Um evento com o objetivo de discutir questões referentes à Coreia do Norte e homenagear o 75º aniversário de nascimento do ex-ditador Kim Jong-Il será realizado nesta quinta-feira (16) na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Organizado pelo Centro de Estudos da Política Songun – Brasil, grupo sem vínculo institucional com a universidade, o “Ato de Solidariedade à Coreia Popular” tem atraído curiosidade e muitas críticas nas mídias sociais ao se propor a “desmentir as farsas da mídia ocidental” e apoiar a “luta anti-imperialista do povo coreano”.
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Assumindo um caráter de exaltação ao regime ditatorial, sem abertura ao debate ou ao contraditório, pelo menos de acordo com o material divulgado em uma rede social, o ato parece ir contra a proposta de espaço para a circulação de ideias que caracteriza as universidades. A reportagem tentou contato com a organização do evento, mas não obteve retorno. Por e-mail, a assessoria de imprensa da UERJ afirmou que a universidade não faz parte da organização e não é responsável pelo evento, tendo apenas cedido o espaço para a realização do mesmo.
Livre pensamento
O professor Gustavo Blum, do curso de Relações Internacionais do Centro Universitário Curitiba (Unicuritiba) explica que o livre pensamento nas universidades não está limitado à presença de vozes favoráveis e contrárias aos temas propostos, principalmente nos casos em que eles são colocados em pauta por grupos independentes no sentido institucional.
“Impedir o grupo de falar seria ir contra o pressuposto básico da universidade, que é o direito ao contraditório. E ele, por sua vez, não precisa acontecer necessariamente nos momentos da fala [dos convidados], uma vez que a escolha editorial dos organizadores não impede que as pessoas que participem do evento expressem sua opinião”, pontua.
Abertura ao contraditório
Blum ilustra esta questão lembrando que o sujeito que vai ao evento para ouvir os palestrantes pode fazer perguntas e apresentar críticas após as falas, o que abre a oportunidade para a exposição do contraditório. “E esse movimento gera a dinâmica do debate”, acrescenta.
Para que isso ocorra de forma “saudável”, no entanto, é indispensável que as partes estejam abertas a ouvir os argumentos e a respeitar as opiniões contrárias, como reforça o professor.