A Copa do Mundo foi, durante décadas, o período em que o patriotismo brasileiro ficava mais evidente, mas especialistas da área de Ciências Humanas têm destacado aquilo que já é perceptível nas ruas. O ânimo para o Mundial está menor, as ruas estão menos verde-e-amarelas e milhares de torcedores parecem sentir certo constrangimento em se entregar à euforia do futebol. Grande parte dessa mudança se deve aos desperdícios e à desorganização nos preparativos do evento, mas há quem diga que a alteração do sentimento patriótico não deve se limitar a esta Copa e veio para ficar.
Conforme explica a antropóloga e professora do curso de Direito da UniBrasil Laura Jane Both, o patriotismo é uma marcação de identidade, um sentimento que estimula o indivíduo a se identificar com determinado grupo para se diferenciar de outros. O que vem ocorrendo no Brasil, segundo ela, é o fato de que por muito tempo o país foi identificado com determinados elementos culturais que parecem não satisfazer mais a imagem que o povo quer ter de si mesmo.
"Queremos ser vistos de outro jeito. Queremos fixar outros elementos com a nossa identidade. Talvez por isso muitos estejam mais felizes por colocarem um cientista mostrando seu invento na abertura dos jogos do que apenas mais uma apresentação de samba", diz a professora, referindo-se ao doutor Miguel Nicolelis e seu exoesqueleto capaz de fazer paraplégicos andarem.
Mudança
Assim, se há pouco tempo o patriotismo brasileiro era criticado por durar apenas no mês da Copa, o aparente enfraquecimento do entusiasmo pelo Mundial pode significar um amadurecimento diante de preocupações sociais. "Se você compara o Brasil com nossos vizinhos argentinos, por exemplo, eles sempre foram muito mais dados aos protestos por melhores condições de vida em seu país do que nós. Estamos aprendendo, do ano passado para cá", diz o psicólogo e doutor em Educação Raymundo de Lima, da UEM.
Essa nova realidade também é vista com bons olhos pelo professor Lindomar Boneti, do curso de Sociologia da PUCPR. Para ele, quando o patriotismo não inclui autocrítica, acaba por alienar a população. "É quando percebemos nossas fragilidades que expressamos um patriotismo realmente saudável", diz o professor.