• Carregando...
 | ELZA FIUZA - ABR
ELZA FIUZA - ABR
| Foto: ELZA FIUZA - ABR ELZA FIUZA - ABR

No discurso, é fácil: ninguém é contra a melhoria da educação no Brasil. Como de costume, a campanha eleitoral de 2018 vai trazer o ensino brasileiro para o centro da pauta – a situação das escolas públicas, o acesso à universidade, a manutenção ou não das cotas sociais e raciais. Em um momento de corte de verbas, a ideia da educação como o futuro do país voltará a ser apresentada diariamente, em comícios e horários eleitorais. 

Mas o que, realmente, os pré-candidatos à presidência pensam e já fizeram a respeito da educação? 

Com trajetórias políticas diversas, os possíveis presidenciáveis tiveram oportunidades diferentes de atuar em torno do tema. Se Lula foi presidente por oito anos e teve uma longa lista de promessas eleitorais antes disso, assim como Geraldo Alckmin e Ciro Gomes têm uma larga experiência de mandatos e campanhas pelo Executivo, João Doria está há apenas um ano exercendo um cargo político. Por outro lado, alguns pré-candidatos têm uma caminhada apenas legislativa, onde as sugestões próprias são tão importantes quanto as votações contra e a favor de projetos alheios – casos de Marina Silva, Jair Bolsonaro e Manuela D’Ávila. 

Gazeta do Povo foi atrás daquilo que os nomes cotados à Presidência já disseram – e fizeram – ao longo de suas carreiras políticas. 

 

Ciro Gomes 

Murilo Silva Capol/CreativeCommons

Os bons resultados do modelo educacional do Ceará são uma das principais bandeiras de Ciro Gomes às vésperas das eleições de 2018. Em suas falas, o político costuma citar as conquistas de seus aliados, sobretudo o bom desempenho do estado no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), que compara escolas do país inteiro.  

De acordo com a última avaliação do Ideb, 77 das 100 melhores escolas nos anos iniciais (até a 5ª série) estão localizadas no estado, e a melhor do Brasil se situa em Sobral – reduto eleitoral de Ciro e de seu irmão, Cid Gomes, governador do Ceará entre 2007 e 2015. Até o 9º ano do ensino fundamental, são 35 escolas cearenses entre as 100 melhores do país, segundo o Ideb. 

Ciro, que se manifestou contra a PEC do Teto dos Gastos Públicos, aponta o caso cearense como exemplo de que é possível otimizar os investimentos mesmo em um contexto de dificuldades. Para o pré-candidato, os investimentos per capita em áreas como educação e saúde estão abaixo do ideal devido ao que considera a “despesa mais perversa” – os juros da dívida pública. 

Os críticos de Ciro apontam que a maioria das escolas bem avaliadas no Ceará não são de competência estadual, mas municipal, e que o sistema de ensino local teria se adaptado para burlar a prova do governo federal: a oposição acusa os governos cearenses de dar mais foco ao ensino de português e matemática (disciplinas avaliadas pelo Ideb) enquanto minimiza as outras matérias, e inflar as taxas de aprovação (o Ideb é resultado da multiplicação das notas dos alunos na avaliação nacional pela aprovação média registrada em suas escolas). 

 

Geraldo Alckmin  

Alexandre Carvalho A2img

Governando São Paulo desde o início do século, com uma interrupção entre 2006 e 2011, Geraldo Alckmin também usa o Ideb para propagandear as políticas educacionais adotadas em seu estado. Se o Ceará possui as melhores escolas individuais, especialmente nos anos iniciais, é São Paulo que conta com as melhores médias estaduais: o estado aparece em 1º lugar nos anos iniciais do ensino fundamental, em 2º nos anos finais, e em 1º no ensino médio. 

Nos últimos anos, o governo instituiu um bônus a ser pago aos funcionários de escolas que atinjam ou superem as metas estabelecidas pelo próprio governo paulista, em um valor que chega a até 70% de um salário mensal. Em abril deste ano, cerca de R$ 290 milhões foram distribuídos entre 200 mil professores, diretores e técnicos pelos resultados registrados em 2016. 

São Paulo também vem investindo na educação de tempo integral, com cerca de 152 mil alunos (número inferior a 4% do total das matrículas estaduais) em escolas do tipo, que têm jornadas de até nove horas e meia e três refeições diárias, além de disciplinas eletivas para compor o currículo obrigatório. 

O governo paulista, porém, também enfrentou forte resistência do movimento estudantil em episódios como a tentativa de reorganização escolar ocorrida no final de 2015. Na época, para conter despesas, foi anunciada uma mudança no funcionamento do sistema em algumas cidades, que causaria o fechamento de quase cem unidades de ensino e transferências de alunos. O episódio foi marcado por ocupações de estudantes contrários à medida em todo o estado, e o projeto foi deixado de lado. 

Jair Bolsonaro  

Fabio Rodrigues-Pozzebom Abr

Além da sua conhecida trajetória militar, Bolsonaro também foi professor de educação física antes de iniciar a carreira política. Mas foi a vivência da caserna que marcou, principalmente, sua trajetória legislativa até hoje: seus primeiros mandatos foram conquistados com propostas voltadas claramente a questões militares e, com o passar dos anos, a pauta gradativamente passou a incorporar temas relacionados à segurança pública.  

Em 26 anos de Câmara, o pré-candidato que hoje ocupa o segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto foi autor de apenas um projeto ligado à educação. Ainda na década de 90, em seu primeiro mandato, Bolsonaro apresentou uma proposta que buscava conceder descontos em mensalidades escolares para famílias de militares que tivessem mais de um filho. O projeto não virou lei. 

O que mais se destaca na atuação de Bolsonaro quanto à educação não é o que ele aprovou, mas o que contribuiu para vetar. Em 2011, foi um dos deputados mais ativos no processo que impediu a distribuição de um material sobre a homofobia nas escolas públicas brasileiras. Elaborada durante o ministério de Fernando Haddad, a cartilha foi apelidada de “kit gay” pelos opositores e acabou rejeitada. 

Em entrevistas e nas redes sociais, o deputado usa as escolas militares como exemplo de excelência, e indica que sua presidência veria a militarização de um número ainda maior de escolas públicas – seguindo o modelo adotado em Goiás, onde a abertura de novos centros militares de ensino melhorou os índices de educação em escolas antes mal avaliadas. Bolsonaro também declarou que, se fosse presidente, convidaria um general ex-diretor de colégio militar para o cargo de Ministro de Educação. 

 

João Doria  

Wilson Dias Agência Brasil

Com pouco mais de um ano de vida pública, o prefeito de São Paulo ganhou rapidamente as manchetes e se tornou um potencial candidato à presidência, batendo de frente com candidatos mais experientes do PSDB, como Geraldo Alckmin e Aécio Neves. No que diz respeito à educação, Doria tem tentado um difícil equilíbrio entre as promessas por mais vagas em creches e escolas municipais e a necessidade de contingenciamento de gastos. 

No início deste ano, em meio a cortes orçamentários nas várias pastas do governo, o governo paulistano anunciou um congelamento de R$ 1,28 bilhão nos recursos para a Educação. Os cortes atingiram principalmente as despesas de compra de material e operação, mas não os investimentos em pessoal. O novo governo atribuiu a necessidade de cortes a erros de gestão do ex-prefeito, Fernando Haddad. 

O governo Doria também se envolveu em polêmicas relacionadas à alimentação dos alunos. O número de beneficiados pelo programa Leve Leite, que desde 1995 distribuía leite gratuitamente a alunos de até 16 anos, teve seu limite de idade baixado para 6 anos, resultando num corte de 73% do total de beneficiados. A justificativa foi que há “baixa necessidade” do leite para complementar a nutrição acima dessa idade. Por outro lado, em outubro, a gestão Doria foi criticada após propor a incorporação do composto alimentar farinata à merenda escolar. 

A Prefeitura justifica os cortes apontando que, só com a redução do Leve Leite, mais de 23 mil vagas em creches puderam ser criadas. O governo convivia com um déficit estimado em quase 66 mil vagas no momento em que assumiu. Outras medidas polêmicas, como o fechamento de áreas de leitura em escolas municipais, também foram explicadas pelo projeto de ampliar o número de matrículas – neste caso, pela liberação de espaço físico. 
 

Luiz Inácio Lula da Silva 

Ricardo Stuckert Divulgação

O governo Lula promoveu a maior expansão do ensino superior no Brasil desde o regime militar. Entre 2002 e 2010, o número de vagas em universidades do país quase dobrou, passando de 3,52 milhões para quase 6,38 milhões de alunos matriculados em instituições públicas e privadas.  

A ampliação de vagas veio acompanhada de medidas criticadas tanto pela oposição – como a adoção de cotas raciais nos processos seletivos – quanto por apoiadores do governo – com um número cada vez maior de instituições de ensino superior privadas no país, favorecidas pela flexibilização de critérios nas avaliações federais de qualidade. Apesar de apontar a expansão das universidades federais como uma de suas conquistas, o governo Lula fez a fatia de mercado ocupada por universidades particulares bater recordes históricos, chegando a mais de 74% das matrículas em 2010. 

O foco dado ao ensino superior não foi equiparado por uma mesma atenção na educação básica. Embora a taxa de analfabetismo tenha se reduzido ao longo dos oito anos de governo (de 11,8% dos brasileiros acima de 15 anos em 2002 para 8,6% em 2011), o Brasil seguiu ocupando as últimas posições nos rankings internacionais de educação, em avaliações como o Pisa (sigla em inglês para Programa Internacional de Avaliação de Estudantes). 

A falta de investimentos de longo prazo na educação básica fez o Brasil piorar o já pífio desempenho e perder posições na classificação mundial do Pisa durante o governo seguinte, de Dilma Rousseff. Na avaliação mais recente, feita em 72 países em 2015, o Brasil ocupava a 59ª posição em leitura, 63ª em ciência e 66ª em matemática. 

 

Manuela D’Ávila 

Reprodução / Facebook

Recém-lançada pelo PC do B, Manuela D’Ávila é a mais jovem entre os candidatos cotados para o pleito presidencial do ano que vem. Aos 36 anos, Manuela já foi vereadora em Porto Alegre e deputada federal pelo Rio Grande do Sul entre 2007 e 2015, antes de regressar à capital gaúcha para ocupar um cargo de deputada estadual – a saída de Brasília foi, segundo a política, para favorecer a criação da filha, à época com cinco meses de idade. 

Como deputada federal, Manuela D’Ávila foi ativa na discussão do novo Plano Nacional de Educação, iniciada em 2010 e só aprovado definitivamente em 2014. Entre as emendas que propôs, e acabaram não sendo incluídas, estava a destinação de 50% dos recursos do pré-sal para a educação pública, a realização de eleições diretas e paritárias para os conselhos universitários e o compartilhamento de responsabilidades dos Hospitais Universitários pelos Ministérios da Educação, Saúde e Ciência e Tecnologia. 

Na Assembleia Legislativa gaúcha, como Procuradora Especial da Mulher, Manuela tem viajado o Rio Grande do Sul nos últimos meses para promover o “Seminário Educação sem Machismo”. O projeto que busca “capacitar os e as participantes para a aplicação de aulas e oficinas que abordem temas como as desigualdades de gênero e o machismo”, segundo o material de divulgação da Assembleia. 

 

Marina Silva 

Wilson Dias Agência Brasil

Eleita senadora no Acre pela primeira vez em 1995, quando ainda militava no PT, a filha de seringueiros Marina Silva alcançou proeminência nacional defendendo a causa ambientalista. Durante o governo Lula, chegou a se afastar do Senado por cinco anos para ocupar a pasta de Meio Ambiente. Permaneceu como ministra entre 2003 e 2008, o que a afastou de votações relacionadas à educação – seu posicionamento mais recente sobre o tema apareceu, sobretudo, nas promessas das últimas duas campanhas presidenciais. 

A plataforma de Marina Silva apregoou a necessidade de promover a educação integral no ensino básico do país inteiro, tendo como objetivo primordial atingir as metas internacionais de combate ao analfabetismo. A própria Marina cresceu sem acesso à educação básica, alfabetizando-se somente aos 16 anos de idade, por meio do Mobral (Movimento Brasileiro de Alfabetização, programa federal existente entre 1971 e 1985). 

Com propostas incipientes, o programa de governo apresentado por Marina nos pleitos anteriores é marcado por um tom de promessa, com pouco detalhamento de como seria implementado. Entre as propostas, estava a abertura de mais universidades no interior do Brasil, para suprir a demanda de concluintes do ensino secundário em regiões remotas, e mais oportunidades de intercâmbio fora do país para estudantes do ensino médio, além da valorização dos professores.

Colaborou: Henrique Kanitz 

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]