| Foto: Rafael Neddermeyer/ Fotos PúblicasFotos Públicas

Esse é um tema comum na mídia: educação precisa de mais dinheiro. Sempre. Acompanhando essa narrativa, um artigo do Washington Post sobre ensino superior relata: 

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“Para a preocupação de muitos educadores, quase todos os estados cortaram verbas para faculdades e universidades públicas desde a crise financeira de 2008. Com correção para a inflação, os estados gastaram com ensino superior público no ano passado US$ 5,7 bilhões a menos que em 2008, apesar de terem atendido um adicional de mais de 800 mil estudantes, de acordo com State Higher Education Executive Officers Association.” 

O Post limitou o seu ponto de vista ao financiamento estadual de faculdades e universidades públicas nos Estados Unidos, mas um retrato mais amplo revela um cenário diferente. 

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Fluxos de financiamento 

Historicamente, os estados disponibilizaram a maior parte do dinheiro para o ensino superior, “65% mais que o governo federal, em média, entre 1987 e 2012”, de acordo com análise do Pew Charitable Trusts

O apoio tem formas diferentes, com o dinheiro federal indo principalmente para a assistência de estudantes e projetos de pesquisa específicos, enquanto os dólares estaduais geralmente são usados para financiar operações gerais.

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Mas após a Grande Recessão que começou em 2007, enquanto os estados têm dificuldade para manter os gastos alinhados com a redução da receita de impostos, a parcela federal aumentou a ponto de exceder o que os estados estavam contribuindo. 

Segundo análise do Pew: 

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“Em 2013, os gastos federais em programas de ensino superior de grande porte totalizaram US 75,6 bilhões, os gastos estaduais somaram U$ 72,7 bilhões e os gastos locais foram considerados abaixo de US$ 9,2 bilhões. Esses números excluem empréstimos estudantis e despesas de impostos relacionados ao ensino superior.” 

Apesar de o Post direcionar a atenção às reduções estaduais que totalizam US$ 5,7 bilhões entre 2008 e 2016, fracassa em revelar o outro lado da moeda transmitido pelo Pew: os programas federais “Pell Grants e benefícios educacionais a veteranos (...) aumentaram em US$ 13,2 bilhões (72%) e US$ 8,4 bilhões (225%), respectivamente, em termos reais entre 2008 e 2013”. Resumindo, os aumentos nos gastos federais foram muitos maiores do que as quedas nos gastos estaduais. 

Examinando o cenário geral, dados do Departamento de Análise Econômica dos EUA e do Departamento de Educação dos EUA mostram que os gastos do governo com ensino superior, ajustados para a inflação, aumentaram em 23% entre 2008 e 2016, alcançado o recorde de US$ 183 bilhões em 2016. Em uma análise por estudante no mesmo período, esses gastos aumentaram em 16% e também alcançaram um recorde de mais de US$ 9 mil por estudante. 

O mesmo artigo do Washington Post declara que “educadores temem que a queda nos gastos do governo esteja tornando mais difícil custear as universidades para estudantes de baixa e média renda”. Ainda assim, essas verbas aumentarem em números substanciais. 

Considerando que apenas 37% dos gastos em ensino superior são utilizados em funções que contribuem diretamente para a educação dos estudantes e do público geral, os financiamentos do governo agora somam 84% dos gastos em ensino superior nessas funções. Isso inclui todos os gastos desse tipo por instituições públicas, privadas sem fins lucrativos e privadas com fins lucrativos. 

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Perspectivas conflitantes sobre a universidade 

Além da questão do financiamento público, esse artigo do Post enfoca em diferenciar os pontos de vista do Partido Democrata e do Partido Republicano sobre o ensino superior. Ele começa citando Frank Antenori, um ex-Boina Verde apoiador de Trump que diz: 

“Por que um jovem frequenta uma grande universidade nos dias de hoje? Muitos republicanos diriam que eles vão para lá para sofrerem lavagem cerebral e aprenderem a se tornar ativistas e basicamente ir para o mundo e causar problemas. (...) 

Quer-se criar alguém que será um contribuidor, não um parasita. Saia e gere receita; é isso que importa.” 

Como um endosso para Antenori, o Post cita o democrata Steve Farley, senador estadual do Arizona e candidato a governador, que diz: 

“O governo deveria funcionar como uma família. Deveríamos estar criando os filhos para serem as melhores pessoas possíveis. Não deveríamos estar manufaturando-os para serem bens de consumo. Essa é a falha moral e ética básica desse argumento todo, que tudo deve ter um retorno financeiro para que possamos reduzir os impostos para os irmãos Koch.  

A educação pública em todos os níveis é a única ferramenta que inventamos para permitir efetivamente que as pessoas saiam da pobreza. Hoje, no Arizona, uma cada quatro crianças vivem na pobreza. Se tirar essa ferramenta, não há esperança para o nosso futuro – nenhuma.” 

O Post observa precisamente que as opiniões dos americanos sobre esses assuntos tem se tornado fortemente divididas nas linhas políticas. Uma pesquisa nacional de 2017 feita pela Pew Research com 2.504 pessoas perguntou se as faculdades e universidades têm um efeito positivo ou negativo “no modo como as coisas estão acontecendo no país”. 

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Com margens de erro entre 3 e 4 pontos percentuais, a pesquisa constatou que: 

• 58% dos republicanos e independentes com tendências republicanas acreditam que o impacto é negativo. 

• 72% dos democratas e independentes com tendências democratas acreditam que o impacto é positivo. 

• A parcela de republicanos e independentes com tendências republicanas que acreditam que o impacto é negativo aumentou de 32% em 2010 para 37% em 2015 e 58% em 2017 – um aumento de 26% em apenas sete anos. 

O Post cita Farley de modo não crítico dizendo que “a ideia toda de um bastião liberal é apenas absurda”, mas essa alegação é desmentida por um estudo publicado pelo Econ Journal Watch em 2016. Esse estudo examinou as “proporções de taxas de registro de eleitores democratas e republicanos em cinco áreas (Economia, História, Jornalismo/Comunicação, Direito e Psicologia) em 40 universidades de destaque”. E constatou que 54% desses professores estavam registrados como democratas ou republicanos, e entre eles a proporção de democratas para republicanos para: 

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• Todos os professores foi de 12 para 1, 

• Professores de economia foi de 4 para 1, 

• Professores de direito foi de 9 para 1, 

• Professores de psicologia foi de 17 para 1, 

• Professores de jornalismo/comunicação foi de 20 para 1 e 

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• Professores de história foi de 34 para 1. 

O verdadeiro valor de um diploma 

O ponto central do artigo do Post é sobre o valor do ensino superior, mas é quase desprovido de fatos que informam esse debate. Em vez disso, é majoritariamente uma apresentação de opiniões opostas sobre essa questão com meias verdades sobre o financiamento do governo e alguns dados precisos sobre os custos da universidade. Apesar de ser um assunto amplo, os fatos a seguir oferecem uma visão geral. 

Primeiro, altos níveis de educação estão associados a salários mais altos. Em 2015, habitantes dos EUA com 25 anos ou mais que tinham apenas um diploma de ensino médio tinham 56% menos ganhos em dinheiro que aqueles que tinham diploma de graduação.

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Entretanto, essa associação pode ser causada em grande parte por fatores que estão relacionados, mas não são necessariamente causados por “educação”. Indivíduos com alta inteligência e disciplina tendem a ganhar mais, independentemente da sua formação. Portanto, as rendas maiores dos graduados podem ser causadas por fatores além da educação. 

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Do mesmo modo, a Princeton University Press publicou recentemente um livro de Bryan Caplan chamado “The Case Against Education: Why the Education System Is a Waste of Time and Money” (“O argumento contra a educação: Por que o sistema educacional é um desperdício de tempo e dinheiro”, em tradução livre).

O título é surpreendente, considerando que Caplan é formado em Berkeley, têm doutorado em Princeton e há muito tempo é professor de Economia na George Mason University. Conforme ele descreve, ele esteve “na escola” por mais de 40 anos. Ele explica isso na introdução do livro

“Pessoalmente, então, não tenho motivos para atacar o sistema educacional. Pelo contrário. Ainda assim, uma vida inteira de experiência, mais um quarto de século de leitura e reflexão me convencem que o nosso sistema educacional é um grande desperdício de tempo e dinheiro. Quase todos os políticos prometem gastar mais em educação. Como uma pessoa dentro do sistema, não consigo não exclamar: ‘Por quê? Você quer que desperdicemos ainda mais?’”. 

Ele prossegue dizendo que o muitos graduados já sabem: “O estudante típico gasta milhares de horas estudando um material que não aumenta sua produtividade tampouco enriquece sua vida”. 

Caplan argumenta que um diploma é principalmente uma fonte de valor porque “sinaliza” aos potenciais empregadores que os graduados têm certos níveis de inteligência, ambição, disposição para seguir instruções e capacidade de tolerar tédio, que é um elemento em muitos empregos. 

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Após 20 anos como professor universitário, ele estima que pelo menos um terço, e “mais provavelmente 80%”, do tempo do estudante é gasto fazendo trabalhos que apenas acumulam para a “sinalização” em oposição a adquirir habilidades profissionais úteis. 

Em 2014, o professor Richard Arum da Universidade de Nova York e a professora assistente Josipa Roksa da Universidade da Virginia, publicaram um estudo usando o Collegiate Learning Assessment para aferir o “pensamento crítico, raciocínio complexo e habilidades de escrita” de 1.666 estudantes em tempo integral, que entraram em graduações de quatro anos no segundo semestre de 2005 e se formaram no primeiro semestre de 2009. 

Os autores descobriram que se o teste “fosse reajustado para uma escala de 1 a 100 pontos, aproximadamente um terço dos estudantes não melhorariam mais que um ponto ao longo de quatro anos de faculdade”. 

Estudantes universitários também estão dedicando significativamente menos horas para atividades acadêmicas que no passado. Entre 1961 e 2003, o tempo médio gasto por estudantes universitários em tempo integral com atividades educacionais como ir a aulas e estudar caiu de cerca de 40 horas semanais para 27. 

Durante os anos letivos de 2005 e 2006, estudantes em tempo integral em graduações de quatro anos passaram uma média de 27 a 28 horas por semana em atividades educacionais. Em comparação, eles passaram uma média de 43 horas por semana em lazer e esportes. 

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Uma pesquisa feita pela Association of American Colleges and Universities em 2007 com 301 empregadores que contratam pessoas com diplomas de graduação aferiram as suas perspectivas sobre os graduados de hoje. Em uma escola de 1 a 10, em “nenhuma das 12 áreas testadas uma maioria de empregadores dá aos graduados nota alta (8, 9 ou 10) para o seu nível de preparação”. 

Em 2017, o Departamento de Responsabilidade do Governo dos EUA constatou que nos últimos 20 anos um número cada vez maior de graduados está ganhando baixos salários por hora: 

“Nossas estimativas mostraram que o percentual de trabalhadores ganhando entre US$ 12,01 e US$ 16 por hora com diplomas de graduação subiu de 16% em 1995 para 22% em 2016. Uma tendência similar ocorreu em outras categorias de baixa renda.” 

Observando os graduados atuais de modo geral, 43% estão desempregados, de acordo com análise de dados do Censo dos EUA pelo Federal Reserve Bank of New York. 

A taxa de subemprego varia de acordo com o que os estudantes escolhem estudar. No topo da lista estão formações como justiça criminal com 76%, políticas públicas e direito com 66%, artes performáticas com 66%, lazer e hospitalidade com 64% e antropologia com 61%. A situação está particularmente difícil para graduados em antropologia, considerando que 48% deles têm diploma de pós-graduação. 

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Esses números de desemprego podem levar os pais a pedirem aos seus jovens acadêmicos que escolham mais cuidadosamente a sua área de estudo, mas um olhar para outras formações com menos desemprego ainda é preocupante: a taxa de desemprego para formados em ciência da computação é de 26%, farmácia 27%, arquitetura 29% e jornalismo 42%. 

Sumário 

Uma visão mais ampla do financiamento e valor do ensino superior destaca esses pontos chave: 

• Os cortes no financiamento do governo estadual nos últimos anos têm sido mais que compensados por aumentos do governo federal. 

• Os gastos totais do governo com ensino superior estão em recorde de alta de mais de US$ 9 mil por estudante por ano. 

• O financiamento do governo para o ensino superior soma 84% de todos os gastos de instituições públicas e privadas em funções que contribuem diretamente para a educação. 

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• Professores em universidades de destaque nos EUA têm maior probabilidade de serem democratas que republicanos. 

• Pessoas com mais formação ganham mais dinheiro, mas isso pode ser causado em parte pelas habilidades e características da pessoa, e não pela formação. 

• O valor principal dos diplomas pode ser que eles servem como “sinais” aos empregadores de que os graduados têm características desejáveis. Essas características podem ser inerentes à pessoa, ao invés de um resultado da sua educação formal. 

• Um terço dos formados em graduações de quatro anos não melhoram consideravelmente o seu pensamento crítico, raciocínio complexo e habilidades de escrita ao longo de toda sua carreira universitária. 

• Entre 30 e 80% da educação formal poderia ser gasta em atividades que não aumentam a produtividade para enriquecer vidas. 

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• Estudantes em tempo integral estão ocupando cerca de 50% mais tempo em recreação e esportes do que atividades acadêmicas. 

• Os empregadores não dão notas altas para a preparação dos graduados para o mercado de trabalho. 

• Graduados recentes têm altos níveis de desemprego, e um número cada vez maior deles estão ganhando mais que US$ 16 por hora. 

*James D. Agresti é presidente do Just Facts, instituto sem fins lucrativos dedicado a publicar fatos verificáveis sobre políticas públicas. Stuart Shepard escreve para o Just Facts Daily.

©2018 FEE. Publicado com permissão. Original em inglês 

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Tradução: Andressa Muniz.