Duas coisas. Inventar e falar. Na ausência desses verbos, o mundo do conhecimento fica frio como uma manhã de julho em Curitiba. "Inventar não vale" – é o que se ouve em casa, quando criança. A frase, idem, vira norma desde a primeira prova na escola. Inventar se confunde com mentir. Daí a vigilância digna de palmatória. Mas sem invenção não tem solução! Nem imaginação que resista. O mesmo se diga da fala – embora encarada como dispersão e desculpa para fugir do batente, a tal da "conversa furada", é falando que se aprende. E que se inventa. No final, é uma coisa só.

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Coisas. Existe um livro chamado Filosofia da Ciência, do educador, filósofo, psicanalista, ex-pastor Rubem Alves. Ele tira das trevas o verbo inventar ao lamentar que a ciência chegue até nós como um pacote pronto e acabado, sem que ninguém nos mostre o delírio e a fantasia que antecedem a qualquer certeza científica. Mas cientistas dos bons são, antes de tudo, visionários. "O que levou Copérnico a colocar o Sol no centro do sistema?", pergunta Alves. Resposta: a crença de que Deus era um grande geômetra, idéia emprestada dos neopitagóricos e por aí vai. A imaginação corre solta antes de virar uma espécie de verdade tão incontestável quanto a seguinte afirmativa: "Trufas de chocolate são deliciosas".

Dá para entender por que a imaginação acaba sendo banida das aulas de Matemática e de Biologia. Melhor que tudo pareça um bicho-de-sete-cabeças, mesmo sendo, lá no fundo, uma bela história de paixão por um Deus geômetra. Poesia, amores, utopias têm mais a ver com desejos do que com questões para a prova bimestral. Logo, são vistas como contraproducentes, ineficientes, meio caminho andado para o vício. Engano dos bravos. Tudo bem, a ciência não pode ser reduzida a um coração que pulsou mais forte por isso ou aquilo. Mas nada justifica esquecer a magia que faz com que as teorias existam. Nem a transgressão e a rebeldia que fez homens e mulheres brilhantes superarem o senso comum e a banalidade.

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Entre outras coisas, ter visões e desejos – dar asas à imaginação – combina que é uma beleza com falar. Falar pelos cotovelos. Desde o surgimento da imprensa, no século 17, a narrativa, a memorização, o "lembrar de cabeça" foi cedendo lugar, acima de tudo, ao que está escrito. Conhecer tornou-se um ato solitário – o livro e eu. Pedir a palavra e iniciar uma viagem com a expressão oral virou um ato libidinoso, quase que um lazer de desocupados e maledicentes. Mas experimente até contar o que leu, numa frase bem-feita, colorida e de impacto. Os olhos ficam grudados. A imaginação vira a louca da casa. Teorias e análises, melhor não duvidar, viram fórmulas mágicas no céu da boca.