Ver uma turma de mais de 20 alunos na faixa dos 9 anos em total silêncio e imóvel nas cadeiras não é cena comum em salas de aula, mas foi assim que as crianças da Escola Municipal Doutel de Andrade, do bairro Boa Vista, em Curitiba, passaram longos minutos à espera de uma chamada no Skype. Aguardada ansiosamente, a conversa ocorrida na última quinta-feira foi com estudantes da Escola Primária Fordley, do norte da Inglaterra. Estudando inglês desde o ano passado, a turminha brasileira tem tido aulas semanais com a professora da escola e praticado o idioma com dois ilustres visitantes: os voluntários ingleses Craig Robson e Michael Gardner, que vieram de Newcastle para desenvolver um projeto de ensino gratuito de inglês e de futebol para crianças carentes, o Project Curitiba.
Com o apoio da professora Maristela Marecos, durante a videoconferência, os alunos curitibanos apresentaram as seleções de futebol, Curitiba e a Arena da Baixada, finalizando com uma música: cantaram para os colegas ingleses a música tema da Copa. Do outro lado da telinha, foi a vez dos britânicos interagirem. Apesar de o Brasil estar no centro do mundo por causa do Mundial, não foram sobre futebol as curiosidades da meninada. O que as crianças inglesas queriam saber eram, simplesmente, coisas de criança. Perguntas e respostas só em inglês abordaram comidas favoritas, hobbies e férias.
Com o fim da conversa, ficou um gostinho de quero mais. "Foi uma oportunidade única. Nunca imaginei que ia falar com crianças da Inglaterra. Fiquei com mais vontade de aprender inglês. Gostaria de visitar o país também", comentou a aluna Giovanna de Maia. João Vitor Oçoski reparou em algo a mais. "Foi divertido conversar com as crianças de lá. Achei as meninas muito bonitas."
Segundo Maristela, a presença dos voluntários do Project Curitiba ajuda a mostrar que o inglês é uma língua viva, que não fica restrita à tevê e aos livros. "Os alunos se sentem mais motivados e se encantam. Temos crianças que são carentes de tudo; se motivam apenas por receber esse carinho, essa atenção diferenciada. Alguns chegam perto deles e só de tocá-los no braço já ficam felizes, se sentem privilegiados", explica. E até a evolução semanal do português dos voluntários estimula os alunos a se dedicarem mais ao inglês.
Futebol
Além do idioma, os cerca de mil alunos das cinco escolas participantes do Project Curitiba têm tido aulas de futebol, momento em que aprendem a lidar com conflitos e desapontamentos trazidos pelas derrotas. Craig conta que o futebol tem o potencial de ajudar jovens que poderiam estar em vulnerabilidade social. "O projeto é importante especialmente para comunidades em que crianças vão para a escola em um período do dia, mas não têm atividades educativas no resto do tempo. Essa falta de atenção pode levá-los a situações de risco, como envolvimento com crime ou drogas", conta.