Mais de 38 milhões de brasileiros estão acima do peso, segundo a Organização Mundial da Saúde. A obesidade mórbida é a realidade de cerca de 525 mil crianças e 140 mil adolescentes no país. As altas taxas de colesterol, pressão alta, diabete e doenças do coração que deixaram de ser "doenças de adultos" também crescem entre o público infantojuvenil. Tais dados compõem um quadro preocupante que merece atenção dentro de casa e nas escolas.
De olho na alimentação dos estudantes, instituições de ensino e o poder público têm adotado medidas e elaborado programas para oferecer refeições mais nutritivas e estimular os jovens a ter uma vida mais saudável. No mesmo caminho, novas leis são criadas para enfrentar o problema.
No Centro de Educação Infantil José de Paiva Netto, mantido pela Legião da Boa Vontade, por exemplo, as 900 refeições servidas diariamente para cerca de 200 crianças passam por rigoroso controle nutricional. O resultado é conferido trimestralmente, com a pesagem e medição de cada aluno.
De acordo com a nutricionista responsável, Silvana Seleme, quando há sinais de problemas no acompanhamento nutricional das crianças, pais e professores são avisados. "Além disso, fazemos testes de aceitabilidade de novos alimentos e as crianças participam de um projeto, no qual elas montam uma horta isenta de agrotóxicos, consumindo o que produzem depois", conta.
Cantinas
Conforme a última Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Ministério da Saúde, apenas um terço dos alunos matriculados no ensino fundamental da rede privada consomem frutas e hortaliças em pelo menos cinco dias da semana. Já refrigerantes e frituras fazem parte da rotina alimentar de 40% deles.
A maioria das cantinas comerciais está localizada em escolas particulares. Isso faz com que a qualidade nutricional do que é servido no balcão seja inferior à da comida dos refeitórios das escolas públicas. Com o intuito de incentivar os colégios particulares a oferecerem alimentos com menos sódio, açúcar e gordura, a Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep) firmou um acordo neste ano com o Ministério da Saúde.
O pacto segue a mesma linha da Lei Estadual da Cantina Saudável, de 2004, que já proibia a comercialização de diversos doces, refrigerantes, sucos artificiais, salgadinhos e frituras em escolas públicas e privadas. "O hábito alimentar começa a se formar na infância e esse hábito não é formado apenas em casa. A escola tem papel fundamental nesta educação", afirmou o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, quando o acordo foi anunciado.
Segundo Noely Luiza Deschermayer Santos, diretora de Ensino da Educação Infantil do Sindicato das Escolas Particulares do Paraná (Sinepe/PR), cada escola particular pode ter um cardápio diferenciado, desde que ele seja montado por um nutricionista para que tenha adequação nutricional. Esse profissional também tem o papel de fazer a educação nutricional e orientação de boas práticas de manipulação de alimentos às cozinheiras, professoras e orientações aos pais.
Esse trabalho com a família é fundamental e requer intervenções diárias, segundo Silvana. "É ainda mais importante depois de férias e feriados, quando as crianças ficam mais tempo em casa e recebem alimentação não tão nutritiva. Como profissionais da saúde, precisamos persistir para que a alimentação saudável atinja não só as crianças na escola, mas também sua família e amigos", afirma.
Da horta para a escola vizinha
Além de uma refeição com frutas, verduras e legumes fresquinhos, produzidos na vizinhança da Escola Estadual Leôncio Correia, em Curitiba, os alunos do colégio passaram a receber produtos orgânicos neste ano. Por uma preferência dos estudantes, a merenda mais parece um almoço. Macarrão, arroz, feijão, risoto e sopa são servidos no lanche da manhã, às 10 horas, com variações ao longo da semana. Segundo Nilza Alves, servidora do colégio, a merenda tem uma aceitação muito boa entre os alunos. "Isso se deve muito à dedicação e criatividade das merendeiras", conta.
Assim como ocorre na Leôncio Correia, alimentos frescos produzidos por agricultores familiares chegam a estudantes de outros 1.807 estabelecimentos estaduais de ensino, nos 399 municípios do Paraná. Atualmente, 87% das escolas estaduais adquirem alimentos da agricultura familiar para a merenda escolar, resultado da Lei 11.947/09, que regulamenta o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) e determina o uso de pelo menos 30% dos recursos repassados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) na compra de produtos desse tipo para a alimentação escolar.
De acordo com Márcia Cristina Stolarski, diretora de Infraestrura e Logística da Secretaria de Estado da Educação, o cardápio de cada escola é definido pelo perfil e preferência dos alunos. "Algumas escolas que têm alunos com nível socioeconômico mais alto não querem arroz e feijão na merenda, querem lanche. Já aquelas com alunos mais carentes preferem pratos que sustentam mais", conta.