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Miriam Ben-Shalom cumprimenta Barack Obama na Casa Branca em 2010: luta contra agenda transgênero | Pete Souza White House
Miriam Ben-Shalom cumprimenta Barack Obama na Casa Branca em 2010: luta contra agenda transgênero| Foto: Pete Souza White House

Quando o presidente Barack Obama assinou o decreto que permitiu o alistamento de homossexuais nas forças armadas americanas, em 2010, Miriam Ben-Shalom estava na plateia. Por um bom motivo: ela foi a primeira pessoa homossexual a obter, na Justiça, a reintegração ao exército americano. Trinta anos depois de sua vitória nos tribunais, Miriam continua na defesa da causa gay. Mas sua prioridade no momento é outra. Ao lado de uma improvável coalizão que inclui conservadoras e feministas, ela tem lutado contra leis e decretos que, na prática, permitem a homens usarem banheiros e vestiários femininos. De Milwaukee, onde vive, Miriam conversou por telefone com a Gazeta do Povo. 

Recentemente, o governador do Estado mais importante do Brasil determinou que alunos da rede pública possam usar  banheiros do sexo com o qual se identificam. Você tem lutado contra regras semelhantes nos Estados Unidos. O que diria sobre este caso? 

Espere até que a filha dele seja atacada por alguém ou tenha algum homem identificado como mulher exibindo sua genitália perto dela. Ele provavelmente nunca parou para falar com nenhuma mulher sobre isso, o que é sexista, e levar em conta as preocupações delas. São homens dizendo a outros homens usando vestidos o que eles podem fazer e onde eles podem ir, e as mulheres não têm mais nenhum espaço só para elas. É como se nós tivéssemos de viver em uma sociedade onde sempre há um pênis. Nós não temos o direito de ter um espaço sem um pênis presente? Eu não odeio homens. Mas há horas em que não os quero em meu espaço. Você nasce com cromossomos XX ou cromossomos XY, e sim, existem pessoas intersexuais mas elas não querem nada com os trans, então vamos deixar as anomalias de fora por um segundo. Você não pode mudar sua biologia. Não pode mudar quem você é. Biologia não é intolerância.  

Considerando que os transexuais já existem na sociedade, qual seria a solução no caso dos banheiros? 

O que há de errado em ter banheiros para homens, mulheres e uma cabine individual de gênero neutro, digamos, para deficientes, ou um pai com a filha garota que precisa trocar de fraldas, ou uma pessoa transgênero? Eu não teho problema com isso. 

O que você pensa de crianças que são tidas como transexuais desde a primeira infância?

Nos Estados Unidos você não pode votar até ter 18 anos, quando você é considerado um adulto; em alguns estados você não pode beber até os 21; você não pode ter seu próprio cartão de crédito antes dos 18. Agora,  estão sugerindo tomar crianças dos pais porque uma garota é mais interessada em brincar com caminhões do que com bonecas ou porque um garoto gosta da cor rosa e os pais não permitem a transição de gênero das crianças. E não se conta às pessoas que, uma vez que você começa com bloqueadores de puberdade e esses hormônios, você fica estéril, especialmente se for mulher. Praticamente não pode ser revertido. Esse é um fato médico. E eles vão atrás das jovens lésbicas e dizem “Oh, você é um homem, deveria fazer a transição”. É como se eles estivesse tentando erradicar as lésbicas.  E existe muita pressão, e você vê algumas dessas crianças na escola dizendo “Eu sou não-binário, talvez eu seja trans”. Elas não sabem! Deixem as crianças em paz.

Por que as crianças parecem ser um alvo prioritário desses grupos?

Porque pode acontecer, mas é muito difícil que as mulheres identificadas como trans engravidem depois de terem tomado os bloqueadores e tudo mais. Então você tem um movimento que, porque não pode se reproduzir, vai morrer. Aonde você vai para conseguir mais membros? Vai atrás das crianças. É quase como um culto. 

Você acredita que o movimento transexual é misógino?

Com certeza. Como alguém poderia duvidar? O que eu acho interessante é que esses homens identificados como trans dizem “Não queremos ir ao banheiro ou vestiário masculino porque temos medo da violência”. Quando mulheres dizem isso a reação é “Oh, você é transfóbica”. Não pensamos que todos os homens identificados como trans são violentos, mas a questão é que qualquer homem pode dizer que se identifica como mulher e ir para um espaço de mulheres. Como você separa os bons dos maus? Os transexuais vão te dizer “Nós temos ido a banheiros femininos há muito tempo”. Ok, então por que fizeram disso uma pauta? Não acho que é apropriado para mulheres e crianças do sexo feminismo terem de tomar banho ao lado de um homem totalmente crescido que tem sua genitália masculina – porque muitos homens identificados como trans não têm cirurgia de mudança de sexo. Eu não quero tomar banho perto de um pênis. 

O que você diria às pessoas no Brasil que discordam dessa agenda mas têm receio de se expor?

Eu diria: aqui está minha mão. Eu estou estendendo minha mão para vocês. Vocês podem descobrir que nós temos mais em comum do que vocês pensam. Eu digo que lésbicas ou gays que são contra isso não deveriam ter medo de sentar e conversar com conservadores, e conservadores não deveriam ter medo de conversar com gays e lésbicas sobre isso. Não misturem as coisas: não incluam aborto ou casamento gay. Foquem nesse assunto. Vocês vão se surpreender com o quanto mais vocês podem ter em comum. Nós precisamos parar de usar rótulos, “Oh, esses direitistas terríveis”, “Esses malditos esquerdistas”.  Nós estamos falando de metade da raça humana que está sendo marginalizada por homens de vestido. 

Quais diferenças você vê entre o novo movimento transexual e o movimento gay nos anos 70 e e 80?

Número um: nós nunca ameaçamos matar ninguém, para começar. Nunca ameaçamos tomar os filhos das pessoas, não ameaçamos ou tirar o direito delas à privacidade.  Nós pedimos para ter os mesmos direitos que todo mundo. Não mais nem menos. Interessante que os transexuais têm mais direitos e proteções que eu tenho como uma lésbica, do que os gays, por causa de uma diretiva do presidente Obama. O que eu vejo nos ativistas trans modernos é que eles querem retirar direitos civis das mulheres. Há cerca de 100 direitos que as mulheres vão a perder se nós tivermos quer aceitar homens “se tornarem” mulheres. Mulheres trabalhavam duro nesse país para conseguir o Título 9, que assegura a presença de mulheres nos esportes. Agora, por causa disso, qualquer homem que diz “Eu me identifico como mulher” pode entrar em um time feminino, tomando um lugar que uma mulher nata teria. Eles agora podem se candidatar a bolsas de estudos que são só para mulheres se eles disserem ser mulheres. Eles podem participar em times olímpicos femininos se eles dizem que são mulheres. 

Miriam Ben-Shalom e a conservadora Kaeley Triller Haver: aliadas improváveisArquivo Pessoal

Como você acabou se aliando aos conservadores?

Eu não era particularmente engajada nesse tema. Não sou uma conservadora, sou uma progressista independente. Ano passado eu fui convidada a ser a madrinha da para a Parada do Orgulho Gay de Milwaukee. Eu aceitei e alguém foi ao meu Facebook e disse “oh, ela é transfóbica”.  Existe um ser humano que deseja ser chamado não de ele ou ela, mas de “isto”. Orelhas mutiladas, o nariz cortado fora, e diz que era um dragão. Eu, estupidamente, disse “Você gostaria de tomar um banho ao lado de uma pessoa como essa?”. Acontece que essa pessoa, antes de “se tornar” um dragão, era um homem identificado como trans. E, sim, houve comentários de mulheres que não eram a favor de homens identificados como trans estarem em lugares de mulheres. Então eles retiraram o convite da parada e o fizeram de uma maneira muito covarde. Apenas postaram algo na internet. Eu não odeio pessoas trans. Eu acho que eles devem ter direitos humanos. Têm que ter o direito de ter um emprego e não serem discriminados. O que eu não aceito é que essas pessoas insistam que um homem pode se tornar uma mulher e uma mulher pode se tornar um homem. E eu não vou aceitar o fato de que esses homens estão tentando quase que apagar as mulheres, negando a nós até o direto de usar os termos corretos para nossos corpos. Eu digo que tenho vagina, eles diriam buraco frontal. 

Como  tem sido o trabalho na coalizão até aqui?

Depois que eu e a (ativista conservadora) Kaeley Triller Haver sentamos juntas, percebemos que nos podemos não concordar em alguns assuntos, mas concordamos que mulheres têm direito a privacidade, a um banheiro delas, e que elas têm o direito de jogar em times de esportes que são femininos, sem um homem de 2 metros de altura. E, devo dizer, tem sido uma coalizão muito boa. Ao contrário das pessoas da esquerda nesse país, que me ofenderam, ameaçaram, para não falar da da comunidade trans, ninguém no lado conservador foi desrespeitoso ou ameaçou me matar. Na verdade, as únicas pessoas que nos ofereceram uma plataforma onde podemos apresentar nosso caso foram os conservadores.

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