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Homens são melhores que mulheres em matemática? Não é bem assim. Entenda

Imagem ilustrativa. (Foto: Unsplash.)

Em meu artigo intitulado "Os meninos têm vantagem comparativa em matemática e ciências?" apontei evidências que mostram que, em comparação com as meninas, garotos têm certa vantagem em matemática.

Mas isso acontece porque eles são muito piores do que as meninas em linguagens. Ou seja, na verdade, os meninos não têm uma grande vantagem absoluta em matemática.

Se alguém se especializa naquilo em que têm vantagem comparativa, isso pode, facilmente, levar mais meninos do que meninas a escolher carreiras afins à matemática, mesmo que elas sejam igualmente ou ainda mais talentosas. Como escrevi anteriormente:

Considere o que acontece quando os alunos são aconselhados da seguinte forma: “Aposte naquilo que você é bom!” Em termos gerais, os resultados costumam ser assim: mulheres afirmam “eu alcanço as melhores notas [nota A] em História e Inglês, mas notas não tão excelentes [nota B] em Ciências e Matemática; portanto, devo seguir meus pontos fortes e me especializar em habilidades como conhecimento de História e Inglês”. Por outro lado, os meninos dirão “eu tenho nota B em Ciências e Matemática e C em História e Inglês”, portanto, “devo seguir meus pontos fortes e me especializar em algo que envolva ciências e matemática”.

Uma vantagem comparativa de gênero

Um artigo recentemente publicado no PNAS (Proceedings os the National Academy of Sciences of the United States of America - Relatórios da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos da América, em tradução livre), de Thomas Breda e Clotilde Napp, encontra mais evidências para a hipótese da vantagem comparativa. Os autores analisam a intenção de estudar matemática de cerca de 300 mil estudantes de todo o mundo, que participaram do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa).

A edição de 2012 do Pisa perguntou aos estudantes sobre suas intenções de se especializar em áreas que envolvem matemática. Essas intenções foram medidas por meio de uma série de cinco perguntas, nas quais eram questionados se estavam propensos a: (1) estudar matemática ao invés de cursos de inglês/linguagens, (2) fazer cursos adicionais de matemática ao invés de inglês/linguagens após o término do ensino médio, (3) cursar matemática em vez de ciências na faculdade; (4) frequentar mais aulas de matemática ao invés de ciências; e (5) seguir uma carreira que envolva matemática ao invés de ciências.

Nossa principal medida de intenções dos estudantes em relação à matemática é um índice construído a partir dessas cinco perguntas respondidas por cerca de 300 mil alunos de 15 anos. Ele identifica o desejo dos estudantes de fazer matemática ao invés de linguagens e outras ciências.

O que eles descobriram é que a vantagem comparativa (capacidade matemática em relação à capacidade de leitura) explica melhor as intenções matemáticas do que a capacidade real de matemática ou leitura. A vantagem comparativa também é um preditor melhor das intenções matemáticas do que as percepções da habilidade matemática (as mulheres percebem menor habilidade em matemática em relação à habilidade verdadeira do que os homens, mas o efeito é menos importante para a decisão que a vantagem comparativa).

Em outro conjunto de dados, os autores mostram que a percepção sobre as próprias habilidades em matemática facilita que um aluno siga ou não carreiras relacionadas à matemática.

Fazer o que "vale a pena"

Dessa forma, a acumulação de evidências mostra que a “super-representação” dos homens nos campos de STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) talvez seja melhor enquadrada como “sub-representação” dos homens nos campos de leitura, e este último é impulsionado por resultados de leitura relativamente baixos entre os homens.

Como a diferença de gênero no desempenho em linguagens [entre homens e mulheres] é muito maior do que no desempenho de matemática, os formuladores de políticas públicas podem querer se concentrar principalmente na redução do primeiro. O ensino sistemático para alunos com dificuldades em linguagens, que são predominantemente do sexo masculino, seria uma maneira, por exemplo, de melhorar o desempenho dos meninos nessa área do conhecimento. Uma limitação dessa abordagem, no entanto, é que ela diminuirá a diferença de gênero em campos intensivos em matemática, principalmente empurrando mais meninos em ciências humanas, reduzindo assim a parcela de estudantes que escolhem matemática.

Os autores da pesquisa não colocam isso de maneira tão franca, mas uma das possibilidades é parar de incentivar as pessoas a se especializarem naquilo que pensam que são boas e, em vez disso, orientar para que façam o que vale a pena (economicamente). As áreas STEM pagam mais do que as de humanas.

Se as pessoas seguissem esse conselho, mais mulheres entrariam nas áreas STEM. Acredito que as repercussões da educação são maiores nos campos de STEM, e isso também beneficiaria a sociedade. No entanto, é menos claro se isso beneficiaria as mulheres.

Uma sugestão: conheçam a vida de Mary Clare Peate.

* Alex Tabarrok é professor de economia na Universidade George Mason.

©2019 Foundation for Economic Education. Publicado com permissão. Original em inglês.

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