A Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH/USP) é reconhecida pelos grandes antropólogos, filósofos, geógrafos, sociólogos, cientistas políticos e historiadores que forma; nomes como Florestan Fernandes, Antônio Cândido e Milton Santos são reconhecidos por seus escritos ou por terem sido professores aqui. O antropólogo francês Claude Levi-Strauss foi um de seus primeiros docentes e uma das personalidades que moldou a faculdade como ela é conhecida até hoje.
Muitos destes nomes são ligados ao marxismo ou a algum de seus desmembramentos, como a Teoria Crítica. O próprio Levi-Strauss vinha de uma filosofia, o Estruturalismo, que defendia a diminuição do indivíduo frente às estruturas universais que o rege. Claro que o marxismo não é mais tão hegemônico e o holismo ontológico estruturalista também não é necessariamente anti-liberal - pelo contrário, Levi-Strauss lutou pelos direitos humanos enquanto vivo.
Apesar do curso de Ciências Sociais ter muitas escolas de pensamento representadas em seus três departamentos (sociologia, ciência política e antropologia), o liberalismo é muito pouco estudado e quando o é, geralmente é feito pelos poucos pesquisadores que se alinham a esta posição. Por isso, fica fácil entender a surpresa que é ter estudantes da graduação criando um grupo de estudos liberais no berço da tradição crítica brasileira.
O liberalismo tem uma vida conturbada no Brasil, tendo aparecido aqui só no início de 1820 – e com um poder moderador regulando-o. Desde então, houve poucos expoentes e defensores, tanto econômicos quanto políticos – Roberto Campos e José Guilherme Merquior são dois nomes influentes.
Contudo, nos últimos anos, parece ter aumentado o número de pessoas que se dizem ou se identificam com alguma vertente do liberalismo. Parece que a insatisfação gerada com os governos recentes fez muitos procurarem visões políticas e econômicas alternativas e que foram pouco ou nunca exercidas no país.
E foi exatamente esse crescimento e incorporação de valores liberais que fizeram com que estudantes da FFLCH, que já entraram liberais ou que se tornaram liberais no meio de sua vida acadêmica, se juntassem para criar um grupo onde essas ideias poderiam ser discutidas. A intenção não era contrapor de forma provocativa aos demais grupos com ideias diferentes, mas sim fazer com que pessoas com maneiras distintas de pensar pudessem construir e explorar esse conhecimento conosco.
Inspiração
Talvez um ponto marcante para a identificação de alguns de nós com o liberalismo foram as aulas de Política III, que apresentaram, para muitos, alguns autores do liberalismo político, como Tocqueville e Isaiah Berlin.
Um dos professores foi Álvaro de Vitta, autor de trabalhos sobre Rawls e um social liberal declarado. A partir desta matéria, muitas pessoas passaram a criar um grande interesse em autores liberais, e alguns alunos perceberam que tinham criado um grande envolvimento com o próprio liberalismo. Já no começo deste ano, o número de pessoas que se identificavam ou queriam estudar o tema aumentou bastante, então começamos a nos aproximar e nos reunir.
Percebendo esse crescente interesse e os muitos grupos na internet, três alunos do terceiro ano de ciências sociais resolveram tentar retomar a ideia de um grupo de estudos e debates sobre o liberalismo em suas mais variadas vertentes, para que aqueles que se identificavam com essa corrente pudessem ter um maior embasamento teórico.
Cada um destes estudantes representa uma vertente diferente do liberalismo: liberal clássico, minarquista austríaca e social liberal. Com isso, eles queriam lembrar uma das grandes ideias do liberalismo: defender a individualidade para ressaltar a pluralidade humana.
No início o clima foi de insegurança. Esperávamos ter nosso projeto recebido com certa hostilidade, mas o que encontramos foi uma abertura maior do que o pensado inicialmente. Percebemos que havia uma carência sobre o assunto e que muitos estavam dispostos a estudar o tema e destrinchar as bases desta filosofia política.
Apesar de termos enfrentado (e ainda estarmos enfrentado) algumas críticas por parte de alguns colegas da faculdade, vimos que o movimento de apoio é muito maior. Socialistas, conservadores e liberais se juntarem em um grupo onde nós, finalmente, podemos nos expressar sem qualquer receio e onde podemos analisar os argumentos que o liberalismo defende de maneira profunda.
Como diria Ortega y Gasset, na obra“A Rebelião das Massas”, o liberalismo é “a forma suprema de generosidade: é o direito assegurado pela maioria às minorias e, portanto, o apelo mais nobre que já ressoou no planeta”. E é exatamente o bom convívio, o debate real e saudável, entre nossos colegas de outros posicionamentos políticos e econômicos, que queremos ter. E faremos o possível para manter nosso espaço de debate com estes princípios.
*Estudantes de Ciências Sociais na USP e fundadores do NELi
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â Ideias (@ideias_gp) September 7, 2017
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