Completa nesta quarta-feira (15) um mês a greve dos alunos de Engenharia Agrícola, da Universidade Estadual de Maringá (UEM), em Cidade Gaúcha, no Noroeste do Estado. Revoltados com as más condições do curso, os estudantes fecharam o campus e não permitem a entrada nem mesmo dos funcionários da instituição.
Os alunos estão acampados em barracas e dormindo dentro das salas de aula. De acordo com o coordenador geral do Centro Acadêmico (CA), Emmanuel Ribeiro do Valle Filho, a precariedade da estrutura levou os estudantes a essa situação extrema.
Segundo Valle Filho, o curso, criado há oito anos, não possui nenhum laboratório específico para Engenharia Agrícola, como mecanização ou hidráulica. "Fazemos algumas aulas práticas em Maringá, que fica a 150 quilômetros de Cidade Gaúcha. Existem matérias que exigem 36 horas aulas em laboratórios, mas nós não conseguimos fazer nem quatro (horas). Tentamos burlar as deficiências fazendo estágios, mas alguns só vão aprender a prática depois de formados", afirma.
A biblioteca do curso fica aberta apenas em meio-período, por falta de funcionários. O número insuficiente de docentes é outro problema. No projeto de criaçao do curso estava prevista a contratação de 36 professores e hoje existem somente 6 professores efetivos. No total, somando com os professores temporários, são 13 professores somente. Os estudantes também levantam a falta de assistência. "Aqui não tem um refeitório universitário, o que é extremamente importante. O campus é afastado da cidade e nosso curso é ministrado em período integral", lembra o coordenador do CA.
Na semana passada, os estudantes fizeram uma manifestação em frente à reitoria do Campus da UEM, em Maringá. Eles exigiam a prestação de contas de 2002 a 2008, a agilização do processo de consolidação do curso e a exoneração da direção do campus de Cidade Gaúcha.
Na última sexta-feira (10), os alunos também protocolaram um pedido de providências, junto ao Ministério Público estadual em Cidade Gaúcha. Uma carta também foi enviada ao governo estadual para que a administração intervenha no caso.
UEM
Segundo o vice-reitor da UEM, Mário Luiz Neves de Azevedo, a instituição reconhece que a situação do curso ainda não é a ideal. "Investimos mais de R$ 500 mil em dois anos no campus de Arenito, em Cidade Gaúcha, mas a Universidade ainda tem outros seis campi para administrar, além dos cursos de mestrado e doutorado. Fazemos tudo que está ao nosso alcance", desabafa.
A UEM pretende atender a pauta de reivindicação dos estudantes. A primeira medida será realizar novas eleições para a direção do campus. "A nova administração assumirá em 12 de dezembro deste ano, quando acaba o mandato da atual direção", afirma.
A UEM também está levantando toda a receita e despesa realizadas com o curso de Engenharia Agrícola desde 2002. Uma comissão, composta por um auditor, um aluno do curso e o vice-diretor do Centro de Ciências Agrárias da instituição, para fazer o levantamento patrimonial. Outra comissão foi instituída para estudar a viabilização do curso em Cidade Gaúcha, e também o processo de consolidação do curso.
Quanto às reivindicações de laboratórios e restaurante universitários, o vice-reitor diz que são pedidos justos. "Já existem projetos para criar essas instalações, mas tudo depende de verba", ressalta Azevedo.
O vice-reitor lembra que a UEM pede ajuda constantemente ao governo estadual, bem como a deputados estaduais e federais, além da comunidade, para melhorar a infra-estrutura existente.
A assessoria de imprensa da Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti), diz que não tomou conhecimento da carta dos estudantes, mas já está averiguando o caso. A Seti ainda afirma que a UEM tem autonomia para gestão de seus recursos. O total dos investimentos (tesouro e outras fontes) na UEM, em 2008, foi de R$ 251,6 milhões, contando pessoal, custeio e projetos. O governo autorizou, em 2005, a realização de concursos para contratação de 820 professores efetivos para as Instituições Estaduais de Ensino Superior (IEES).
Segundo o coordenador-geral do CA de Engenharia Agrícola, os estudantes pretendem continuar em greve até receberem a prestação de contas do curso e ouvirem a posição do governo sobre o caso.
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