Observar, questionar, analisar e criar são partes de todo processo de inovação, do meio científico e tecnológico ao campo das artes. No Renascimento, grandes pensadores como Leonardo Da Vinci e Galileu transitavam entre arte, ciência, matemática e filosofia. Sem a separação das áreas pela educação formal, que aconteceria nos séculos seguintes, o conhecimento não era classificado em “gavetas” como hoje. Hoje, um movimento busca unir novamente as áreas de ciência, engenharia, tecnologia e matemática – o chamado STEM, na sigla em inglês – com as artes.
O novo grupo, denominado STEAM (Science, Technology, Engineering, Arts and Mathematics) busca modificar a estrutura de ensino tradicional dessas áreas para resgatar o processo de inovação multidisciplinar.
“Parece que, mesmo nos tempos contemporâneos, aqueles que estão à frente das inovações têm unido as práticas de ciência e arte”, explica Kate Normington, professora da Royal Holloway University of London, em artigo sobre a convergência entre arte e ciência. “Ganhadores do Prêmio Nobel em áreas da ciência tem 17 vezes mais chances de serem pintores, quando comparados a cientistas comuns; 12 vezes mais chances de serem poetas e quatro vezes mais chances de serem musicistas.”
A ideia por trás do movimento STEAM não é tirar tempo dedicado ao ensino de ciências e matemática e transferir para artes. Pelo contrário, é aproveitar o pensamento criativo que é característico do ensino de artes e aplicá-lo também ao ensino das outras áreas.
Ponto de convergência
No Reino Unido, a National Society for Education in Art and Design (NSEAD), instituição voltada para a educação artística no ensino básico, recomenda a convergência entre as áreas no ensino. “Escolas devem promover e fortalecer ativamente as conexões com outras disciplinas para construir o valor da contribuição de arte e design nas disciplinas de STEM.”
A Rhode Island School of Design (RISD), nos Estados Unidos, oferece um currículo baseado em uma junção das cinco áreas. O objetivo, segundo a instituição, é incentivar os processos de pesquisa, observação e análise que são compartilhados tanto por cientistas quanto por artistas. Como parte da inovação, a RISD lançou o site StemtoSteam.org, voltado para a difusão de informações e inovações no movimento STEAM.
“A demanda por recursos em STEAM aumentou nos últimos anos, com os professores reconhecendo a importância de incorporar o pensamento criativo e o aprendizado visual nas suas aulas”, aponta Tracie Constantino, pró-reitora da RISD.
Essa demanda já está sendo atendida em outras fases do aprendizado. Nos EUA, o programa infantil Sesame Street anunciou uma mudança no seu formato, tradicionalmente voltado para conteúdos educacionais em ciências e matemática, que agora também incluirá artes.
“Incorporar as artes no nosso currículo de STEM foi uma adição empolgante e natural, já que o Sesame Street sempre usou música, visual e artes performáticas como ferramentas para educar e entreter as crianças”, disse Rosemarie Truglio, vice-presidente de Educação e Pesquisa no Sesame, para o site StemtoSteam.org.
O resultado dessa união entre as áreas é uma formação integral por meio do desenvolvimento do pensamento criativo e indagador que é parte do processo de investigação científica, além da possibilidade de despertar o interesse de estudantes com perfis diferentes daqueles associados tradicionalmente ao estudo de ciências e matemática.
“Anteriormente voltada para a formação acadêmica e estruturada sobre conteúdos específicos e fragmentados, o ensino dessa área, na perspectiva do STEAM, passa a ser considerado e compreendido pela integração entre as disciplinas que objetiva a formação integral do aluno”, apontam as pesquisadoras Mariana Peão Lorenzin e Alessandra Fernandes Bizerra.
Diferencial
O ensino multidisciplinar de STEAM pode ser um diferencial para as próximas tendências no mercado de trabalho. Segundo dados do Departamento de Educação dos Estados Unidos, o número de empregos relacionados a STEAM crescerá 14% até 2020 – 8% maior do que o estimado para as demais áreas de atuação.
O crescimento de áreas de formação e atuação voltadas para tecnologia contribui para essa demanda. Com o aumento do número de startups e demais empreendimentos entre os novos profissionais, cresce a necessidade de capital humano que possa transitar entre as demandas técnicas e criativas.
Esse conjunto de habilidades, afinal, são dois lados de uma mesma moeda. “É um caminho amplo que traz significado à aprendizagem. Com isso, a união das áreas impulsiona a inovação no momento em que permite ao aluno renovar suas experiências acadêmicas e desenvolver outras habilidades e competências que podem ser contempladas”, conclui Claudia Martins de Souza, coordenadora psicopedagógica do Colégio Marista Paranaense.
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