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Músicas são registros de uma época. E uma boa forma de aprender História. O samba, por exemplo, tem uma trajetória fabulosa e ilustra o século 20 no Brasil. No início, estava à margem e era tocado no fundos de quintais, já que o gênero tolerado pela elite era o choro. Até os anos 30, era ideal para dançar a dois e tinha um formato muito parecido com o maxixe, outro gênero que sofreu influência africana. O grande compositor dessa fase atendia pelo nome Sinhô (João Barbosa Sobrinho), "o rei do samba". É dele a belíssima "Jura", regravada recentemente por Zeca Pagodinho para tema de novela da Rede Globo.

Em 1928, acontece a primeira grande revolução musical brasileira. Ismael Silva, compositor do morro do Estácio de Sá, funda a Deixa Falar, primeira escola de samba. O surdo e o tamborim são incorporados à bateria, mudando a maneira de as agremiações desfilarem.

As letras, nos primórdios do samba, faziam louvação à malandragem. Não era fácil para os sambistas – vistos como desocupados e arruaceiros. Carregar violão, inclusive, dava cadeia. A polícia revistava os dedos do "suspeito" para saber se trazia as marcas das cordas de aço. Se tivesse, dava cana.

A partir de 1937, sete anos depois da revolução que alçou Getúlio Vargas ao poder, os sambas passam a retratar um malandro regenerado pelo trabalho (mentalidade que era carro-chefe da política getulista no chamado Estado Novo). As mudanças continuam. O violão, marginalizado até os anos 40, no final da década de 50 vira peça de mobília obrigatória nos lares de boa família: não por menos – a bossa nova, um estilo Zona Sul, exigia um banquinho e um violão. O maior símbolo dessa época é João Gilberto – o artista que descobriu a batida de violão que revolucionou a música brasileira.

A auto-estima nacional nunca esteve tão em alta como nos "anos dourados", aqueles em que Juscelino Kubitschek (1956 – 1961) chegou ao poder. O país ganha a Copa do Mundo de 58, a tenista brasileira Maria Esther Bueno é bicampeã no Torneio de Wimbledon e Anselmo Duarte ganha a Palma de Ouro em Cannes por sua atuação no filme O Pagador de Promessas.

Nos anos 60, uns vêem o samba como instrumento de resistência contra qualquer influência norte-americana (música de protesto), outros como algo anacrônico (preferindo a Jovem Guarda) ou ainda como uma das muitas vertentes sonoras do Brasil (variedade que inspirou o tropicalismo).

Hoje, grandes compositores brasileiros como Chico César, Zeca Baleiro, Lenine e Adriana Calcanhotto, continuam fazendo samba em meio a outras composições, como rock, rap, funk, punk, frevo, embolada... Antene-se: à maneira do bom e velho samba, esses ritmos falam, também, de História.

Luciana Worms e Wellington Borges Costa. Formados pela USP, são professores do Curso Positivo. Ela de Geopolítica e ele de Português. Ambos ganharam o Prêmio Jabuti, em 2003, com o livro Brasil Século XX ao Pé da Letra da Canção Popular.

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