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Brasília

“Eu era uma aluna terrível”: como a presença de militares em escolas está mudando comunidades

Reprodução Tv Globo. (Foto: )

Pouco mais de um mês da implementação do projeto de gestão compartilhada entre civis e militares em algumas escolas do Distrito Federal e a mudança de cenário é grande. Uma aluna de 13 anos disse à TV Globo, por exemplo, que, no ano passado, ela "era muito terrível", mas que "agora mudou". A fala provocou críticas, mas pais e estudantes acreditam que o progresso aconteceu, de fato, e por conta de um programa piloto, de iniciativa do governador Ibaneis Rocha (MDB), implantado em 4 instituições do estado. Desde o início do ano letivo, militares e civis trabalham lado a lado por um melhor ambiente escolar. O projeto é inspirado, parcialmente, no modelo de escolas militares, como as que existem em Goiás, e servirá como referência para a ação federal em todo o país.

"Se eu falar que nós não temos problemas, estaria mentindo, pois o projeto foi implantado há pouco tempo. Mas é visível que a comunidade e os professores estão mais felizes, têm mais condições de trabalhar, a organização melhorou, houve mudança de hábitos e a procura pela escola aumentou", conta Márcio Faria, diretor do CED (Centro Educacional) 308 no Recanto das Emas, umas das escolas que passou a ter gestão compartilhada e agora conta com cerca de 200 estudantes na fila de espera de matrícula. Antes, sobrava vaga.

"Recebemos depoimentos como o dessa aluna diariamente. Os adolescentes estão respeitando mais, tendo mais compromisso, os pais relatam que os filhos estão diferentes, se aplicam aos deveres de casa", conta ele.

Além do CED 308 do Recanto das Emas, o Centro Educacional (CED) 1 da Cidade Estrutural, o CED 3 de Sobradinho e o CED 7 de Ceilândia receberam o projeto, chamado de SOS Segurança e lançado no dia 11 de janeiro.

Como funciona

A distinção de função entre militares e civis foi uma das principais preocupações do governo ao introduzir o programa. Os PMs são responsáveis pela área administrativa e formação disciplinar, enquanto questões pedagógicas ficam a cargo dos professores e gestores.

"Tem muita gente que pensa que policiais dentro das escolas substituem a presença dos professores. É preciso quebrar esse ‘orgulho’", diz Faria, e salienta: "Está sendo bom trabalhar na companhia deles [policiais militares]. Ninguém faz interferência na função do outro e, na verdade, estamos unindo forças para trabalhar melhor”.

"O ganho mais precioso"

Até pouco tempo atrás, os professores do 308 gastavam cerca de 30 minutos apenas “tentando falar alguma coisa”. “Os alunos subiam pelas paredes, jogavam papéis, ficavam virados para trás. Aquela bagunça toda. Agora é bem diferente, os docentes têm 50 minutos para trabalhar o conteúdo programático”, relata o diretor.

Para conseguir essa mudança de comportamento, os militares organizaram o horário de forma diferente. A rotina na escola, agora, funciona mais ou menos assim: alunos chegam às 7h e vão direto para o ginásio, onde fazem a ordem unida – atividade praticada por militares na qual um grupo de pessoas fica organizada e recebe comandos de um oficial. “Durante esse tempo, os alunos recebem orientações sobre organização, higiene da escola, comportamento”, explica Faria. “Depois disso, eles vão para a sala de aula e ficam até 12h30. Ninguém perde tempo, alguns vão para casa, outros ficam para o contraturno”.

Existe bagunça?

No novo modelo, não há espaço para bagunça e farra de aluno. O diretor explica que, quem não quer se comportar, terá de fazer uma espécie de “estudo obrigatório”. “Quando a sala dá muito trabalho, foge das regras, temos essa atividade. O aluno, nessa ocasião, precisa ir à escola, no contraturno, e ficar de três a quatro horas realizando estudos, com a presença de um monitor e um militar”, informa o gestor. “O desenvolvimento das habilidades cognitivas do aluno vai acontecer direta ou indiretamente”.

Ainda de acordo com um levantamento feito pela GloboNews, o número de agressões a professores de São Paulo, por exemplo, cresceu 73% de 2017 a 2018. Isso significa que ocorreram 434 agressões a docentes da rede estadual em um ano.

Essa realidade leva o gestor do 308 a concordar que “nos últimos anos, a comunidade têm perdido o compromisso, o respeito”. “Deparamos com uma verdadeira inversão de valores, que precisamos retomar, pois eles são saudáveis à convivência social”, defende.

Mauro Oliveira, da Secretaria de Educação do Distrito Federal, conta que sua equipe está visitando as quatro escolas para saber qual é a percepção dos professores, servidores, pais e alunos sobre o programa. Eles também estão respondendo espécies de questionários. "Nas últimas semanas aplicamos, em todas as escolas, formulários de satisfação que vão medir a percepção de toda a comunidade escolar", explica. "O resultado ainda não saiu, mas estamos seguros de que a percepção é muito positiva".

Corte de cabelo e uniformes

Para garantir que todos os alunos possam ter acesso ao uniforme novo, professores, gestores e militares se reuniram com a comunidade para fazer uma "ação social". As novas diretrizes da escola incluem usar calça jeans e camisa branca, além de corte de cabelo específico para meninos e coque em meninas. Mas nem todos tinham condição de pagar pelo corte de cabelo, ou roupas como as que haviam sido orientadas. Por isso, a equipe escolar reuniu voluntários para cortar o cabelo dos alunos além de arrecadar roupas e acessórios para os estudantes.

O Governo do Distrito Federal (GDF) irá doar um conjunto de quatro fardas para todos os alunos. As roupas, no entanto, devem ser entregues apenas em abril. Até lá, calça jeans e camisa branca serão o uniforme provisório.

À Gazeta do Povo, Marcia Amarílio, chefe da Subsecretaria de Fomento às Escolas Cívico-Militares (Secim) afirmou, por e-mail, que "na rotina de uma escola cívico-militar, os cuidados com a aparência e o uniforme são essenciais, pois promovem a sensação de pertencimento e disciplina nos alunos".

Expansão do projeto

De acordo com Marcia, a previsão é de que haja escolas cívico-militares em todos os estados do país. "Porém, além da adesão voluntária da Secretaria de Educação, torna-se fundamental a parceria com as Forças de Segurança Pública e a aceitação por parte da comunidade, para a consolidação do modelo proposto", comenta. A partir deste ano, a Secim buscará "implementar e fortalecer, junto as redes de ensino públicas, novos modelos de gestão de alto nível, nos padrões empregados nos colégios militares, voltados à educação básica".

"As secretarias de educação municipais e estaduais que aderirem ao programa indicarão as escolas da sua rede que se tornarão escolas cívico-militares, a partir do atendimento de requisitos, tais como : baixo desempenho no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), localização em áreas de alta vulnerabilidade social, dentre outros. Para participar do programa deverá haver a adesão das secretarias de educação, o aceite da comunidade escolar e a disponibilidade de militares em cada localidade", explica ela.

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