A Secretaria Estadual da Educação está buscando apoio de empresários, associações de classe e até da Igreja Católica para que “adotem” escolas estaduais e colaborem com a melhoria das unidades, até com recursos financeiros.
O secretário da Educação, José Renato Nalini, afirmou, em entrevista, que tem entrado em contato com empresários e entidades privadas desde que assumiu o cargo, em janeiro. A ideia é tentar aproximar grupos e escolas por afinidade. “Pedi para a Marinha do Brasil que eles se aproximem de escolas na cidade de São Paulo com nome, por exemplo, de Almirante Tamandaré. Estou pedindo até para famílias - do Roberto Setubal e Neca (Setubal)”, exemplificou, citando duas escolas com o nome da família.
A Igreja Católica também entrou na procura. “Fiz isso porque tem Escola Nossa Senhora das Graças, Escola Dom Agnelo Rossi, Pio XII, João XXIII”, diz Nalini. Também foram procuradas a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), associações comerciais e a Federação do Comércio de São Paulo (Fecomércio), entre outros órgãos.
Nalini admite que o momento de crise econômica pode afastar interessados na iniciativa, mas diz que o importante é o envolvimento. “Tenho dito que é bem-vindo um suporte material de alguma forma. Tenho até algumas sugestões: pintura, reparo no sistema de calha, se precisar, doação de equipamento de informática, incremento da sala de leitura, formação de horta escolar, aquisição de uma fanfarra. Mas deixo muito claro no pedido que o mais importante é o envolvimento afetivo”, diz.
Apesar das propostas, o secretário descarta a possibilidade de terceirizar as escolas ou propor modelos de privatização, como “voucher” (espécie de bolsa de estudos em escolas privadas) ou escola “charter” (com administração terceirizada).
Parcerias
A aproximação de grupos privados em escolas estaduais não é novidade no Estado. Desde 2005, a Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) Parceiros da Educação, presidida pelo banqueiro Jair Ribeiro, presidente do Banco Indusval, reúne empresários que têm interesse em investir em escolas públicas do Estado. O suporte varia de R$ 150 mil a R$ 250 mil anuais, usados principalmente em treinamento dos professores.
Mas há também suporte pedagógico por meio de contratação de aulas de reforço para os alunos e até auxílio com materiais e infraestrutura. Neste ano devem ser investidos R$ 7,9 milhões nas unidades selecionadas. No início do programa, só quatro recebiam recursos do tipo. Hoje, são 160, parte delas municipal.
A reportagem ouviu três diretores de colégios que já participaram ou estão em parcerias. Na escola estadual de tempo integral Princesa Isabel, no Bosque da Saúde, zona sul da capital, o apoio do escritório Tozzini Freire Advogados é evidente logo na entrada, onde há um banner com as informações da parceria. A unidade atende apenas o ensino fundamental.
A parceria teve início em 2014 e já trouxe melhorias para a unidade: parte dos professores recebe cursos de aperfeiçoamento, os alunos têm reforço em Matemática e há até aulas de judô e meditação. Também há mais monitoramento das notas e metas estabelecidas pelos parceiros. Desde 2014, os índices no Idesp, medidor de qualidade da educação paulista, subiram - de 2,21 para 2,99 em 2015, mais do que a meta para o ano, mas ainda assim abaixo da média do Estado (3,06).
A unidade também recebeu suporte nos equipamentos: problemas que afetaram outras unidades da rede neste ano, como a retirada das máquinas de fotocópia por causa do fim de um contrato, não atingiram o colégio. A unidade, com recursos dos parceiros, alugou outro equipamento. O laboratório de ciências também foi reforçado, com três microscópios.
Dislexia
Na escola estadual Luís Arrobas Martins, na Vila Cruzeiro, zona leste de São Paulo, que atende só os anos iniciais (1º ao 5º ano), o suporte é feito pelo empresário Carlos Jereissati, da rede de shoppings Iguatemi. Professores da unidade recebem formação diferenciada, há recuperação de alunos e também apoio à gestão.
Também houve uma capacitação para trabalhar com alunos com dislexia. Com a parceria, o colégio também evitou cortes. O recurso do projeto Horta na Escola, do governo do Estado, que ensina crianças a plantar, colher e preparar os vegetais, foi suspenso durante a crise hídrica, segundo a diretora Maria Carolina Jerônimo. “Tendo o parceiro, (a compra de hortaliças para o projeto) passa a fazer parte do plano. A maioria das escolas teve de andar com as próprias pernas”, diz.