Combate ao chamado Kit Gay. Essa talvez tenha sido a maior atuação do presidente Jair Bolsonaro como membro titular da Comissão de Educação (CE), em seu último mandato como deputado federal, no ano de 2016.
Suas aparições na CE, na verdade, são breves. Ele mesmo confessou que educação "não era sua praia", e teve maior participação em outras comissões, como a Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional e a Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado.
Bolsonaro ausentou-se de pelo menos 30 das reuniões deliberativas ordinárias no ano, e é possível observar falas por parte do então deputado apenas duas vezes, de acordo com os registros taquigráficos da Câmara dos Deputados.
Livros didáticos
Inaugurando sua participação na CE, em junho de 2016, em um seminário sobre a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), Bolsonaro disse que acompanharia os debates para saber "onde a esquerda queria levar o país", e repetiu, por mais de uma vez, que sua briga "era contra o Kit Gay", como ficaram conhecidas, na verdade, as ações do programa "Escola Sem Homofobia", esforço do governo de "Combate à Violência e à Discriminação contra LGBTs e Promoção da Cidadania Homossexual".
"A doutrinação em livros escolares não vai ser a partir do ano que vem, já está há algum tempo. Eles, inclusive, selecionam aqueles que eles querem atacar, bem como aqueles que eles querem 'endeusar'", disse, na época, sob acusações de ser "fascista e golpista" por parte de outros parlamentares. "Tenho livros comigo, distribuídos no GDF [Governo do Distrito Federal], onde idolatram Zé Dirceu, Fidel Castro, Che Guevara".
Um livro didático que associava um grupo de jovens neonazistas brasileiros à figura de Bolsonaro também foi apresentado pelo então parlamentar. “A maioria dos grupos [neonazistas] é composta de jovens que pregam a violência física e perseguição a negros, nordestinos e homossexuais”, disse. "Qual a minha bronca com nordestinos, eu quero saber, qual é a minha bronca. Qual é a minha acusação contra negros?".
Duração de beijo lésbico
Em outro episódio, no qual os parlamentares discutiam o Sistema Nacional de Educação (SNE), Bolsonaro bateu boca com André Lazaro, então secretário de Educação Básica do Ministério da Educação (MEC).
O secretário, que deixou a comissão antes que a audiência terminasse, foi questionado por Bolsonaro. "Fica aqui, vai embora por quê? Isso é armação dele, que não quer ouvir a verdade", disse.
O então deputado denunciaria, minutos depois, um vídeo no qual Lázaro pondera sobre um beijo lésbico: "ficamos discutindo uns três meses até onde entrava a língua". Lázaro deixou a reunião e disse ao parlamentar que se "divertisse".
No vídeo em questão, o secretário conversava com deputados e grupos LGBTs sobre os materiais propostos ao MEC para o combate à violência e discriminação contra homossexuais. Os conteúdos, na verdade, não foram acolhidos pela pasta mais tarde.
"Ele está atacando a família, as crianças, é um pervertido. Que a nossa educação está na lona, não tem dúvida. É uma vergonha, 13 anos de pátria educadora. Eu prefiro chamar de escolas doutrinadoras ou deformadoras", disse Bolsonaro.
Denunciando o Kit Gay, ele folheou o livro "Aparelho Sexual e Cia – Um guia inusitado para crianças descoladas", que não fazia parte do programa Escola sem Homofobia, mas, como mostrou a Gazeta, há registro público de que a gestão do MEC da época discutia a recomendação do livro para o Ensino fundamental.
"Isso serve para deformar o caráter das crianças, escola não é lugar de aprender isso aqui. Se não temos recursos, devemos investir em outra coisa, escola é lugar de aprender química, física, matemática, biologia, educação moral e cívica", disse. "O que o governo quer é o seguinte: não tome quartéis, tome escolas. Nossas crianças são 'emburrecidas' [sic], não sabem nada, não sabem bulhufas".
* Veja abaixo parte da sessão, publicada no YouTube:
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