Um levantamento feito pela Secretaria Municipal de Educação mostrou que, no ano passado, 821 alunos de 20 escolas abandonaram os estudos no Rio de Janeiro. Essas unidades ficam em áreas de risco, e, em 2016, estiveram entre as que mais suspenderam aulas por conta de situações de violência.
A Mário Piragibe, no bairro Anchieta, na Zona Norte do Rio, aparece no topo da lista de evasão: 152 estudantes se desligaram. Em segundo lugar está o Ciep Samora Machel, localizado na Maré, com 106 casos. A terceira posição é ocupada pela Jornalista e Escritor Daniel Piza, em Acari, onde Maria Eduarda Alves Ferreira, de 13 anos, morreu ao ser atingida, no dia 30 de março, por tiros que partiram de um confronto entre PMs e traficantes.
No ano passado, de acordo com a secretaria, 76 estudantes deixaram a Escola Municipal Daniel Piza. Em 2015, foram 49 - ou seja, houve um aumento de 55% na evasão de alunos. A unidade está localizada a uma pequena distância do Complexo da Pedreira, conjunto de favelas no qual tiroteios são frequentes.
“A situação em alguns colégios do município ficou insustentável. Não há como trabalhar ou estudar. O perigo é grande para professores, alunos, funcionários de apoio e pais; ninguém está em segurança. Estamos solicitando à Secretaria estadual de Segurança a realização de uma audiência sobre o problema. Queremos que incursões policiais não sejam realizadas perto das unidades durante o horário escolar. Nada justifica uma operação que coloque a comunidade escolar em situação de risco”, firmou Marta Moraes, diretora do Sindicato dos Profissionais de Educação (Sepe).
Nesta quinta-feira (18), cerca de 3 mil estudantes ficaram sem aulas devido a tiroteios: escolas da rede municipal fecharam as portas na Cidade de Deus (em Jacarepaguá), no Morro São João (no Engenho Novo), em Manguinhos e em Vigário Geral. Na quarta-feira, 20 colégios suspenderam suas atividades pelo mesmo motivo, o que afetou a rotina de 5 mil alunos. A onda de violência levou o secretário de Educação, Cesar Benjamin, a planejar uma manifestação pela paz em vários colégios.
“Comecei uma série de conversas com os 1.500 diretores da rede. Só estou despachando na secretaria à noite. Nas reuniões, traçamos caminhos que incluem a mobilização da comunidade escolar contra as desastradas, espalhafatosas e inúteis incursões policiais. Vamos lutar pela proteção da vida”, disse Benjamin.
Esta semana, o secretário participou de uma reunião com 25 professoras e funcionárias de creches e escolas do Complexo do Lins. Desde o início do ano letivo, seis unidades municipais da região tiveram atividades interrompidas devido a tiroteios, o que prejudicou 1.336 estudantes. Benjamin já havia conversado sobre o mesmo problema com funcionários de unidades dos complexos da Maré, de Manguinhos e do Alemão.
Ao todo, este ano, 318 escolas (o correspondente a 20% da rede municipal, que conta com 1.537 unidades) tiveram aulas suspensas por causa da violência. Aproximadamente 100 mil alunos foram afetados por essas paralisações. Na Mário Piragibe, o clima de medo que tanto afetou a vida de professores e alunos em 2016 parece estar longe de chegar ao fim.
“Já fechamos cinco vezes este ano. É uma situação muito triste”, lamentou uma funcionária da escola, que é vizinha do Complexo do Chapadão e tem cerca de 800 alunos do 2º ao 9º ano do ensino fundamental.
Primeira colocada no ranking de evasão escolar no Rio de Janeiro em 2016, a Escola Municipal Mário Piragibe sofre com um processo de expansão do tráfico de drogas na região. A unidade fica perto das comunidades Final Feliz e Pedra Rasa, que, segundo um grupo de pais de alunos, viraram "filiais do Chapadão". O clima de medo é permanente: pelo menos três ruas próximas ao colégio - Aramari, Coronel Queiroz e Tomás Edson - têm barricadas.
Moradores do entorno da escola evitam conversar com repórteres, com medo de represálias do tráfico. Os pouco que se dispõem a falar reclamam de operações de PMs, que sempre são recebidos a tiros.
Este ano, a 6ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE) alterou a rotina da Mário Piragibe. Até 2016, a escola funcionava em dois turnos, de manhã e à tarde. Agora, tem apenas o primeiro turno, o que, consequentemente, provocou uma redução de seu número de alunos.
No final da Rua Iguaba Grande, na Pavuna, na parte baixa do Morro do Chapadão, há uma outra barricada montada por traficantes. Ela fica exatamente em frente à Escola Municipal Levy Miranda, que também passou a funcionar em turno único este ano. Às quintas-feiras, os alunos são liberados mais cedo, por falta de professores - de acordo com pais de estudantes, não há interessados em trabalhar na unidade.
“Não é possível deixar a criançada à toa no pátio. Prefiro pegar meu filho e levá-lo para casa, onde o risco de acontecer uma tragédia é menor. Gosto da escola, mas, infelizmente, tem esse problema da violência”, comentou a mãe de um aluno.
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