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Estudantes discutem “Fenomenologia do espírito”, de Hegel, no Saint John’s College , no último dia 10 de setembro | Adria Malcolm/NYT
Estudantes discutem “Fenomenologia do espírito”, de Hegel, no Saint John’s College , no último dia 10 de setembro| Foto: Adria Malcolm/NYT

Tenho uma faculdade para você. Nos primeiros dois anos, haverá aulas de grego antigo. A língua grega mesmo, não a civilização da Grécia, embora você também vá passar um tempo com Aristóteles, Ésquilo, Tucídides e o resto da turma. Não há escolha. Há pouca escolha, ponto final.

Deixe que os universitários de outras escolas planejem suas próprias especializações e se divirtam com Kerouac. Para você, será Kant. Não haverá um curso principal, apenas “o programa”, o estudo do cânone ocidental que foi adotado em 1937 e pouco mudou desde então.

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Tudo é intenso. Ao estudar astronomia e matemática, você não verá apenas as conclusões de Copérnico; vai se debruçar sobre suas palavras originais. Além disso, não será simplesmente apresentado à teoria da relatividade; vai ler “A Teoria da Relatividade”, livro que Albert Einstein escreveu.

A diversão é limitada; não há equipe de natação. Não há piscina. Os dormitórios são funcionais; o mesmo vale para o jantar. Você não está ali por causa do banho, mas sim por Baudelaire.

Estou falando sobre a Saint John’s College, fundada em 1696 em Annapolis, Maryland, a terceira faculdade mais antiga dos EUA que, em todos os seus campi tem 775 alunos. E estou chamando a atenção para isso porque é um fortalecimento cada vez mais exótico e importante contra muitas mudanças no ensino superior que foram longe demais – o estresse na formação profissional, o tratamento dos alunos como consumidores volúveis, a elevação do individualismo em detrimento de uma herança compartilhada. É uma guinada necessária na outra direção.

Não estou dizendo que a maioria dos alunos deva optar por ela ou que outras escolas deveriam imitá-la. O “programa” omite as contribuições intelectuais de mulheres e pessoas de cor, algo que me incomoda, mas muitas escolas seriam sábias se considerassem e integrassem sua filosofia, a mesma que Walter Sterling, o reitor do campus de Santa Fé, me explicou recentemente.

“Trabalho e carreira fazem parte da vida”, disse ele quando nos encontramos com o presidente de Santa Fé, Mark Roosevelt. “Mas a educação deve prepará-lo para toda a vida, torná-lo um cidadão que pensa mais, que reflete, que é autossuficiente e autêntico, amante, parceiro, pai e membro da economia global”, continuou. Adoro essa abordagem, a precisão, o equilíbrio e a abrangência.

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E que idioma seria melhor, para o que ele está descrevendo, que os clássicos? Qual base seria melhor? Eles fornecem as fundações de muitos dos ideais e das instituições dos EUA; são a ligação entre o ontem e o amanhã.

Visitei a Saint John’s por respeito a seu não conformismo e porque recentemente ela fez um anúncio que é coerente com a sua missão de fugir da norma em vigor: para o ano acadêmico que começa em setembro de 2019, a anuidade caiu de US$ 52 mil para US$ 35 mil, uma mudança que reconhece como o custo de cursos superiores aumentou descontroladamente, e como poucos podem pagar o preço estipulado.

Algumas faculdades mantêm esse valor elevado, mesmo com a possibilidade de afastar alguns interessados, em parte para validar o prestígio. E depois conseguem financiamento do governo, muitas vezes independentemente da necessidade. É um processo caprichoso, confuso e desmoralizante.

“Resistimos a quase todas as tendências do ensino superior que consideramos ruins, mas nos rendemos ao que chamo de ‘preços de prestígio’”, disse Roosevelt. Até agora.

A Saint John’s quer mais candidatos do que recebe; o corte na anuidade pode ajudar. Mas a faculdade também quer ser um modelo de acessibilidade financeira, além de rigorosamente intelectual. Para se manter longe de dívidas, está realizando uma grande campanha de angariação de fundos, iniciada sem qualquer anúncio, dois anos atrás, para levantar US$ 300 milhões até 2023. Um ex-aluno, Warren Winiarski, fundador da vinícola Stag’s Leap, concordou em contribuir com até US$ 50 milhões.

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O método da Saint John’s não é barato. Nenhuma classe tem mais que 20 alunos; mesmo assim, algumas têm dois “tutores”, que é como os professores são chamados. Elas estimulam discussões profundas que exigem engajamento. Assisti a algumas. Três dinâmicas se destacaram.

A primeira foi a articulação dos alunos. Algo maravilhoso acontece quando se lê de modo ambicioso e se emaranha nas palavras. Você se torna ágil.

A segunda foi o foco. Um grupo que discutia a “Ilíada” de Homero passou mais de 10 minutos na frase – na ideia – de alguém que tem sua “cota de choro”. Se os dispositivos digitais e mídias sociais levam as pessoas de um assunto para o outro rapidamente, a Saint John’s as treina para mantê-lo – acariciá-lo, esticá-lo, ver o que ele suporta e o quanto vale.

A terceira dinâmica foi a humildade. Eles não eram intransigentes com suas opiniões iniciais. Não podiam ser. E não buscavam a melhor resposta, mas perguntas melhores. Na “Ilíada” e na vida, há catarse na vingança? Alguma solução na morte? A dor acaba ou apenas dá um tempo? E as guerras?

Jack Isenberg, aluno do último ano, me disse que a Saint John’s tinha lhe ensinado que muita coisa é desconhecida. “Temos que estar confortáveis com a ambiguidade”, disse.

Que dádiva! Que educação!

* Frank Bruni está no The Times desde 1995. É autor de três best-sellers.

©2018 The New York Times. Publicado com permissão. Original em inglês.

Walter Sterling, reitor do campus de Santa Fé, à esquerda, e Mark Roosevelt, presidente da instituição, no St. John’s College Adria Malcolm/NYT
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