Entre 2011 e 2017, o número de crianças educadas em casa na Austrália cresceu mais de 80%. Em Queensland, essa quantidade quase quadruplicou. Isso quer dizer que um em cada 200 estudantes australianos foram educados em homeschooling em 2017.
Algumas pessoas acreditam que as crianças educadas em casa deixam de socializar com as outras e permanecem em uma bolha, longe dos desafios normais da vida. Muitos se questionam como os pais podem cultivar em seus filhos aspectos importantes do desenvolvimento social – como resiliência e habilidades interpessoais efetivas – se eles não estão interagindo com colegas em um ambiente escolar típico.
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Famílias que praticam essa modalidade de educação são constantemente confrontadas com a “questão da socialização”, como é conhecido esse tópico na pesquisa em homeschooling. Nós fizemos uma pesquisa que coletou dados sobre vários aspectos da experiência de homeschooling, incluindo a socialização. Um total de 385 pais e responsáveis de todos os estados e territórios australianos, correspondentes a 676 crianças, respondeu ao questionário. Em seguida, realizamos entrevistas com 12 pais ou responsáveis.
Nossa pesquisa, ainda por ser publicada, revelou que as crianças educadas em casa têm amplas oportunidades de engajamento e socialização. Isso inclui tanto estar envolvido em vários grupos de aprendizagem e outros grupos comunitários, quanto participar de cooperativas de homeschooling.
A questão da socialização
As famílias homeschoolers não se enquadram no padrão social aceito por muitos simplesmente por não colocarem os seus filhos em escolas. Quando as pessoas se desviam das expectativas da maioria da sociedade, isso pode suscitar fortes críticas.
Nesse cenário, as preocupações com a socialização são constantes apesar de uma série de artigos científicos constatar que as crianças educadas em casa não são privadas de oportunidades de socialização. Como observam os autores de um artigo:
Embora a educação domiciliar ocorra a partir de uma "casa base", muitas abordagens desta forma de educação expandem o aprendizado para além dos limites do lar familiar, por meio do aprendizado experimental e do acesso a recursos da comunidade.
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Um estudo com 70 crianças norte-americanas educadas por homeschooling concluiu que “as pontuações em habilidades sociais das crianças educadas em casa eram consistentemente mais altas que as dos alunos das escolas públicas”. Outro estudo afirma:
As pesquisas sugerem que, em comparação com crianças que frequentam escolas convencionais, as crianças educadas em casa muitas vezes têm amizades de maior qualidade e um melhor relacionamento com seus pais e outros adultos.
Da mesma forma, uma revisão parlamentar de 2014 sobre o homeschooling no estado de Nova Gales do Sul não encontrou motivos para preocupações em relação à socialização de crianças educadas em casa e nenhuma recomendação nessa área foi considerada necessária.
Uma comunidade ativa
Nossa pesquisa e as entrevistas demonstraram que as crianças educadas em casa eram membros ativos de sua comunidade e eram muito mais engajadas socialmente do que o senso comum equivocadamente sugere.
Quase 50% das crianças abarcadas pelo questionário participam de pelo menos um clube de atividades. Isso inclui 24 esportes diferentes e clubes de Lego, ioga e xadrez, entre outros. Cerca de 40% participam de pelo menos um grupo de aprendizagem regular. Os cursos incluem novos idiomas, jardinagem, Shakespeare e arqueologia.
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A maioria dos homeschoolers da pesquisa brinca semanalmente com crianças de famílias que praticavam ou não o ensino domiciliar. As crianças participam ativamente de sua comunidade por meio de aulas de arte, frequentando grupos de teatro, bandas, coros, aulas de dança e de artes visuais.
Mais de 15% dos participantes da pesquisa destacaram a importância da “família estendida” ter uma participação ativa na vida das crianças e ensinar a elas, a partir de diferentes gerações, habilidades para a vida. A igreja local desempenha um papel importante na socialização de algumas crianças e 9% das crianças participam de grupos infantis ou juvenis com foco em servir a comunidade, como o escotismo.
Cooperativas de homeschooling
Quase 40% das famílias participantes indicaram ser membros de uma cooperativa de homeschooling. São grupos comunitários administrados por um comitê de pais, responsáveis e, às vezes, outros familiares. Esses grupos oferecem várias atividades, como cursos de esporte ou música, aulas de ciências e tecnologia, oficinas de conservação ecológica e cursos voltados para o bem-estar social e emocional.
Com frequência, as crianças participam ativamente na cooperativa, fazendo sugestões a respeito das aulas e organizando elas mesmas os eventos. Um movimento crescente – e uma dádiva para as famílias geograficamente isoladas – é o surgimento de cooperativas de homeschooling virtuais.
Alguns temas-chave emergiram das entrevistas conduzidas com os pais, que podem servir de conselho àqueles que estão começando no homeschooling ou cogitando adotar a modalidade:
- muitos pais que relataram preocupações iniciais em relação à própria capacidade de ensinar seus filhos de forma eficaz acabaram descobrindo que suas preocupações não tinham fundamento;
- o homeschooling não se parece com uma escola convencional, então não tente fazer com que pareça uma: isso não vai funcionar;
- reserve tempo para você – o cuidado consigo mesmo é muito importante;
- participe de algum grupo de homeschooling.
Da próxima vez que você encontrar alguém que esteja praticando o homeschooling com os filhos, em vez de perguntar sobre socialização (coisa que estão cansados de ouvir), considere reconhecer o enorme comprometimento daquela família e as oportunidades fantásticas que eles estão proporcionando aos seus filhos. Preocupações sobre a socialização na comunidade de homeschooling não estão fundamentadas na realidade.
*Kate Burton é professora de Educação na Edith Cowan University e Eileen Slater é pós-doutoranda na mesma universidade.
Tradução de Giovani Domiciano Formenton.
©2019 The Conversation. Publicado com permissão. Original em inglês.
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