“Bem-vindo à França” é o nome do programa lançado nesta semana pelo governo do país a fim de atrair até 500 mil universitários estrangeiros na próxima década. Mas o preço a pagar pelas boas-vindas tricolores vai subir muito a partir do próximo ano letivo (2019-2020).
Quem não nasceu na terra da divisa liberdade, igualdade, fraternidade nem possui passaporte de um país-membro da União Europeia terá de desembolsar 2.770 euros (R$ 11.950) para se inscrever em cursos de graduação oferecidos por universidades francesas.
A anuidade atual, idêntica para estudantes franceses e de fora, é de 170 euros (R$ 733). Ou seja, a matrícula vai ficar 16 vezes mais cara.
Para aqueles que quiserem cursar uma pós-graduação, a taxa vai ser de 3.770 euros (R$ 16.200) - hoje, a inscrição no mestrado custa 243 euros (R$ 1.050), e a no doutorado, 380 euros (R$ 1.640).
“Um estudante estrangeiro rico que vem para a França paga o mesmo que um francês mais pobre cujos pais moram, trabalham e pagam impostos aqui há anos. É injusto”, afirmou o primeiro-ministro Édouard Philippe, ao anunciar a medida.
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O governo diz que o reajuste é necessário para capitalizar o combalido sistema de ensino superior nacional, mas, sobretudo, para atrair cérebros - com cerca de 340 mil estrangeiros em 2017-2018, o parque universitário da França é o quarto que mais acolhe alunos de fora, atrás dos de EUA, Reino Unido e Austrália.
A medida se apoia em lógica tortuosa: para o poder público, o baixo custo relativo das anuidades desestimularia alguns estudantes não franceses (são citados especificamente os chineses), que o associariam a formações fracas, ruins.
Logo após a divulgação do plano, associações estudantis e mesmo professores criticaram as novas tarifas, que devem pesar especialmente sobre estudantes da África, hoje 45% dos estrangeiros nos campi da França (seis das dez nacionalidades mais presentes nesse meio são do continente).
Procurado, o Ministério do Ensino Superior e da Pesquisa não forneceu estatísticas sobre brasileiros matriculados no país, mas sabe-se que eles não estão entre os cinco maiores contingentes - para se ter uma ordem de grandeza, os tunisianos, na quinta colocação, são 12.800.
Para contrabalançar o encarecimento dos estudos, salientou Édouard Philippe, o Estado francês aumentará o número de bolsas concedidas de 7.000 para 15 mil. As instituições distribuirão por conta própria outras 6.000.
A ideia é que os recursos auferidos com novos alunos estrangeiros sejam usados para aumentar a oferta de cursos em inglês e pôr fim à via-crúcis burocrática de inscrição em universidades francesas, agilizando a emissão de vistos e de permissões de residência.
O governo francês fez questão de lembrar que, apesar da inflação, as anuidades ainda estarão muito abaixo dos valores praticados, por exemplo, no Reino Unido, onde não europeus dificilmente gastam menos de 10 mil libras (R$ 48 mil) por ano letivo.
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Em 2014, um levantamento realizado pela plataforma virtual Campus France (pela qual todo postulante não europeu a vaga em universidade francesa deve passar) mostrou que os alunos estrangeiros custavam por ano 3 bilhões de euros (R$ 13 bilhões, na cotação atual) ao Estado francês.
No entanto, eles faziam circular na economia 4,5 bilhões de euros (R$ 19,4 bilhões), distribuídos entre matrículas e taxas, consumo de bens e serviços, deslocamentos aéreos e gastos de parentes que os visitavam.
Na quarta (21), o jornal Le Monde mostrou que a fatura universitária pode ficar mais salgada também para quem nasceu na França. Segundo o diário, o Tribunal de Contas da União prepara um relatório em que recomendará ao governo reajustar a tabela de anuidades em até 297% (no nível dos mestrados e especializações).
As inscrições em doutorado ficariam 105% mais caras, e só o montante da matrícula na graduação não mudaria (ou variaria bem pouco).
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