Na manhã desta terça-feira (22), o Ministério da Educação (MEC) deu início à 1ª Conferência Nacional de Alfabetização Baseada em Evidências (Conabe).
O evento, que termina na sexta-feira (25), reunirá cientistas, professores e palestrantes de vários países, que apresentarão e discutirão entre si evidências científicas e pesquisas sobre alfabetização, literacia e numeracia. O resultado dos debates será concentrado em um relatório, o Relatório Nacional de Alfabetização Baseada em Evidências (Renab), que será publicado em abril de 2020.
Segundo Renan de Almeida Sargiani, presidente científico da Conabe, "a revisão [do relatório] sistemática que será feita levará em conta critérios metodológicos claros e passíveis de replicação".
"É, portanto, um trabalho científico, que seguirá a todos os requisitos necessários para que possamos ofertar a todos os brasileiros um documento pautado por evidências e não por crenças ou ideologias. Isso nos permite desqualificar crenças em favor de fatos cientificamente estabelecidos", disse ele. "A leitura e a escrita não são espontaneamente desenvolvidas, elas precisam ser ensinadas. A maioria das crianças precisa, sim, de ensino explícito, ao contrário do que postulam algumas perspectivas teóricas ainda vigentes".
Doutrinação de governos passados
Para o ministro da Educação, Abraham Weintraub, os péssimos indicadores de alfabetização do país são resultado da doutrinação de governos anteriores. "A verdade é que a educação no Brasil, se os governos anteriores se preocupassem menos em doutrinar, mas em ensinar a ler, escrever, a fazer conta, talvez o país não estivesse em último lugar na América do Sul", disse.
"A palavra que me vem à mente é liberdade, se libertar de falsas percepções que trazem atraso e sofrimento às pessoas", disse o ministro. "A alfabetização no Brasil é um desastre, os arautos que se julgam sábios, supremos, doutos em técnicas, são charlatões, o que eles fizeram está errado".
Presente na cerimônia de abertura, o deputado Gastão Vieira (PROS-MA) disse ter esperado por políticas de alfabetização como as lançadas pelo MEC por "15 anos". "Fui secretário da alfabetização, tive empatia pelas causas da educação. É preciso conhecer a alma de quem faz a educação", disse. "E é isso que talvez tenha impedido, por razões ideológicas, de interesse, que durante todo esse tempo, olhar as evidências que davam certo em outros países, na questão da alfabetização, foi tão difícil".
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