| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

Educação não é brincadeira. O desenvolvimento de um país depende da qualidade do ensino, principalmente na infância. Nos últimos anos, nações como o Brasil amargaram resultados pífios nas avaliações nacionais e internacionais – e as crises decorrentes desse cenário. As causas para isso são complexas, mas incluem falhas na formação dos professores. No evento Educação 360, que reuniu especialistas em educação, Emiliana Vegas, chefe da Divisão de Educação do Banco Interamericano de Desenvolvimento, citou uma série de medidas que transformaram sistemas de educação em todo o mundo. Entre elas, está a valorização dos professores e, ao mesmo tempo, a adoção de mecanismos para criar uma cultura de excelência. Em entrevista à Gazeta do Povo por e-mail, Emiliana explicou algumas dessas ideias.

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Quais deveriam ser as primeiras medidas para resolver os problemas educacionais dos países com baixos resultados em avaliações internacionais, como o Pisa?

Sabemos que os países com bons resultados no Pisa compartilham certas políticas. Em particular, podemos citar cinco delas. Primeiro, fixam metas de aprendizagem que guiam o funcionamento do sistema educativo. Ou seja, começa-se do que se espera que os estudantes aprendam e saibam fazer, e todo o sistema educativo se organiza para alcançar esse objetivo. As metas de aprendizagem são o fundamento para os currículos, os sistemas de avaliação, a formação e a avaliação docente, etc.

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Depois, esses países asseguram que todos os estudantes entrem no sistema educativo prontos para aprender. Sabemos que o que acontece no útero e nos primeiros anos de vida marca a pessoa para o resto da vida. Os sistemas educativos com bom desempenho no Pisa têm também sistemas de atenção para a primeira infância que atendem à estimulação cognitiva nesses primeiros e cruciais anos.

Creio que em muitos países alguns sindicatos de professores resistem à noção de diferenciar o pagamento entre duas pessoas por aquilo que eles argumentam que é o mesmo trabalho. Mas sabemos que nem todos os professores são iguais.

Em terceiro lugar, essas nações se esforçam para que todos os estudantes tenham acesso a bons professores. Sabemos pela literatura internacional que o docente é o fator escolar mais importante no desenvolvimento da aprendizagem. Por isso, atrair, formar, motivar e reter profissionais talentosos na docência é uma prioridade nos sistemas educativos de êxito.

Em quarto lugar, dotam as instituições educativas de ambientes e materiais adequados para a aprendizagem. Ainda que garantir infraestrutura e materiais não seja suficiente, elas são uma condição necessária para fomentar uma educação de qualidade para todos.

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Por último, todos os egressos desses sistemas de ensino recebem preparação para obter êxito no mundo do trabalho e contribuir com a sociedade. A educação tem de formar o capital humano que necessitam os países para seu desenvolvimento. Por isso, os sistemas educativos com boas notas no Pisa estabelecem vínculos entre indústrias e instituições educativas.

Em sua palestra no Rio de Janeiro, no Educação 360, houve a defesa de medidas polêmicas no Brasil para melhorar a educação, como pagar os professores por performance. Poderia explicar como isso funcionaria? Por que, em sua opinião, há tanta resistência à meritocracia?

Pagar o professor por desempenho é uma opção para premiar aqueles mestres que se esforçam mais que outros. Não é a única opção, nem funciona em todos os casos. Porém, a evidência internacional indica que quando há comportamentos simples e identificáveis, e facilmente mensuráveis, estes sim podem ser remunerados. Por exemplo, o professor que é pontual e não falta poderia receber mais. Por outro lado, é mais difícil medir quanto mais aprendem os alunos de um professor e pagar por conseguir um nível maior de aprendizagem. Não é impossível, mas é tecnicamente mais complexo.

É crucial que a profissão docente seja uma na qual se recrute e permaneça o melhor talento do país. Para isso, ter uma carreira docente que atraia, forme, motive e retenha os melhores profissionais é essencial.

Creio que em muitos países alguns sindicatos de professores resistem à noção de diferenciar o pagamento entre duas pessoas por aquilo que eles argumentam que é o mesmo trabalho. Mas sabemos que nem todos os professores são iguais. Ainda que tenham formalmente as mesmas funções, todos tivemos mestres extraordinários e outros de nível regular. Como em outras profissões, o ideal seria poder premiar os professores extraordinários.

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Demitir professores considerados incompetentes seria uma boa prática? Como aplicar isso?

Essa prática é muito complexa politicamente e afetaria apenas uma pequena proporção de professores. A maioria dos docentes é responsável e trabalhadora. No entanto, para alcançar a excelência que os países buscam em seu sistema educativo, seria necessário que, diante da evidência de professores realmente incompetentes, eles fossem afastados de suas funções. Nenhum estudante merece perder a oportunidade de obter uma educação de qualidade por ter um mau professor. Porém, isso é difícil na prática porque a tarefa docente é complexa. Sabemos que a aprendizagem estudantil depende de muitas variáveis, sendo, evidentemente, o trabalho docente uma das mais importantes, mas não a única.

Como melhorar a educação no Brasil?

O mais importante para melhorar a educação no Brasil e, melhor, em toda a América Latina, é entender que a educação é um processo no qual as interações entre alunos e professores são a chave do sucesso. Para isso, é essencial que os alunos venham à educação básica prontos para aprender e, por isso, ressaltamos a importância de investir na primeira infância. Igualmente, é crucial que a profissão docente seja uma na qual se recrute e permaneça o melhor talento do país. Para isso, ter uma carreira docente que atraia, forme, motive e retenha os melhores profissionais é essencial. Os sistemas educativos que alcançam altos níveis de aprendizagem têm muito claro o que esperam que os alunos saibam e possam fazer a cada nível educativo, e todo o sistema se orienta para medir e alcançar esses objetivos, formando a todos os atores e gerando uma cultura de aprendizagem contínua.

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Poderia contar como foi a experiência de melhoria no ensino com famílias pobres na Jamaica?

A experiência na Jamaica foi amplamente estudada e documentada. Trabalhadores sociais foram formados para visitar residências e capacitar os pais sobre como estimular seus filhos pequenos. Muito anos depois, os que se beneficiaram do programa são adultos que gozam de melhor saúde, inserção laboral, melhores salários e menores taxas de incidência em atividades de risco em comparação com outros que não tiveram a oportunidade de se beneficiar do programa.