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Esquerda tem 4 vezes mais candidatos professores que partidos de direita

Os números chamam a atenção, mas deles não se pode extrair o perfil ideológico de toda a classe de professores no Brasil | Douglas Magno/AFP
Os números chamam a atenção, mas deles não se pode extrair o perfil ideológico de toda a classe de professores no Brasil (Foto: Douglas Magno/AFP)

Os partidos de esquerda ou de centro-esquerda têm quatro vezes mais candidatos professores de profissão se comparados com os partidos de direita e centro-direita. São 973 contra 228, de um total de 1.738 – os outros 537 docentes estão no “centrão”. Os dados estão no Sistema de Divulgação de Candidaturas (DivulgaCand), do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e foram compilados pela Gazeta do Povo

A classificação dos partidos no espectro da esquerda à direita guarda sempre algum grau de arbitrariedade. Para efeitos deste levantamento, centrão não é apenas o bloco que se convencionou chamar assim, mas todos os partidos sem linha ideológica definida em seu modo de atuação.

O PSOL é o partido com o maior número de professores candidatos, com 283 concorrentes às eleições deste ano, 16,3% do total. Em segundo lugar está o PT, com 178 candidatos professores (10,2%), seguido pela Rede, com 101 (5,8%), e pelo PCdoB, 81 (4,7%). A legenda de direita com mais candidatos professores é o Patriota, com 54 (3,1%). Na outra ponta da tabela, o Novo, com 12, foi o menos escolhido pelos educadores, 0,69% do total. Somente um partido da esquerda, o PCO, está entre os dez que possuem menos postulantes a cargos eletivos, 28 professores (1,6%). 

Esses números, de acordo com o sociólogo Antônio Flávio Testa, pesquisador doutor da FGV e da UnB, podem ser um reflexo do aparelhamento das universidades públicas pelo PT e pelo PSOL, embora deles não se possa extrair o perfil ideológico de toda a classe de professores no Brasil. 

“Não gosto dessa definição de direita, esquerda e centro, as decisões na prática são mais pragmáticas e o que todos os partidos querem é poder. Como o ciclo de poder da esquerda parece estar encerrando, vemos essa migração dos candidatos para um discurso mais de centro”, afirma. 

“Mas uma coisa é certa: o aparelhamento do estado pelo PT e pelo PSOL em todas as esferas do estado, nas universidades públicas, na Capes, no CNPq. Um professor que se colocar com discurso dissidente é perseguido, e temos muitos exemplos nas universidades do país”, completa.

Carlos Adriano Ferraz, professor do Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), acredita que os dados corroboram o que ele vê nas instituições de ensino superior e o esforço feito pelo PSOL para ocupar os espaços nas universidades e no meio artístico. 

“Sua hegemonia [do PSOL] está, sobretudo, nas universidades, especialmente em seus quadros docentes e em seus sindicatos, ocupados quase exclusivamente por integrantes do PSOL. Trata-se de um partido elitista que investe em pautas também elitistas, como ideologia de gênero, feminismo, etc., as quais não são oriundas da sociedade civil, mas do meio acadêmico, especialmente das humanidades”, afirma.

Para ele, o reflexo desse movimento levou a criar um clima hostil ao liberalismo e à economia de mercado, valores defendidos pelos partidos de direita e centro-direita. 

“Essa estratégia do PSOL, enquanto era invisível, foi silenciosamente nefasta para a liberdade acadêmica, a qual eles ainda tentam sufocar (há muitos exemplos públicos dessa censura). Mas também tem sido nefasta por impor à sociedade civil valores com os quais a sociedade não se identifica, que não são seus. Esses dados são muito importantes pois revelam como as universidades têm sido instrumentalizadas para a defesa de ideias que fazem parte de uma pauta partidária em particular, comprometendo, assim, a democracia mesma”, diz.

Já o sociólogo Richard Leão, doutorando da Unesp, discorda dessa influência negativa e monotemática. Ele lembra que a ligação dos professores com movimentos sociais e partidos de esquerda aumentou na ditadura militar, como um ato de resistência. 

“Com o passar do tempo, o que percebemos é que, hoje, com a fragmentação da esquerda em vários partidos e frentes nas hostes sindicais, houve o crescimento de movimentos mais à direita e conservadores nas organizações [sindicatos e associações de profissionais da educação]”, afirma. 

Em busca de mudanças

Richard Leão acredita que a participação de professores no pleito, independentemente da cor partidária, de esquerda ou direita, é positiva. Muitas vezes, lembra, as decisões são tomadas por pessoas sem conhecimento de gestão educacional e de atuação em sala de aula. 

“O que acaba acontecendo é que as decisões importantes para o setor acabam sendo tomadas por pessoas que não conhecem como funcionam as escolas em um país tão cheio de contrastes como o Brasil”, diz.

Segundo o especialista em ciência política Sílvio Souza, a formação de uma bancada forte pela educação poderia impedir que decisões sejam tomadas sem amplas discussões, com todos os setores da sociedade. “E, nesse sentido, os professores têm um papel importante como formadores de opinião”, afirma.

Para o professor de ciências sociais da Universidade Federal do Amapá (Unifap), Luciano Magnus de Araújo, a quantidade de candidatos professores demonstra que a categoria ainda acredita que a política pode ser um caminho para conquistar avanços na educação. “Não é verdade que exista um descrédito partidário, e isso é positivo”, diz.

Estatísticas

O número de candidatos professores aumentou 6,8% em relação a 2014. A profissão de professor é a terceira maior ocupação entre os candidatos, em 2018, ficando atrás dos empresários (3.012) e advogados (1.120), e representa 5,09% de todas as profissões declaradas. O número pode ser ainda maior pela possibilidade de o professor ter optado por informar ser servidor público ou outra profissão que seja sua principal fonte de renda.

A maior parte dos candidatos professores dá aulas no ensino médio (762). Em seguida, estão os de ensino fundamental (434) e superior (424). Os outros 118 docentes trabalham com formação profissional.

Do total, 899 concorrem para deputado estadual, 454 para deputado federal e 44 para senador. No Distrito Federal, são 57 candidatos a deputado distrital. Para o Executivo, são 32 candidatos a governador, 28 para vice-governador, 5 para vice-presidente e um para presidente (Fernando Haddad, do PT). O restante dos candidatos pleiteia vagas de suplente.

Dos 1.738 pedidos, 95 foram indeferidos. Proporcionalmente ao número de concorrentes, o partido com mais pedidos recusados foi o PCO, com 17%. O MDB, PSDB e PRTB na casa dos 15%, cada, além do PTC (11,9%) completam a lista dos cinco primeiros com mais indeferimentos. Em termos absolutos, o PSOL (11), PT (9), MDB (6), PSDB (6) e DC (5) aparecem no ranking dos primeiros.

O Partido Cristão (PC) tinha 23 professores registrados, mas como a legenda não foi homologada, as candidaturas forma indeferidas.

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