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Convivência

Irmãos em pé de guerra

 | Brunno Covello/Gazeta do Povo
(Foto: Brunno Covello/Gazeta do Povo)

Pais não devem subestimar os desafios emocionais que a chegada de um segundo filho pode trazer à família. Mesmo aqueles que se adaptaram bem à nova vida após a primeira gravidez precisam se preparar para a reação do primogênito ao notar que o afeto e o tempo dos pais têm de ser divididos. Embora o surgimento do ciúme seja encarado com naturalidade por psicólogos e educadores, eles alertam para a necessidade de agir para minimizá-lo, sob o risco de alimentar rivalidades e afetar a autoestima dos irmãos.

Mesmo quando o período de gravidez parece ser bem recebido pelo filho mais velho, com demonstrações de carinho na barriga da mãe, por exemplo, isso tende a mudar assim que o irmão vem ao mundo. "Enquanto a criança está na barriga da mãe, o novo irmão é bem aceito porque o mais velho não sabe como é conviver com ele e todas as suas consequências", diz a diretora da Escola Atuação, Esther Cristina Pereira. Os problemas tendem a aparecer quando o recém-chegado começa a interagir mais com as pessoas ao redor, fazendo gestos e dando sorrisos.

A forma de demonstrar o ciúme pode variar, mas é raro o incômodo ser expressado verbalmente. Cabe aos pais ficarem atentos às mudanças de comportamento. "Muitas crianças demonstram a revolta na escola. Ficam mais ansiosas e agressivas. Acabam fazendo a leitura de mundo de que todos estão contra ela", diz Esther. Há, no entanto, aquelas que se deprimem, param de se alimentar com qualidade, dormem mal e falam menos.

Outra manifestação comum é a tentativa de retorno à rotina de um bebê. Voltar a pedir chupeta, mamadeira ou fazer xixi na calça são algumas formas que os mais velhos encontram para disputar a atenção dos pais, diz Andréia Godoy, pedagoga do Colégio Expoente. Às vezes, até a saúde pode ser afetada, com o aparecimento de febre sem explicação aparente.

Manifestações

A variedade de manifestações ocorre porque o próprio irmão enciumado não entende o que está sentindo. "Há uma mistura de sentimentos que envolvem alegria e raiva. Por um lado, as crianças realmente ficam felizes por contarem com um irmão com quem brincar, por outro, há o medo de os pais o deixarem de lado", explica a psicóloga do Hospital Pequeno Príncipe Rita Lous.

Segundo ela, algumas crianças confundem os sentimentos e, em um mesmo gesto, demonstram intenções opostas. "Na hora em que vão fazer um carinho, por exemplo, dão um aperto forte demais na bochecha do irmão ou pedem para pegar no colo e em seguida querem largar", diz Rita. Para ela, a ambiguidade é a marca dessa relação em crianças pequenas, mas, se houver omissão por parte dos pais, as consequências podem afetar a personalidade de forma duradoura.

Especialmente quando chegam à adolescência, se um dos irmãos alimenta a convicção de que o outro é preferido, o rancor pode dar origem a brigas intensas, disputa por influência e o distanciamento da família.

Traduzir sentimentos dos filhos e manter rotina evitam crises em casa

O diálogo é a solução de muitos problemas e, no caso da rivalidade entre irmãos, deve ser o primeiro a ser usado. Para a psicóloga Rita Lous, conversar com as crianças separadamente, dizer que as ama e que entende o que elas sentem é algo que sempre alivia a tensão. "Nomear os sentimentos ajuda muito, baixando a angústia de quem se sente prejudicado. A criança passa a entender melhor o que está acontecendo com ela própria", explica.

Mas, quando se trata de prevenir conflitos, nada é mais eficiente do que uma rotina doméstica bem organizada. A pedagoga Esther Cristina Pereira defende, por exemplo, que, quando um irmão está em idade escolar e o outro ainda não, a chegada do filho que vem da escola deve ser um momento de acolhida e atenção exclusiva ao mais velho. "Essa é a hora de conversar sobre como foi o dia na escola, o que estudou, que atividades fez. Alguns pais simplesmente param de ver a agenda dos filhos mais velhos quando nasce um bebê porque alegam não terem tempo. Isso é péssimo para a criança", diz.

Envolvimento

A divisão de tarefas é fundamental. No caso de bebês que precisam ficar com a mãe, cabe ao pai ou aos familiares mais próximos garantirem companhia e atenção por tempo extra ao filho mais velho, afirma Esther. "A presença do pai tem de ser reforçada porque a mãe será sempre disputada pelos dois."

Nessa situação, para Rita, a divisão de atenção tem de ser sempre pensada e combinada, pois a tendência natural é a de que todos na casa centralizem seus esforços em prol do bebê, o que nem sempre é justo.

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