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Exposição à pornografia deixa marcas para toda a vida

 | Robson Vilalba/Gazeta do Povo
(Foto: Robson Vilalba/Gazeta do Povo)

A busca pelo prazer parece ser o principal motor de muitas pessoas. Não se poupam esforços para conseguir saciar os desejos mais estranhos, alguns deles com requintes de crueldade – como se viu no recente caso de violência sexual no Rio de Janeiro. Essa busca frenética pelo deleite sexual sem limites, da qual vários se tornam escravos e dependentes, começa com uma lacuna na educação, algo necessário para a maturidade, que é a aprendizagem sobre como lidar com os próprios impulsos.

O alerta é mundial. Um estudo realizado com 3,2 mil jovens de 13 a 17 anos de cinco países europeus (Bulgária, Chipre, Inglaterra, Itália e Noruega) mostrou que 28% das mulheres e 21% dos homens dizem ter sido objeto de abuso sexual.

Outro estudo realizado na Inglaterra com 700 adolescentes de 12 e 13 anos mostrou que um em cada 5 recebeu imagens pela internet que o chocou ou perturbou. Do total, 12% dos entrevistados admitiram participar de alguma forma em um vídeo de sexo explícito.

A mulher é a que mais sai perdendo. Na maior parte dos conteúdos ‘adultos’ disponíveis nas plataformas digitais, vence o conteúdo misógino e machista, em que homens obrigam as mulheres a posturas desprezíveis, segundo pesquisas internacionais, como a realizada na Universidade de Leicester, na Inglaterra, pela pesquisadora Heather Brunskell-Evans. Um relato nu e cru dessa realidade é descrito no livro recém-lançado nos Estados Unidos “Girls and Sex”, de Peggy Orenstein, feito a partir de entrevistas com 70 meninas, em que ela mostra como elas são instigadas pelos próprios colegas a se submeterem sexualmente – e postarem tudo nas redes sociais. E elas não têm recursos afetivos para lutar contra isso.

A solução mais aceita até agora, e citada nesses estudos, é a educação sexual que respeite o desenvolvimento emocional e psíquico de cada pessoa, que é diferente. A questão é como abordar o tema e identificar as fases. Nesse debate, considerar a pornografia como normal não tem sido a melhor saída.

A “educação” pela pornografia

A pornografia influencia na plasticidade do cérebro até formar um novo “mapa cerebral” e, por isso, a exposição ao material pornográfico na infância pode gerar consequências para toda a vida, explica o psiquiatra canadense Norman Doidge em um capítulo do livro “Os custos sociais da pornografia” (The Social Costs of Pornography: A Collection of Papers, editado por James R. Stoner e Donna M. Hughes). Isso acontece por uma série de fatores, como as características das imagens aliadas ao estado vulnerável do cérebro em momentos de excitação mental, e os mecanismos de recompensa fácil.

Segundo ele, a conexão rápida com a internet “satisfaz todos os pré-requisitos necessários para uma mudança neuroplástica”. Por isso, com a popularização das cenas eróticas, o que antes era considerada “pornografia suave” hoje nem mais é considerado pornográfico; e o que era “pornografia grave” é norma atual e tem uma tendência perigosa à violência e ao domínio sobre o outro.

No começo, descreve o psiquiatra, a pessoa sente repugnância a certas práticas e conteúdos. Com o tempo, se acostuma e procura doses cada vez mais fortes para alcançar os mesmos resultados. A consequência do consumo frequente seria a perda do prazer nas relações sexuais reais e sadias.

A “educação dos afetos”

O caminho para quebrar esse círculo vicioso que assalta os ambientes de crianças e jovens é complexo e polêmico.

A chave está em ajudar que as crianças desenvolvam a capacidade de dizer não aos impulsos que firam os direitos humanos próprios ou dos outros, ou ao menos que as levem por caminhos distintos da sua vontade. Explicando melhor: mesmo querendo passar no vestibular, por exemplo, um estudante pode passar horas perdendo tempo porque não é capaz de ir contra outros apelos que o impedem de estudar – ainda que seja muito inteligente e perceba a necessidade de estudar. Se ele não aprendeu, desde pequeno, a ter um domínio político sobre seus sentimentos – político, porque precisa também perceber o momento de relaxar – será refém deles e não alcançará seus objetivos – no caso, entrar na universidade. Esse exemplo pequeno pode ser reproduzido em outros âmbitos da vida.

Como os instintos básicos são fortes – comer, dormir, reproduzir -, as crianças aprendem a lidar com eles aos poucos, pelo conhecimento e exemplo de pessoas que ela admira e se espelha. A escola pode tentar suprir um ambiente familiar deficiente e, por outro lado, a família deve dar apoio quando a criança frequenta uma escola de ambiente hostil.

Não há respostas fáceis, mas a boa notícia é que muitas pessoas estão à procura delas em todo o mundo. Há universidades, ONGs e entidades como a Organização das Nações Unidas e o Banco Mundial interessadas no tema. Para já, urge a discussão sobre o que seria uma educação sexual oportuna, que dê às crianças e aos jovens as armas que precisam para lidar de forma sadia com a própria afetividade.

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