O ensino médio mudou, mas vai demorar pelo menos dois anos para que os estudantes das escolas particulares percebam alguma diferença nas aulas e no material didático. O motivo principal é a espera da aprovação do novo currículo pelo Ministério da Educação (MEC), do qual dependerá 60% da carga horária desses três ou quatro anos. Além disso, as escolas terão de enfrentar um quebra-cabeça para reorganizar a infraestrutura das escolas e o material didático de acordo com os cinco modelos de ensino médio diferentes que estão chamadas a oferecer.
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É possível imaginar o tamanho da alteração. Hoje, os alunos têm um currículo mínimo, aplicado em todas as escolas, com professores para cada uma das 13 disciplinas. Como a lei prevê agora que o aluno terá de escolher uma de cinco áreas para se aprofundar no segundo e terceiro anos (40% do total do ensino médio) – Linguagens, Ciências da Natureza, Ciências Humanas, Matemática e Formação técnica e profissional -, as escolas que se disponham a oferecer todos esses ‘itinerários formativos’, como diz a lei, deverão pensar em equipes e infraestrutura direcionadas para cada um deles.
“A estrutura da escola vai mudar, será necessário mais laboratórios, mais investimentos, e isso já está sendo analisado pelas escolas”, afirma Esther Cristina Pereira, presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino Superior do Paraná (Sinepe).
Com isso, não nega o Sinepe, os custos para as famílias devem aumentar. “O governo também terá de investir mais na rede pública para conseguir o resultado que propõe, para ter uma educação de qualidade. O ganho esperado dessas mudanças é que os jovens não desistam mais do ensino médio, como ocorre hoje, porque ele oferecerá disciplinas de acordo com os seus gostos e afinidades, como acontece na Alemanha e em outros países”, continua.
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Nesse cenário, as grandes redes particulares de ensino acreditam que terão mais facilidade para oferecer todos ou a maior parte dos itinerários formativos em relação às pequenas escolas, graças a parcerias com instituição de ensino superior. As pequenas escolas, para sobreviver no mercado, provavelmente terão de focar em alguma das áreas para oferecer excelência nesse segmento específico.
Mesmo assim, as instituições de ensino estão fazendo levantamentos com os alunos e no mercado para perceber se haverá público para todas as cinco ênfases. “No Grupo Marista, por exemplo, temos diferentes modalidades de pesquisas, um núcleo de inteligência interno, alguns parceiros externos e outros meios. Essas pesquisas escutam os alunos e suas famílias para poder corresponder às suas demandas”, explica Vanderlei dos Santos, diretor-geral da Rede de Colégios Maristas.
Os cursos técnicos, nesse conjunto, não devem ser de interesse imediato das famílias dos estudantes na rede particular de ensino. “O público que atendemos acaba não buscando o ensino técnico. São famílias e alunos que focam no ensino superior e querem passar no vestibular ou estudar no exterior”, considera Paulinho Vogel, diretor-geral do Grupo Dom Bosco.
“Se continuar o Enem genérico, o aluno no terceiro ano, que estará se aprofundado apenas em uma determinada área do conhecimento, terá de recuperar o conteúdo estudado no começo do ensino médio, o que pode ser mais difícil para ele”.
A exigência da lei de aumentar a carga horária para tempo integral não deve ser um obstáculo na maior parte dos colégios da rede particular de ensino, pois vários deles já oferecem aulas no contraturno.
Materiais didáticos
Os materiais didáticos também deverão ser revistos para oferecer o conteúdo adequado para cada um dos caminhos escolhidos pelo aluno, linguagens, matemática, ciências da natureza, ciências humanas ou cursos técnicos. Tanto as editoras quanto os responsáveis pelos sistemas de ensino, aqueles que oferecem as apostilas didáticas e treinamento para professores, já estão em fase de contratação de autores e modelação do novo material.
“A ideia é que tenhamos essas opções [materiais didáticos próprios para cada uma das cinco ênfases] ao longo do tempo”, explica João Puglisi, gerente editorial do Sistema Poliedro. Ele frisa, no entanto, que as redes de ensino particular dificilmente vão deixar de incluir outros temas não contemplados na Base Nacional Curricular Comum (BNCC), o currículo comum a ser aprovado pelo governo em abril. “Do contrário ficará muito específico e os alunos não estarão bem preparados caso decidam mudar de área no terceiro ano”, exemplifica.
Como será a preparação para o Enem e vestibulares
Assim que terminar a discussão sobre qual será o currículo comum a ser cobrado no ensino médio e começar a sua implantação, os olhos estarão voltados para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e para o conteúdo que será cobrado nos vestibulares das principais universidades do país. Hoje, o Enem é o principal meio de entrada em muitas instituições de ensino superior e, por isso, nenhum colégio da rede particular deixará de tentar preparar os seus alunos para ter uma excelente performance na prova. O mesmo pode se dizer em relação aos principais vestibulares no país.
A tendência é que a rede particular de ensino não deixe de dar, de alguma forma, todas as disciplinas nos três anos.
No caso do Enem, ainda não se sabe exatamente como será o seu novo formato em 2019. Serão incluídas apenas as disciplinas comuns, português, matemática e inglês? Ou continuará a ser uma prova com todas as áreas do conhecimento, linguagens, matemática, ciências da natureza e ciências humanas, além da redação?
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“Se continuar o Enem genérico, o aluno no terceiro ano, que estará se aprofundado apenas em uma determinada área do conhecimento, terá de recuperar o conteúdo estudado no começo do ensino médio, o que pode ser mais difícil para ele”, analisa Celso Hartmann, diretor-geral do Colégio Positivo.
Ele afirma que, para fugir desse perigo e preparar os estudantes para vestibulares que, pela sua tradição, continuarão a cobrar todas as matérias, a tendência é que a rede particular não deixe de dar, de alguma forma, todas as disciplinas nos três anos. As outras empresas vinculadas à rede particular concordam com esse ponto de vista. “Em São Paulo, por exemplo, os estudantes têm interesse principalmente por quatro universidades, USP, Unicamp, Unifesp e Unesp. Por isso, não podemos olhar só para o Enem”, acrescenta João Puglisi, gerente editorial do Sistema Poliedro.
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