Da Medicina para a Engenharia
"Quando crescer, quero ser médico." Profissionais de muitas áreas tiveram esse sonho durante a infância. Com Anderson Prussak, 23 anos, não foi diferente. Ele chegou a ser aprovado em Medicina em outro estado. Sem poder ir para lá, fez um semestre de Odontologia em Curitiba. Não era pra ele. Foi aprovado em Engenharia Civil na Pontifícia Universidade Católica do Paraná e resolveu arriscar. Está no 7º período e não se arrepende. "É uma boa profissão, com amplas oportunidades em diversos setores públicos e privados. O mercado da Engenharia está muito bom e vai crescer pelo desenvolvimento econômico do Brasil e suas obras de infraestrutura", diz. O curso não é moleza, mas a facilidade que Anderson sempre teve com a Matemática foi uma ajuda e tanto e hoje ele também é professor do Curso Pré-Vestibular CREAÇÃO do CREA-PR/IEP-PR. "Gostar de Matemática ajudou a pesar na escolha e vejo o mesmo entre os meus colegas de curso", conta Prussak.
Falha no ensino básico faz aluno descartar área de Exatas
Por que a procura por cursos da área de Exatas é menor se existe a demanda do mercado? A resposta, dizem especialistas, está na própria formação dos profissionais.
"Em Exatas, os cursos mais complexos levam cinco, seis ou mais anos para serem concluídos e demandam investimento de estudo por parte do aluno. Não são cursos simples como os da área de Humanas, que sem dificuldade um estudante conclui em quatro anos", afirma Samantha Boehs, da UFPR.
Adriana Caldana, da USP, defende que a preferência por cursos de Humanas reflete um problema que aparece muito antes da graduação. "Vejo esse fenômeno relacionado com a falta de base no ensino de Matemática na primeira infância e no ensino fundamental. Quando [os alunos] chegam ao ensino médio, sentem muita dificuldade em pensar em uma carreira que exija cálculo, como a Engenharia", afirma.
Uma criança que não aprende Matemática na educação básica cresce acompanhada dessa dificuldade e chega à fase de escolha de carreira dizendo que não gosta da área de Exatas.
Solução
A solução para a falta de profissionais que o mercado precisa, aponta Adriana, é o investimento no ensino fundamental. "É preciso maior preparo dos professores da educação básica e novas tecnologias no ensino da Matemática", defende.
Escolha É preciso colocar na balança a afinidade e a demanda
Ao definir que carreira seguir, o jovem deve considerar a afinidade que ele tem com a área pretendida e a valorização que o mercado de trabalho dá à profissão. Hoje, segundo a psicóloga organizacional Samantha Martins Boehs, a maior parte dos estudantes escolhe o curso superior considerando as áreas com as quais mais se identifica. No entanto, ninguém deve ignorar as tendências do mercado de trabalho. "O número de alunos que abandonam os cursos no decorrer da graduação é muito alto e, se não desistem, passam a vida frustrados se a escolha for equivocada", conta. A opção bem-sucedida é resultado do equilíbrio entre o que o mercado solicita e o perfil e habilidades do estudante. "Se a opção foi pela afinidade, a pessoa pode ficar frustrada caso não seja valorizada pelo mercado. Se a escolha foi pelo que o mercado precisa, o profissional pode não conseguir atuar, pois tem pavor daquela área", diz.
Uma olhada rápida na lista dos cursos mais concorridos nos principais vestibulares do país revela que os estudantes têm preferência pelas Ciências Humanas, embora não seja novidade que o mercado tenha valorizado e buscado cada vez mais profissionais formados em cursos de Exatas. Na Universidade Federal do Paraná (UFPR), por exemplo, entre os dez cursos mais concorridos neste ano não há nenhuma Engenharia. No topo, ao lado de Medicina e Biomedicina, estão Arquitetura e Urbanismo, Comunicação Social, Direito, Design Gráfico e Psicologia.
O bom momento econômico do Brasil e a expansão que o país vive na área de infraestrutura faz com que o mercado recrute mais engenheiros e outros profissionais ligados às Exatas. Essa é a avaliação da psicóloga e doutora em Recursos Humanos Adriana Caldana, professora da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (USP).
"Além de considerar a demanda por engenheiros no país, por causa de eventos como Copa do Mundo e Olimpíadas, não podemos esquecer que somos um país voltado para a agricultura e o agronegócio. Muitos profissionais que trabalham nesses segmentos são ligados à área de Exatas", afirma Adriana.
A valorização das Ciências Exatas é comprovada pelo valor alto da remuneração e pela quantidade de oportunidades de emprego na área, conforme a psicóloga organizacional e mestre em Administração Samantha Martins Boehs, professora do Departamento de Administração Geral Aplicada da UFPR. "As Engenharias estão em alta pelo momento que o pais está passando. Houve um boom nos últimos quatro anos e o país ainda não tem profissional suficiente para atender essa demanda", diz.
Salários
No estudo "As Profissões e o Mercado de Trabalho Brasileiro entre 2000 e 2010", o economista Naercio Menezes Filho, do Centro de Políticas Públicas do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), relacionou a variação nos salários de diferentes profissões com o crescimento da oferta de profissionais ou demanda do mercado de trabalho. A conclusão é que carreiras com número de profissionais formados maior do que o mercado precisa tiveram maiores reduções salariais, como Turismo, Publicidade e Propaganda e Administração de Empresas.
Já as profissões que tiveram alta salarial são aquelas que não têm a demanda do mercado suprida, como Medicina, Engenharias e Economia. "Nessas profissões, a demanda está aumentando mais rapidamente que a oferta, ou seja, a sociedade está precisando de mais profissionais nessas áreas", explica Menezes Filho, em resposta por e-mail.
Desiludido com o Turismo
Hugo Harada / Gazeta do Povo
Em 2001, o empresário Felipe Fontana (foto), 30 anos, escolheu cursar Turismo por avaliar que se tratava de uma área promissora. Era um curso relativamente novo e, sem saber exatamente qual caminho seguir, Fontana fez estágios, trabalhou em hotéis e agências de intercâmbio, até abrir a própria agência.
Anos depois, desistiu da área e hoje administra um estacionamento. "Perdi o prazer da coisa e a remuneração não era das melhores. Se é empregado, não ganha muito bem; se é empresário, seus gastos são altíssimos", conta. Outro motivo que o desanimou foi o fato de que a formação não é pré-requisito para atuar na área. Além disso, com a internet, os clientes estão cada vez mais independentes e conseguem planejar uma viagem sem sair de casa.
"Se pudesse voltar atrás, com certeza faria outro curso, como Engenharia Civil. Se tivesse feito isso, provavelmente estaria trabalhando na área, pois ela é muito abrangente e a remuneração é boa", diz.
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