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Alguns livros lançados em comemoração ao centenário da morte de Machado de Assis podem estimular a leitura das obras originais

Recontando Machado

Doze autores brasileiros – entre eles Miguel Sanches Netto e Cristóvão Tezza – recriam contos machadianos. Entre os mais famosos, há uma releitura de A Cartomante. Os textos originais que inspiraram os escritores também estão presentes na coletânea. Editora Record, 414 páginas, R$ 29,90.

Um homem célebre: Machado recriado

Em nove contos e uma peça, dez personalidades contemporâneas fazem o que o título do livro sugere: recriam a obra de um dos principais autores brasileiros. O roteirista Loureço Mutarelli, por exemplo, revisita as Memórias Póstumas de Brás Cubas. Publifolha, 189 páginas, R$ 55.

Machado de Assis queria ser lido. Tanto que se aventurou no romance, na crônica, na poesia, no conto, publicava seus escritos nos jornais cariocas do século 19 e os reunia em livros. No próximo dia 29, celebram-se os cem anos de sua morte e, embora seja o autor brasileiro mais estudado dentro e fora do país, ainda é pouco lido pelos estudantes, que, muitas vezes, acham sua obra chata e enfadonha.

"O problema não está no Machado", afirma o doutor em Teoria Literária da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Noel Arantes, que atribui tal aversão à falta do hábito de leitura não só dos estudantes, mas também dos professores. "A leitura foi banida da escola. É vista como uma ferramenta para o aluno passar de ano ou no vestibular. Esse imediatismo não é a lógica da leitura."

O especialista diz que, desde o ensino fundamental, o autor é ensinado como teoria, estuda-se quem foi, conta-se sua história, quase como se fosse um herói das Letras. "Mas quase nada de seus textos é lido em sala", lamenta.

Mas, segundo o professor da disciplina Literatura e Leitura na Es-cola da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Paulo Venturelli, é possível fazer a garotada entender e gostar do precursor do Realismo no Brasil (embora sua obra não deva ser reduzida a uma escola literária). Para tanto, defende, é preciso "desmontá-lo, como se fosse uma máquina, para ver como funciona em termos de recursos textuais, de estilo."

Escritor atual

Nesse desmonte, deve-se primeiramente trabalhar a questão do vocabulário. "O Machado tem um estilo muito lusitano, distante do uso que a gente faz do português. É necessário contextualizá-lo, mostrar que é um texto do século 19 e que, apesar da linguagem erudita, trata-se de um escritor de temáticas extremamente atuais", conta Venturelli.

A professora de Literatura Brasileira da UFPR, Marilene Weinhardt, diz que a escola tem se equivocado em insistir na leitura de Dom Casmurro por se tratar de um relato sobre um adolescente. "É um relato muito distante do jovem de hoje e, apresentado dessa forma, pode não chamar a atenção dos jovens". Venturelli sugere que apresentar o escritor aos alunos usando seus contos é uma forma de fisgá-los. "É nos contos que Machado é muito mais Machado, é irônico, seu humor é muito corrosivo. É onde é possível desmistificar a figura de um autor clássico e trazê-lo para nossos dias."

Marilene destaca que se aventurar no mundo machadiano é uma forma de o indivíduo se tornar mais crítico. "É um autor que discute as fragilidades humanas e trata do caráter psicológico de suas personagens muito antes de se falar em Freud no Brasil", afirma.

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