Se no Brasil o debate sobre os critérios das cotas raciais se intensificou nos últimos tempos, algo similar parece estar acontecendo nos Estados Unidos. O governo de Donald Trump anunciou planos para iniciar investigações contra universidades que utilizam políticas de ação afirmativa nos seus processos seletivos.
A ação deve partir da divisão de direitos civis do Departamento de Justiça, com a justificativa de que as ações afirmativas são discriminatórias contra os candidatos brancos e asiáticos, de acordo com um documento oficial obtido pelo New York Times.
Entidades apoiadoras das ações afirmativas apontam que o documento tem como alvo os programas de admissão que oferecem bonificações nos processos seletivos de estudantes parte de minorias étnicas, como negros e latinos.
“As leis de direitos civis foram escritas para proteger todo mundo da discriminação, e atualmente é frequente o caso de não apenas brancos serem discriminados, mas também asiático-americanos”, defendeu Roger Clegg, presidente do Centro da Igualdade de Oportunidades e ex-funcionário da divisão de direitos humanos nos governos Bush e Reagan, para o New York Times.
As ações afirmativas são aprovadas pela Suprema Corte dos Estados Unidos, que determinou que essas políticas trazem benefícios educacionais para as instituições, desde que seja adotada uma avaliação holística dos candidatos, e não a reserva de vagas ou sistemas de pontuação baseados apenas em etnia.
De acordo com Clegg, o objetivo do projeto é investigar denúncias recebidas pela divisão de direitos civis sobre os processos seletivos das universidades. Ele também sugeriu que o projeto analisará possíveis discrepâncias de notas entre estudantes de diferentes etnias, para investigar se os processos seletivos estariam colocando uma ênfase exagerada na etnia dos candidatos, o que iria contra a determinação da Suprema Corte.
“É muito perturbador”, apontou Kristen Clarke, presidente do Comitê de Advogados de Direitos Civis em Direito. Para ela, o projeto do governo Trump não está alinhado com o histórico de prioridades da divisão de direitos civis, criada para lidar com os problemas específicos das minorias do país. “Isso poderia ser um alarme que daria início a muito caos e criaria uma histeria desnecessária entre as faculdades e universidades que podem temer que o governo fosse atrás delas por seus esforços em promover a diversidade nos seus campi”, conclui.
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