Com a retomada das aulas - que deve ocorrer nos próximos meses, ainda sem data definida -, escolas e famílias terão novos desafios por causa do novo coronavírus. Professores e pais terão papéis determinantes no processo de aprendizagem dos alunos e na transição para essa nova fase após a pandemia.
Cada instituição precisará estar preparada para acolher as crianças e adolescentes que permaneceram em isolamento social por meses. Preocupada com essas questões, a equipe do projeto Ler e Pensar, iniciativa da Gazeta do Povo e do Instituto GRPCom, promoveu a última palestra online, nesta sexta-feira (29), de uma série de lives que começou em abril, para auxiliar professores e os pais nesse período de paralisação e ensino remoto. (Assista aos vídeos abaixo.)
"O objetivo foi tentar ajudá-los a entender como a escola pode atuar no presente e se preparar para o futuro, com essa transformação na educação que a pandemia causou. Em outras palestras, apresentamos ferramentas, esclarecemos dúvidas e discutimos novos caminhos para a educação durante e após a Covid-19", explicou a gestora do Ler e Pensar, Mariane Maio.
Parte desses questionamentos serão esclarecidos no novo parecer que o Conselho Nacional de Educação (CNE) deve lançar entre julho e agosto. A informação foi dada por uma das palestrantes, Maria Helena de Castro, que é conselheira do CNE e membro da Academia Nacional de Educação.
Segundo ela, com a volta às aulas, as escolas precisarão se reinventar, mas para isso terão o apoio desse novo documento que está sendo preparado pelo Conselho. Ele trará propostas e sugestões para ajudar professores, diretores e coordenadores pedagógicos em todas as etapas de ensino, desde a alfabetização até o ensino médio, a planejar desde a aplicação de atividades presenciais e as não presenciais (ensino híbrido), avaliação diagnóstica, estratégias de comunicação e acolhimento, além do protocolos da área da saúde que serão estabelecidos por cada estado.
O segundo parecer deve trazer uma novidade que é o "Contínuo Curricular", que propõe uma flexibilização curricular entre 2020 e 2021, ou seja, provavelmente o calendário do próximo ano letivo será ampliado para dar conta dos objetivos de aprendizagem de cada ciclo escolar. As férias, por exemplo, poderão ser encurtadas, porque as escolas não vão conseguir cumprir 80% das horas aulas. Essa medida está prevista na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), em caso de calamidade pública ou mesmo uma pandemia.
De acordo com Maria Helena, o CNE estabeleceu que não serão 200 dias letivos, mas uma medida provisória manteve as 800 horas que cada instituição deve cumprir anualmente.
Nova escola
Segundo a conselheira, será um retorno gradual, provavelmente, os alunos mais novos, que têm mais dificuldade com as atividades não presenciais, devem ser os primeiros a voltar para as escolas. As turmas deverão ser redistribuídas, para ter menos alunos em sala. Dessa maneira, estará adequada para as novas exigências da pandemia.
As escolas também deverão utilizar as atividades não presenciais para complementar as presenciais. Esses esforços, somados ao uso das tecnologias, podem ajudar no desenvolvimento dos alunos.
Mas, para que isso aconteça, Maria Helena acrescentou que é preciso mudar a formação dos professores. "Eles não estão preparados ainda e precisam utilizar esses recursos para auxiliar nessa nova fase", explica.
Já o professor e doutorando em Educação, Renato Casagrande, afirmou durante a discussão que o ensino híbrido, o modelo que associa aula presencial com aula remota, é uma grande tendência. "Quando tudo isso passar, a escola não será a mesma. Teremos as aulas presenciais e as remotas acontecendo em casa. E vamos assim construir um novo modelo, que vai perdurar por muito tempo ", opinou.
Casagrande ainda destacou que nessa transição, cada profissional terá um papel fundamental junto à família. Segundo ele, o coordenador-pedagógico da instituição de ensino precisará ter uma comunicação efetiva com a família, além de ajudar na avaliação, a organizar como funciona a reposição das aulas e como será o controle da carga horária.
Os pais devem ser orientados pelas escolas a organizar o horário dos alunos. Já o professor terá mais um desafio: "assumir o papel de psicólogo, assistente social, além de agentes de saúde", segundo o palestrante.
"Somos da ludicidade, do afeto, do carinho, mas agora será uma escola chata. Não poderemos abraçar como sempre fazemos, mas intensificar o distanciamento", salientou Casagrande.
Uma pesquisa realizada pelo Instituto Península aponta que 83% dos professores não se sentem preparados com essa nova forma de ensinar.