A expressão “educação de primeiro mundo” ganhou um novo sentido com a aposta da Inglaterra em unir ensino escolar e pesquisa científica voltada para a educação. Tudo começou em 2011, quando surgiu a iniciativa governamental Education Endowment Foundation (EEF), uma espécie de laboratório que fornece às escolas públicas as informações mais atualizadas sobre quais métodos educativos e de aprendizado funcionam dentro e fora da sala de aula.
Segundo Kevan Collins, presidente da EEF, o objetivo do programa é melhorar o aproveitamento em sala de aula de crianças e adolescentes de três a 18 anos, sobretudo aqueles originários de famílias carentes, desenvolvendo habilidades que serão essenciais para a vida e para o mercado de trabalho.
“Acreditamos que a melhor maneira de fazer isso é ajudando os professores com pesquisas e dados de alta qualidade sobre educação”, explica.
LEIA MAIS: Ensinar os filhos a amar livros é um valor familiar
Para melhorar o ensino escolar e a mobilidade social por meio da educação, a EEF tem dois focos principais: em primeiro lugar, comprovando o que funciona (ou não) no ensino e no aprendizado ao financiar testes, programas e abordagens inovadoras – desde sua fundação, cerca de 10 mil escolas inglesas foram voluntárias para fazer parte dos experimentos educativos.
“Desde a criação da EEF, já financiamos mais de 150 pesquisas. Muitas de nossas recentes descobertas desafiam noções tradicionais da educação. Quem diria que mandar SMS para os pais pode melhorar as notas dos alunos, mas incentivos financeiros com base na performance do estudante não fazem muita diferença?”, provoca Collins.
Integração
Recentemente, um teste financiado pela EEF procurou avaliar qual deveria ser o papel dos professores assistentes na sala de aula – grupo profissional que custa mais de R$ 27 bilhões por ano ao governo.
Pesquisas anteriores haviam sugerido que as maneiras que os profissionais são frequentemente usados nas salas de aula – por exemplo, como professores substitutos para alunos com baixo desempenho escolar – não melhoram o aprendizado. No entanto, a EEF demonstrou por meio de seus estudos que o uso de professores assistentes gera, sim, um impacto positivo significativo desde que em sessões estruturadas para pequenos grupos ou alunos individuais.
A iniciativa impulsiona a educação na Inglaterra fazendo com que escolas, creches e faculdades do todo o país façam uso prático de evidências científicas resultantes das diversas pesquisas realizadas: atualmente, há 22 escolas “laboratórios” por toda a Inglaterra; cada uma delas recebe cerca de R$ 1,1 milhão por três anos para que possam introduzir as novas técnicas de ensino e aprendizado, além de construir uma rede de contatos, influenciando outras escolas da região.
“O compartilhamento de conhecimento entre as escolas é a chave para nosso sucesso. Nossos professores e líderes educacionais agora têm acesso a um grande número de pesquisas científicas com potencial de melhorar a produtividade escolar e economizar dinheiro”, expõe Collins.
Da teoria à prática
Embora Collins acredite que os educadores têm estado cada vez mais atentos às evidências científicas, muitos pesquisadores afirmam que a ciência por si só não é capaz de mudar a forma que os professores conduzem o ensino na sala de aula.
“Não basta ter evidências científicas de que um método é efetivo, é preciso também perceber os componentes comportamentais nessa equação, como motivação e oportunidade”, explica David Gough, professor do Instituto de Educação da UCL.
VEJA TAMBÉM: Quer estudar em Portugal porque não sabe inglês? Pense melhor
“Sabemos que as pesquisas não são suficientes e que aplicar as evidências na sala de aula é o verdadeiro desafio agora. Há muitas barreiras para implementar programas e abordagens inovadoras nas escolas, como a limitação de tempo e recursos, além da pressão por se conseguir resultados rápidos”, afirma Collins, da EEF.
Para reverter essa situação, a estratégia da EEF é apostar na integração entre líderes, professores e pesquisadores, criando um espaço de troca de informações sobre educação e a aproximando da academia.
“Naturalmente, é sempre muito gratificante ouvir que sua pesquisa foi útil para alguém na sala de aula. Para mim, a melhor parte é que isso dá sentido ao que fazemos e mostra como os pesquisadores podem fazer a diferença onde mais importa: nas salas de aula. Se não estamos fazendo isso, qual é o ponto de existirem pesquisadores de educação?”, questiona o professor Rob Webster, pesquisador sênior do Centro de Educação Inclusiva da University College London (UCL).
Exemplos práticos
Para Rob Webster, a mudança que a EEF tem proporcionado à área da educação não se limita ao financiamento de pesquisas, mas particularmente na “tradução” de evidências científicas para uma linguagem mais palpável pelos professores.
“Os pesquisadores de educação precisam ter um papel ativo para garantir que os resultados do nosso trabalho façam sentido para os professores e que as implicações práticas sejam compreendidas e acessíveis. Há, na minha opinião, pouca utilidade em ter pesquisas educacionais, muitas vezes difíceis de ler, em periódicos fechados que os professores não podem sequer acessar”, afirma.
Resultado prático
Por isso, a aliança entre teoria e prática está disponível para os educadores: seu “kit de ferramentas de ensino e aprendizagem”, disponível online, resume as descobertas de mais de 13 mil experimentos realizados em todo o mundo. Os resultados disponíveis incluem a eficácia de cada experimento com base em evidências, custo, tempo de implementação e impacto na aprendizagem.
O alcance das pesquisas mudou a realidade da Ash Grove Academy, uma escola pública localizada em um subúrbio britânico. Com ensino baseado em pesquisas sobre o que realmente funciona na sala de aula, a instituição ganhou lições mais exigentes e sessões de recuperação para alunos com dificuldades. Como resultado, ultrapassou escolas mais sofisticadas em torneios acadêmicos como, por exemplo, campeonato de debates
Deixe sua opinião