Lúdicos e acessíveis, os jogos de tabuleiro são muito mais do que simples passatempo e diversão. Em sala de aula, rolar os dados, andar casas ou dar um xeque-mate são ferramentas didáticas que auxiliam professores a transmitirem conteúdos e que permitem aos alunos desenvolverem habilidades cognitivas e sociais.
O respeito às regras, o saber ganhar e perder, a organização e a capacidade de concentração exigida pelos jogos têm reflexos positivos sobre o desempenho escolar e chegam a influenciar, também, o comportamento dos estudantes.
“Jogos analógicos mexem com habilidades cognitivas e psicomotoras que envolvem raciocínio lógico matemático e espacial (2D e 3D). Utilizá-los no período escolar é melhor porque nesta fase a criança está com o ‘HD limpo’, ou seja, o cérebro tem mais plasticidade, o que facilita a criação de novas ligações [nervosas] e faz com que ela aprenda de maneira mais fácil”, explica Rafael Baptistella Luiz, professor de Jogos Digitais do Centro Tecnológico Positivo e mestre em Design na linha de jogos na área de Educação.
Os jogos também auxiliam o desenvolvimento da observação, do levantamento de hipóteses, da argumentação e da tomada de decisão, como lembra Cintia Katzwinkel Silva, coordenadora pedagógica do período integral e da educação infantil da Escola Trilhas. Segundo ela, tal fato permite ao aluno refletir, analisar, antecipar situações e descobrir a melhor jogada para vencer o jogo – ações que também podem ser levadas para outros aspectos da vida e do aprendizado.
“No xadrez, por exemplo, o aluno tem que ver todos os movimentos das peças, e tem 32 delas para movimentar. Isso faz com que ele aprenda a ter uma visão mais abrangente das coisas e desenvolva o raciocínio lógico”, aponta Leonildo Rubio Junior, professor de Educação Física e Matemática no Colégio Estadual São Pedro Apóstolo, onde também realiza um projeto de xadrez nos contraturnos.
Conteúdos
Outro benefício da utilização dos jogos em sala de aula é a possibilidade de o professor transmitir conteúdos de forma lúdica, indireta.
“No xadrez, por exemplo, o aluno tem que ver todos os movimentos das peças, e tem 32 delas para movimentar. Isso faz com que ele aprenda a ter uma visão mais abrangente das coisas e desenvolva o raciocínio lógico”
Na Escola Trilhas, os jogos de percurso (confeccionados pelos professores com a ajuda dos alunos, em alguns casos) são ferramentas para iniciar os alunos nos conceitos matemáticos. Cintia conta que, jogando, as crianças são incentivadas a somar os resultados (quando jogam com dois dados) e a contar quantas casas faltam e que número precisam tirar para ganhar o jogo.
O ensino da matemática, por meio do xadrez, também está entre as atividades realizadas pelo professor Junior. Ele conta que o jogo permite trabalhar figuras geométricas e progressões aritmética e geométrica com os alunos. “Com ele, também posso falar sobre plano cartesiano. Uma peça na casa A-5 é um ponto cartesiano, uma coordenada dentro de um quadrante”, ilustra.
Jogos digitais
Da mesma forma que os jogos de tabuleiro, os jogos digitais também contribuem para estimular o desenvolvimento de habilidades cognitivas, como lembra Luiz. A diferença, segundo ele, é que este último está mais ligado à destreza e à velocidade de reação, enquanto as atividades analógicas estão mais relacionadas à estratégia e ao raciocínio.
“O estímulo aos jogos não precisa vir somente da escola, mas também da família. Quando a criança está jogando em casa ela também adquire estes benefícios”, acrescenta.
Jogos também trazem benefícios para os adultos
Os benefícios de fazer dos jogos um aliado ao desenvolvimento cognitivo não se restringem às crianças e jovens. Rafael Baptistella Luiz, professor de Jogos Digitais do Centro Tecnológico Positivo, afirma que, apesar de culturalmente ser visto como uma atividade infantil, os jogos também contribuem para o aperfeiçoamento de habilidades dos adultos.
Ele ilustra a questão com casos de empresas localizadas nos Estados Unidos e no Brasil que utilizam os jogos analógicos como ferramenta para os treinamentos corporativos.
Outro exemplo listado pelo professor é o de uma pesquisa realizada com cirurgiões envolvendo jogos digitais com o objetivo de medir o tempo e a precisão dos procedimentos. Ele conta que, no momento em que estava sem cirurgia, o médico ficava em uma sala jogando um jogo de corrida de carros. “A habilidade que ele tinha que ter para jogar ajudou a desenvolver a precisão manual, levando a uma melhora de 30% na velocidade e à redução de 20% na taxa de erro das cirurgias”, conta Luiz.
O professor acrescenta ainda que, ao contrário do que ocorre com os jogos, as pessoas não costumam ver problema em passar horas em frente à TV assistindo à novela ou ao futebol. A diferença, segundo ele, é a de que estas atividades não desenvolvem habilidades, o que ocorre quando a pessoa participa de um jogo.
Julgamento do Marco Civil da Internet e PL da IA colocam inovação em tecnologia em risco
Militares acusados de suposto golpe se movem no STF para tentar escapar de Moraes e da PF
Uma inelegibilidade bastante desproporcional
Quando a nostalgia vence a lacração: a volta do “pele-vermelha” à liga do futebol americano