Marianna Dias, 25, estudante de pedagogia da Universidade do Estado da Bahia, foi eleita a nova presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes) na noite deste domingo (18). Filiada ao PC do B, Marianna venceu com 79% nas eleições realizadas no último dia do 55º Congresso da UNE, que reuniu mais de 10 mil estudantes em Belo Horizonte desde quarta-feira (14).
Em entrevista, Marianna afirmou que "a esquerda atingiu um nível de unidade nunca antes visto na história do país". "Por meio da Frente Brasil Popular e da Frente Povo Sem Medo, conseguimos fazer grandes mobilizações de rua unitárias, com todos os movimentos de esquerda que fazem parte da UNE", disse.
Ela defendeu a antecipação das eleições diretas, principal bandeira da UNE no momento, e a oposição às reformas trabalhista e da Previdência. "Quando se elege um presidente, se elege o projeto que se quer para o Brasil. A importância da antecipação das eleições é para que a gente tenha o restabelecimento da democracia e a retomada da opinião do povo brasileiro sobre o que a gente quer para o país", disse.
Segundo ela, a entidade prepara mobilizações para aumentar a pressão sobre o governo de Michel Temer (PMDB). A UNE participará da greve geral convocada para o dia 30 e organizará passeatas pelo país em agosto para marcar seus 80 anos de existência.
Marianna avalia que, nos últimos dez anos, a UNE conseguiu "mudar a cara da universidade" com inclusão de camadas populares e construção de políticas públicas de educação. O impeachment, contudo, colocou a entidade novamente no front de resistência.
"O papel tem sido de resistência, o que, por incrível que pareça, fez com que a UNE crescesse muito. A autoridade que a UNE tem de representar um setor grande e importante da população nos dará condições de resistir e, a partir da resistência, promover mudanças e conseguir avançar mais, garantindo o que a gente já tem."
Continuidade
A gestão de Marianna será de continuidade. A chapa foi composta por nomes que fazem parte da diretoria atual, incluindo a agora ex-presidente Carina Vitral, 28.
Desde o início da década de 1990, o PC do B tem sido voz majoritária na UNE. Eleito entre outras quatro chapas, o grupo de Marianna reúne também movimentos ligados ao PT, PDT e PSB.
Questionada sobre a hegemonia ser prejudicial à representatividade, Marianna diz que a UNE "consegue fazer com que os movimentos de juventude venham para o congresso disputar porque é democrática, consegue lidar com o diferente e construir consensos por meio de muito debate".
As eleições da UNE ocorrem em duas etapas. Antes, as universidades escolhem entre chapas internas quais serão os delegados que as representarão no congresso. Na plenária final, os delegados se organizam para se candidatarem e votarem, elegendo a próxima gestão.
A nova diretoria da UNE é formada proporcionalmente por todas as chapas participantes do pleito, de acordo com o número de votos obtidos.
Carina, estudante de economia da PUC-SP e também filiada ao PC do B, passa o comando para a sétima mulher a liderar a entidade -a terceira em sequência. "Fazemos parte de uma geração de mulheres que constrói a sua própria história, nós não somos mais primeiras-damas e vices", afirma Marianna.
Sobre uma eventual candidatura (Carina ficou em segundo lugar na disputa pela Prefeitura de Santos em 2016), Marianna afirma que "vai decidir mais pra frente". "Os jovens precisam cada vez mais fazer parte da política, querer ser deputado, vereador", completa.
Congresso
O 55º Congresso da UNE teve mais de 50 mesas de palestra com mais de cem convidados, incluindo os ex-ministros José Eduardo Cardozo e Celso Amorim, o pré-candidato à Presidência Ciro Gomes (PDT), o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) e os deputados federais Chico Alencar (PSOL-RJ), Carlos Zarattini (PT-SP) e Jandira Feghali (PC do B-RJ).
O ponto de maior conglomeração foi a manifestação Minas Pelas Diretas Já, que reuniu cerca de 40 mil, segundo a entidade, em um show de artistas mineiros no centro de Belo Horizonte, na sexta (16).
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