deixá-los com indicadores de qualidade compatíveis aos de nações desenvolvidas.
Um levantamento feito pelo economista Ernesto Martins Faria, da Fundação Lemann, em parceria com o jornal O Globo, mostra que há no país 82 estabelecimentos públicos que mesmo atendendo alunos que se encontram entre os 25% mais pobres do Brasil conseguem atingir no Ideb, principal avaliação federal de qualidade do ensino, média igual ou superior a 6 na primeira etapa do ensino fundamental (1.º a 5.º ano). A nota é considerada pelo Ministério da Educação (MEC) como o patamar de países de primeiro mundo.
Para identificar esse grupo de escolas, Faria calculou um indicador do nível socioeconômico de cada estabelecimento. As 43.574 escolas públicas para as quais foi possível fazer o cálculo foram ranqueadas por dois critérios: 1) de acordo com o nível de pobreza dos estudantes e 2) pelo desempenho no Ideb. Do confronto entre os dois rankings, destacam-se colégios que ganham mais de 40 mil posições. Ou seja, trabalham com os alunos da rabeira do ranking de pobreza, mas levam-nos ao topo do aprendizado.
Acaso?
Nas estatísticas e em visitas a localidades improváveis como o interior amazonense, a periferia de Alagoas ou o sertão do Ceará foi possível identificar que o bom resultado não é fruto do acaso. Nessas escolas, é notável o esforço da direção e dos professores em não deixar que nenhum aluno fique para trás e de corrigir as deficiências na aprendizagem e os problemas de frequência assim que eles são detectados.
Estudos no mundo inteiro têm comprovado que o nível socioeconômico dos pais é o que mais influencia o aprendizado. Ao comparar as características das 82 escolas, Faria identificou que essas instituições conseguem cumprir uma parte muito maior do currículo previsto. Nelas, os professores relatam em maior proporção que se sentem motivados pelo diretor e que há um clima de colaboração na equipe. Os problemas de indisciplina são muito menores e há, por fim, maior zelo na tarefa de não deixar que alunos evadam ou comecem a faltar às aulas.
Para o diretor-executivo da Fundação Lemann, Denis Mizne, mesmo sendo raras, essas escolas demonstram que é possível dar um ensino de qualidade para crianças mais pobres. "Precisamos escolher se vamos tratar a educação pública como ferramenta que mantém as desigualdades ou que ajuda a compensá-las. O exemplo dessas escolas prova que isso é possível", afirma Mizne.
Ser possível, no entanto, não significa ser simples. Para o pesquisador Francisco Soares, da Universidade Federal de Minas Gerais, autor de vários estudos sobre escolas eficazes, a dificuldade enfrentada por colégios com alunos de baixo nível socioeconômico é que, além da desvantagem por atender filhos de pais menos escolarizados, essa condição vem às vezes associada a problemas como a violência dentro e fora de casa.
Rede de ensino
Cidade cearense tem 27 instituições com bom desempenho
A cidade sertaneja de Sobral (CE) se destaca por ter a rede escolar municipal com o melhor Ideb do Nordeste. Além disso, das 82 escolas do país que contornam a pobreza e garantem aprendizado de primeiro mundo aos alunos, 27 são de lá. Esse dado mostra que a oferta de uma educação de qualidade não se restringe a casos isolados. É possível que isso ocorra em um grupo inteiro de escolas.
A partir da adoção de uma série de políticas públicas, o município conseguiu zerar o índice de evasão escolar, praticamente acabar com a defasagem idade-série e fazer o porcentual de crianças que não sabiam ler e escrever cair de 48% para 3%. A uniformidade nos resultados da rede pode ser vista até em escolas rurais, que costumam ter, em todo o país, indicadores educacionais muito piores.
Investimento
Segundo o secretário municipal de Educação, Júlio César Alexandre, não são os recursos que explicam o bom resultado de Sobral. O município destina ao setor 26% de suas receitas, um ponto porcentual acima do mínimo constitucional. Além de abolir as indicações políticas para cargos de direção, o município se esforçou para acabar com salas multisseriadas, oferecer qualificação aos professores que têm reajuste salarial 5% superior ao das demais categorias e reconheceu financeiramente os docentes com turmas que se destacam em avaliações mensais.
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