Lançado na década de 90 — mais de 20 anos antes de o governo federal instituir o programa nacional de escolas cívico-militares —, o modelo de Colégios Estaduais da Polícia Militar de Goiás (CEPMGs) já defendia que ter disciplina é a chave para uma educação bem-sucedida. Afinal, “não há aprendizagem sem disciplina”, acredita a professora Paula Nogueira.
Gestora pedagógica do Colégio Estadual Militar de Goiás (CEPMG) Dr. Cesar Toledo, na cidade de Anápolis (GO), ela trabalha em parceria com militares desde 2009 e afirma que a presença deles na escola influencia no comprometimento dos estudantes. “Estar em uma turma disciplinada faz com que o aluno desenvolva mais responsabilidade, e as avaliações da nossa instituição evidenciam isso”, relata a educadora, ao citar as notas obtidas no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), indicador utilizado para medir a qualidade de uma rede de ensino.
“Antes da pandemia, em 2019, alcançamos 6,3 no ensino médio e a marca de 7,5 no ensino fundamental, que foi o valor mais alto do estado”. Além disso, mesmo com as dificuldades durante pandemia de Covid-19, as quais mudaram as aulas para o modelo online e híbrido, o colégio recebeu nota 6,8 no ensino fundamental e 6,0 para o ensino médio, índices que correspondem ao sistema educacional regular de países desenvolvidos.
Segundo o Comando de Ensino da Polícia Militar de Goiás, esses resultados comprovam a eficiência desse modelo de educação, já que outras 32 instituições do programa também alcançaram nota 6,0 ou mais para o Ensino Fundamental, e quase 90% das escolas da rede ultrapassaram a meta estabelecida pelo governo federal: 5,3. “Dos 64 colégios que tínhamos até 2021, 47 também bateram a meta do país para o ensino médio, que era 4,9”, comemora o capitão Rogério Santos Silva.
Chefe da Divisão de Controle Pedagógico, ele explica que os colégios militares têm as melhores notas do Ideb em Goiás e, como estão subordinados à Secretaria Estadual de Educação (Seduc-GO), influenciam diretamente no crescimento da nota do estado, que começou com 3,3 no ensino fundamental, em 2005, e chegou à meta de 5,3, em 2021.
“Tínhamos apenas seis unidades militares e fomos aumentando a quantidade para 13, 20, 30, 50, e o Ideb de Goiás foi crescendo gradativamente”, informa o capitão. “Hoje atendemos quase 20% dos alunos da rede estadual em nossas 76 escolas, e isso é um forte indicativo de que à medida que aumentamos o número de colégios militares, melhoramos o Ideb do estado”.
Segundo os dados do governo federal, Goiás obteve o maior índice do Brasil nos anos 2013, 2017 e 2019, perdendo essa posição em 2021. Nesse ano, a liderança do ranking ficou com o Paraná, que também valoriza a educação cívico-militar, com 206 colégios militares.
Mais resultados dos colégios estaduais militares
E há outros resultados positivos desse modelo de ensino, de acordo com a Secretaria de Estado da Educação de Goiás (Seduc-GO). Além de crescimento no Ideb, os CEPMGs se destacam em olimpíadas e mostras do conhecimento, ganhando prêmios como a medalha de ouro na Olimpíada Brasileira de Física das Escolas Públicas (OBFEP), em maio deste ano, e diversas medalhas na edição de 2022.
Também há altas taxas de aprovação nos vestibulares, melhoria no ambiente escolar, mais cuidado com o patrimônio e redução significativa no uso de drogas e nas taxas de violência. “Isso tem sido percebido desde a implantação de nossas primeiras unidades, a partir de 1998, em áreas conhecidas por altos índices de criminalidade, onde a situação mudou com a forte presença da PM nas escolas”, informa o coronel Luciano Magalhães.
Comandante de Ensino da Polícia Militar de Goiás, ele explica que a gestão forte, compartilhada e participativa é um dos motivos para tanto sucesso. “Isso aliado a uma disciplina clara e rígida, com um único regimento escolar adotado em todas as nossas unidades”.
Nesse regimento há normas referentes à regulamentação de uniforme, apresentação pessoal, respeito aos colegas e em relação à autoridade do professor, que “é colocado como principal protagonista dentro da instituição”, pois “onde há disciplina, há resultado”, defende o coronel.
Além disso, a rotina nas instituições cívico-militares também é padronizada. As atividades começam com formação diária, em filas divididas por séries e turmas no ginásio da escola, para receber orientações. Há também o resgate de valores cívicos e patrióticos, como o cântico de Hino Nacional, Hino de Goiás, Hino da Bandeira, e fiscalização dos uniformes, que são doados pelo governo do estado a todos os estudantes.
Após esse momento de abertura das ações escolares, todos seguem para sala de aula com as disciplinas regulares apresentadas por professores designados pela Secretaria de Educação (Seduc). Ou seja, “a direção-geral dos colégios é realizada por um oficial da PM, mas são civis que preenchem as vagas da parte pedagógica, coordenação, secretaria, merenda e serviços gerais”, explica Magalhães, ao citar ainda a oferta de inúmeras atividades no contraturno da escola, como aulas de reforço e esportes.
Para isso, há uma parceria entre a Secretaria de Segurança Pública e a Seduc, a fim de que a administração e disciplina da unidade sejam tarefas do Comando de Ensino da Polícia Militar de Goiás, e a parte pedagógica fique com a Secretaria de Estado da Educação.
“Essa divisão faz toda diferença dentro do contexto pedagógico, e hoje nossas escolas têm filas de espera”, afirma o coronel, ao adiantar que o governo estadual já começou a administrar sete colégios cívico-militares do modelo federal instalados em Goiás e ainda abrirá outras 10 unidades para aumentar a oferta de vagas.
“Hoje, estamos com 76 colégios e 80 mil alunos, mas chegaremos a 86 unidades com 90 mil alunos até o início de 2024”.
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