Quando o presidente Donald Trump declarou infamemente a preferência por imigrantes da Noruega, ele provavelmente desconhecia que havia selecionado uma das poucas economias desenvolvidas do mundo que passam por um declínio no QI médio.
A Noruega e outros países nórdicos têm visto uma desaceleração de QI, reconhecidamente de níveis relativamente altos, mesmo enquanto mensurações de inteligência no resto do mundo continuam em extenso crescimento.
Uma questão chave é que se a queda recente na Noruega e em outros lugares sugere que o fenômeno mundial também acabará logo.
Níveis médios de inteligência, conforme mensurados por testes padronizados de inteligência, têm aumentado desde pelo menos o começo do século 20. Uma meta-análise recente que incluiu mais de 4 milhões de pessoas em 31 países constatou uma média de aumento de cerca de três pontos de QI por década, ou cerca de 10 pontos por geração. Outro estudo recente descobriu um aumento similar.
O fenômeno é frequentemente chamado de “efeito Flynn”, em homenagem a Robert Flynn, pesquisador da Nova Zelândia que documentou uma série de estudos sobre o QI iniciados no começo dos anos 1980.
O aumento no QI foi encontrado tanto em nações desenvolvidos quanto países em desenvolvimento, mas o grau varia ao longo do tempo e de acordo com o tipo de inteligência mensurada. Por exemplo: o efeito Flynn foi mais forte em testes não verbais quando comparado a testes verbais, e maior para adultos do que para crianças.
Suas causas são muito debatidas. Uma teoria é de que os resultados são uma miragem, refletindo técnicas melhores de resolução de testes ou a seleção das pessoas que respondem aos testes.
Mas as mudanças não foram grandes o suficiente para explicar o fenômeno. Provavelmente múltiplos fatores estão em jogo, incluindo melhorias na nutrição; expansão da educação formal; aumentos na média de frequência escolar; melhorias ambientais como uma redução na exposição ao chumbo; e diminuição no tamanho das famílias, que permite maior foco na educação em cada criança. Há um debate constante sobre se o aumento na média reflete um aumento desproporcional em níveis de QI nos níveis mais baixos.
Uma implicação políticas públicas envolve a necessidade de reconsiderar o que constitui inteligência debilitada. A Suprema Corte Americana determinou, por exemplo, que era uma punição cruel e incomum para um estado executar uma pessoa sem capacidade mental suficiente para entender as consequências das suas ações.
Para isso, um QI de 80 pontos deveria ser considerado hoje equivalente a um QI de 70 pontos há uma geração? Os tribunais têm sido inconsistentes na questão de se ajustar ao efeito Flynn – o próprio professor Flynn argumentou veementemente que eles deveriam se ajustar.
Uma exceção notória ao crescimento mundial estável na média de QI é encontrada nas forças armadas dos EUA: a pontuação dos oficiais nos testes caiu nas últimas décadas. Considerando que as pontuações de QI para a população geral dos EUA continuam a crescer, os resultados das forças armadas presumidamente refletem padrões de recrutamento, e não um fenômeno maior.
O que se destaca é quando as pontuações médias de um país inteiro diminuem. O que nos leva para a Noruega. Nove estudos mensuraram efeitos Flynn negativos em sete países, de acordo com uma revisão sistêmica da literatura.
Os dados noruegueses são particularmente interessantes, porque são baseados nos testes aplicados aos recrutas militares e abrange uma parcela significativa dos homens jovens no país. Eles mostram um declínio no QI médio na Noruega desde meados dos anos 1990.
O próprio professor Flynn conduziu algumas das pesquisas recentes na Noruega e em outros países escandinavos; sua análise sugere um declínio de cerca de 6,5% por geração.
Esses declínios eventualmente ecoarão no resto do mundo ou são específicos aos países em questão? Presumidamente, as causas do efeito Flynn podem diminuir e serem superadas por outras forças – incluindo os efeitos de videogames e outras mudanças culturais e sociais recentes.
Na verdade, um dos estudos recentes constatou que o ritmo do aumento nas pontuações de QI tem sido geralmente mais lento – possivelmente um sinal preliminar de um efeito Flynn negativo à frente. Entretanto, o segundo estudo não encontrou essa desaceleração.
Já que entendemos tão pouco sobre o que faz as pontuações aumentarem, somos deixados com a opção desagradável de esperar para ver o que acontece no mundo. Nos EUA, pelo menos por enquanto, o aumento nos níveis de QI não mostram sinais de desaceleração.
*Orszag é colunista no Bloomberg View. É vice-presidente de investimento bancário no Lazard. Foi diretor do Escritório de Gestão e Orçamento do presidente Barack Obama entre 2009 e 2010 e diretor do Orçamento do Congresso entre 2007 e 2008.
Tradução: Andressa Muniz.
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