O diretor em exercício da Faculdade de Direito da USP, Celso Fernandes Campilongo, repudiou publicamente as manifestações do professor Eduardo Lobo Botelho Gualazzi. Em sala de aula, Gualazzi elogiou a ditadura militar iniciada em 1964 e classificou de “aberração” qualquer “agrupamento (...) discrepante daquele padrão ideal de ‘família conjugal’, constituído pela união de um homem com uma mulher”.
Em nota publicada nesta quarta-feira (27), Campilongo afirma que a faculdade “repudia manifestações de discriminação, preconceito, incitação ao ódio e afronta aos Direitos Humanos”.
“É dever dos docentes, em consonância com a ordem constitucional, enfrentar estereótipos de gênero, raça, cor, etnia, religião, origem, idade, situação econômica e cultural, orientação sexual e identidade de gênero (LGBT), dentre outras, jamais incentivá-los”, apontou.
Segundo Campilongo, a “liberdade de cátedra e expressão não pode se traduzir em abuso e desrespeito à diversidade”. Opiniões que fugirem desse pensamento, continuou, “não representam o pensamento prevalecente na Faculdade de Direito e merecem veemente desaprovação”.
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Em sua aula inaugural de 2019, Gualazzi repetiu gesto realizado em 31 de março de 2014, aniversário do golpe militar, e fez “continência a 1964”. Em material distribuído em sala de aula, o professor afirmou que é “apenas aberração qualquer agrupamento, casual ou intencional, transitório ou não, clandestino ou ostensivo, de tarados ou taradas, sobrecarregados com o estigma de comportamento objetivo/subjetivo de perfil desviante, discrepante daquele padrão ideal de ‘família conjugal’, constituído pela união de um homem com uma mulher”. “Se alguém tiver alguma dúvida, pode consultar a espécie humana!”, termina.
Sobre a atitude de Gualazzi, o Centro Acadêmico XI de Agosto, da USP, também publicou uma nota de repúdio. “Eduardo Gualazzi, ao reafirmar suas declarações referentes à ditadura civil-militar, ignora completamente que o golpe de 1964 representou uma mancha na história da democracia brasileira, tendo sido também um marco da repressão ideológica e consequente perseguição, tortura e morte de diversos brasileiros opositores ao regime. (...) Além disso, chama militantes de esquerda de ‘energúmenos’ e ‘baderneiros e terroristas’, discurso reproduzido atualmente por aqueles que visam criminalizar os posicionamentos ideológicos da esquerda no país”.