Professores do ensino fundamental de escolas municipais de Curitiba estão virando cientistas, pelo menos aos olhos dos alunos. Ao todo, 50 docentes já participaram do programa “Experimentando Ciência”, que ensina experiências científicas simples para serem reproduzidas em sala de aula. Para adquirir os novos conhecimentos, os professores escolares ocupam um dos laboratórios de química da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e aprendem com voluntários do curso de Química como conduzir experimentos que chamam atenção das crianças, tornam as aulas muito mais divertidas e despertam o interesse dos pequenos pela Ciência.
Tudo começou pela iniciativa de um professor do Curso de Química da UFPR, que, em 1995, criou o hábito de mostrar suas experiências para alunos de escolas públicas de Curitiba. “Passei a frequentar escolas para mostrar o trabalho que fazia no laboratório. Também venho da escola pública e tenho clareza da importância da educação para mudar a vida das pessoas”, recorda Francisco de Assis Marques, tutor do Programa de Educação Tutorial do Departamento de Química da Universidade (PET Química).
Muitos anos depois, em 2017, a atitude despertou o interesse da Secretaria Municipal de Educação de Curitiba, que com o auxílio de Marques criou o projeto “Cientistas na Escola”. No programa, voluntários de diversas áreas do conhecimento visitam colégios mantidos pelo município para compartilhar conhecimento com os alunos.
“O PET Química da UFPR foi um dos grupos que mais participaram do projeto”, garante o professor. Mas ele queria que mais estudantes tivessem contato com a ciência e o deslocamento dos universitários às instituições de ensino era limitado. Foi aí que surgiu a ideia de levar os professores aos laboratórios para que pudessem realizar as dinâmicas nas escolas. Assim, no segundo semestre do ano passado aconteceu a primeira edição do “Experimentando Ciência”, em parceria com a Secretaria de Educação.
Com a ajuda de estudantes universitários do Departamento de química da UFPR, os professores do ensino fundamental aprendem mais sobre teorias químicas e também como construir um foguete de plástico levantar voo pela reação do bicarbonato de sódio com vinagre. Ou ainda, a produzir uma mini erupção vulcânica. São projetos aparentemente simples, mas que fazem o maior sucesso quando acontecem diante dos olhos de crianças de cinco a 10 anos.
Novos “Einsteins”
Para obter o certificado de formação continuada pelo Programa, os professores participam de quatro encontros, ao longo de seis meses, que são realizados no Laboratório de Analítica Qualitativa do Departamento de Química, que fica no Centro Politécnico da UFPR. “Os temas são passados pela Secretaria da Educação e nós pensamos nos experimentos. O mais recente foi sobre a química do cotidiano”, detalha Renata Hellinger, aluna do 10º Período do curso de Química da UFPR e integrante do PET Química.
Na última terça-feira (25), aconteceu o encerramento da segunda edição, que formou a turma com 30 integrantes. Mas o contato entre os professores do ensino fundamental e os voluntários do Experimentando Ciência continua mesmo após o fim dos encontros. Por meio de uma plataforma digital todos que participaram das aulas continuam em contato com os voluntários da UFPR. Assim, também aprendem a realizar novas experiências, podem tirar dúvidas e até sugerir temas para serem desenvolvidos. “Sou apaixonada pela educação por isto, acho que é uma oportunidade única”, destaca Renata.
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Alunos e professores motivados
O tutor do PET Química comenta que os estudantes ficam fascinadas pelos profissionais de jaleco. “Parece que as crianças gostam tanto de cientista quanto de jogador de futebol”, compara Marques. E realmente, o efeito da interação dos mestres com os alunos, por meio das experiências práticas, causa tremendo efeito positivo.
A professora Ligia Terezinha Bontorin Dipp da Silva, 56, viu crescer o interesse dos estudantes pelas aulas de Ciência. Ela é responsável por educar turmas com alunos de 5 a 10 anos, que frequentam o contraturno da Escola Municipal Pró-Morar Barigui, localizada na Cidade Industrial de Curitiba (CIC). Ela conta que realizou a experiência do foguete e do vulcão. “Vou fazer um sobre combustão porque vejo que as atividades práticas geram muito interesse, as crianças ficam estimuladas”, conta empolgada.
Mariana Ribeiro do Amaral, 28, professora de turmas de quarto e quinto anos na Escola Municipal Professora América da Costa Sabóia, também na CIC, ficou entusiasmada com o efeito das dinâmicas. “É impressionante, existe uma cultura muito engessada na sala da aula e quando a gente leva este tipo de experimento eles abraçam mesmo”, pontua.
O sucesso do programa nas escolas municipais chamou atenção também da Secretaria de Educação Estadual. A partir do próximo ano, o Experimentando Ciência também deverá atender professores do ensino médio de instituições estaduais, para replicar experiências mais avançadas com alunos que já entraram na adolescência.