Aula de xadrez no Colégio São Pedro Apóstolo: jogo permite abordar com facilidade temas de matemática, como figuras geométricas e progressões aritmética| Foto: Pedro Serapio/Gazeta do Povo

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Lúdicos e acessíveis, os jogos de tabuleiro são muito mais do que simples passatempo e diversão. Em sala de aula, rolar os dados, andar casas ou dar um xeque-mate são ferramentas didáticas que auxiliam professores a transmitirem conteúdos e que permitem aos alunos desenvolverem habilidades cognitivas e sociais.

O respeito às regras, o saber ganhar e perder, a organização e a capacidade de concentração exigida pelos jogos têm reflexos positivos sobre o desempenho escolar e chegam a influenciar, também, o comportamento dos estudantes.

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“Jogos analógicos mexem com habilidades cognitivas e psicomotoras que envolvem raciocínio lógico matemático e espacial (2D e 3D). Utilizá-los no período escolar é melhor porque nesta fase a criança está com o ‘HD limpo’, ou seja, o cérebro tem mais plasticidade, o que facilita a criação de novas ligações [nervosas] e faz com que ela aprenda de maneira mais fácil”, explica Rafael Baptistella Luiz, professor de Jogos Digitais do Centro Tecnológico Positivo e mestre em Design na linha de jogos na área de Educação.

Os jogos também auxiliam o desenvolvimento da observação, do levantamento de hipóteses, da argumentação e da tomada de decisão, como lembra Cintia Katzwinkel Silva, coordenadora pedagógica do período integral e da educação infantil da Escola Trilhas. Segundo ela, tal fato permite ao aluno refletir, analisar, antecipar situações e descobrir a melhor jogada para vencer o jogo – ações que também podem ser levadas para outros aspectos da vida e do aprendizado.

“No xadrez, por exemplo, o aluno tem que ver todos os movimentos das peças, e tem 32 delas para movimentar. Isso faz com que ele aprenda a ter uma visão mais abrangente das coisas e desenvolva o raciocínio lógico”, aponta Leonildo Rubio Junior, professor de Educação Física e Matemática no Colégio Estadual São Pedro Apóstolo, onde também realiza um projeto de xadrez nos contraturnos.

Conteúdos

Outro benefício da utilização dos jogos em sala de aula é a possibilidade de o professor transmitir conteúdos de forma lúdica, indireta.

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“No xadrez, por exemplo, o aluno tem que ver todos os movimentos das peças, e tem 32 delas para movimentar. Isso faz com que ele aprenda a ter uma visão mais abrangente das coisas e desenvolva o raciocínio lógico”

Leonildo Rubio JuniorProfessor de Educação Física e Matemática no Colégio Estadual São Pedro Apóstolo

Na Escola Trilhas, os jogos de percurso (confeccionados pelos professores com a ajuda dos alunos, em alguns casos) são ferramentas para iniciar os alunos nos conceitos matemáticos. Cintia conta que, jogando, as crianças são incentivadas a somar os resultados (quando jogam com dois dados) e a contar quantas casas faltam e que número precisam tirar para ganhar o jogo.

O ensino da matemática, por meio do xadrez, também está entre as atividades realizadas pelo professor Junior. Ele conta que o jogo permite trabalhar figuras geométricas e progressões aritmética e geométrica com os alunos. “Com ele, também posso falar sobre plano cartesiano. Uma peça na casa A-5 é um ponto cartesiano, uma coordenada dentro de um quadrante”, ilustra.

Jogos digitais

Da mesma forma que os jogos de tabuleiro, os jogos digitais também contribuem para estimular o desenvolvimento de habilidades cognitivas, como lembra Luiz. A diferença, segundo ele, é que este último está mais ligado à destreza e à velocidade de reação, enquanto as atividades analógicas estão mais relacionadas à estratégia e ao raciocínio.

“O estímulo aos jogos não precisa vir somente da escola, mas também da família. Quando a criança está jogando em casa ela também adquire estes benefícios”, acrescenta.

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Jogos também trazem benefícios para os adultos

Os benefícios de fazer dos jogos um aliado ao desenvolvimento cognitivo não se restringem às crianças e jovens. Rafael Baptistella Luiz, professor de Jogos Digitais do Centro Tecnológico Positivo, afirma que, apesar de culturalmente ser visto como uma atividade infantil, os jogos também contribuem para o aperfeiçoamento de habilidades dos adultos.

Ele ilustra a questão com casos de empresas localizadas nos Estados Unidos e no Brasil que utilizam os jogos analógicos como ferramenta para os treinamentos corporativos.

Outro exemplo listado pelo professor é o de uma pesquisa realizada com cirurgiões envolvendo jogos digitais com o objetivo de medir o tempo e a precisão dos procedimentos. Ele conta que, no momento em que estava sem cirurgia, o médico ficava em uma sala jogando um jogo de corrida de carros. “A habilidade que ele tinha que ter para jogar ajudou a desenvolver a precisão manual, levando a uma melhora de 30% na velocidade e à redução de 20% na taxa de erro das cirurgias”, conta Luiz.

O professor acrescenta ainda que, ao contrário do que ocorre com os jogos, as pessoas não costumam ver problema em passar horas em frente à TV assistindo à novela ou ao futebol. A diferença, segundo ele, é a de que estas atividades não desenvolvem habilidades, o que ocorre quando a pessoa participa de um jogo.