Que a universidade é um período de muito esforço e dedicação ninguém dúvida. Agora, para as mulheres que se aventuram a conciliar a rotina de estudos e a maternidade, esta fase costuma exigir ainda mais empenho e força de vontade para que o sonho de ter uma profissão evolua com o crescimento dos filhos.
A necessidade de organizar a agenda para conseguir realizar todas as atividades do curso e dos cuidados com as crianças é apenas um dos itens que costumam tirar o sono das mamães. Por outro lado, contar com o apoio da família, amigos e até dos professores é fundamental para que o equilíbrio entre estes diferentes papéis possa ser alcançado e a graduação concluída com êxito.
A Gazeta do Povo conversou com três mães que passaram por esta experiência para conhecer suas dificuldades e conquistas. Confira:
HISTÓRIA 2 - Um sonho realizado
HISTÓRIA 3 - Universitária e mãe de gêmeos
Mãe e caloura
A aprovação no vestibular de Música da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em 2011, chegou para a professora Milena Tupi no mesmo período em que ela recebeu outra notícia que mudaria para sempre sua vida: a de que seria mãe. Com 21 anos, e sem contar com o apoio do pai do bebê, ela diz que desistir da vaga não era uma opção. Então, decidiu ingressar na universidade e conciliar os cuidados com o filho à vida de caloura.
“Tinha trancado Canto, na Faculdade de Belas Artes, e Economia e Artes Cênicas, ambas na UFPR. Não tinha a intenção de interromper este quarto curso, pois acreditava que, se deixasse para depois, ficaria mais difícil para conciliar trabalho, educação do filho e faculdade”, lembra.
O período da gestação e da licença maternidade (de três meses) foi ‘tranquilo’, na avaliação de Milena. Ela conta que os professores foram compreensivos no período em que ficou sem frequentar as aulas, permitindo que estudasse em casa e adaptando, na medida do possível, as avaliações às suas necessidades de mãe.
Quando voltou da licença, no entanto, a rotina mudou completamente. Para que Milena pudesse assistir às aulas, ministradas no período da tarde, sua mãe, Fátima Castilho, ficava com o pequeno Benedito. “Quando ele tinha cerca de seis meses, eu o levava em algumas disciplinas práticas de conjunto, que aconteciam no período da manhã. Como eu canto, ele ficava comigo no sling. Meus colegas compreendiam e me ajudavam do jeito que podiam. E meu filho era muito quietinho, então não atrapalhava”, conta.
Os últimos anos do curso foram os mais ‘pesados’ para Milena, devido ao número de disciplinas, ao Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) e às mudanças na rotina de trabalho da mãe, o que acabava interferindo nos cuidados com o pequeno. Mesmo assim, ela não desistiu e, em 2014, concluiu a graduação.
“A maternidade me deu uma força a mais para levar o curso até o final, pois eu não queria que meu filho tivesse uma mãe frustrada. Mas, se não fosse a ajuda dos professores, dos colegas e da minha mãe, eu não teria conseguido”, reconhece.
Um sonho realizado
O desejo de fazer um curso superior acompanhou a atriz e professora de francês Ednéia Gea Chagas desde a juventude. Mudanças no trabalho e na vida pessoal, no entanto, fizeram com que ele só fosse concretizado em 2015, quando ela estava com 55 anos e já era mãe de três filhos.
“Eu não queria ficar toda a noite fora de casa e precisa organizar meu tempo para fazer os trabalhos da faculdade e dar conta das tarefas domésticas. Os períodos mais complicados foram nos semestres nos quais eu precisei cursar disciplinas pela manhã, porque este é o horário que requer mais da dona de casa.”
A professora conta que depois de mais de 20 anos sem estudar, a intenção de voltar aos bancos da universidade – ela havia cursado dois anos de Letras Inglês na Universidade Estadual de Maringá (UEM) – foi incentivada pelo marido, Sidemar Araújo, e ganhou força no início dos anos 2000, quando sua filha caçula, hoje com 15 anos, tinha um ano. “Então, decidi esperar até que ela ficasse um pouco maior e não precisasse tanto da minha presença”, lembra.
Em 2007, ela foi aprovada no curso de Filosofia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), mesmo período em que também tentou Artes Cênicas na Faculdade de Artes do Paraná (FAP). Depois de cursar dois anos de Filosofia, Ednéia decidiu que era hora de voltar para a área de Letras. “Decidi retomar Letras Inglês, mas como a concorrência era grande e sempre gostei de francês, decidi estudá-la e me encantei pela língua”, lembra.
Para sobreviver à tripla jornada (mãe, esposa e universitária) ela não costumava fazer todas as disciplinas da grade regular do curso e, por consequência, acabou estendendo dos quatro anos e meio para cerca de seis anos a permanência na universidade. “Eu não queria ficar toda a noite fora de casa e precisa organizar meu tempo para fazer os trabalhos da faculdade e dar conta das tarefas domésticas. Os períodos mais complicados foram nos semestres nos quais eu precisei cursar disciplinas pela manhã, porque este é o horário que requer mais da dona de casa”, conta.
No ano passado, Ednéia ainda passou um mês e dez dias na França, onde fez um curso de Didática de Ensino da Língua Francesa. Com os dois filhos mais velhos, de 19 e 18, também na faculdade, ela se prepara para começar a dar aulas de francês enquanto espera o resultado do processo seletivo para a complementação da graduação, em Letras Português, para o qual se inscreveu.
Universitária e mãe de gêmeos
Quando cursava o terceiro ano da faculdade de Jornalismo, na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), a analista de marketing digital Nadine Haddad Schulmeister descobriu que estava grávida não de um, mas de dois bebês. Ela conta que, na época (a gravidez ocorreu em 2003), não chegou a cogitar a possibilidade de interromper o curso, pois recebeu todo o apoio de que precisava para concluir a graduação.
“Quando contei sobre a gravidez, minha mãe falou que não tinha problema, mas que só não era para eu parar a faculdade”, lembra.
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Durante a gestação, Nadine conseguiu levar os estudos normalmente. Depois que os bebês nasceram, no entanto, ela precisou adaptar as demandas do curso à rotina de cuidados com os pequenos.
“É cansativo, mas não impossível. Hoje, lembrando, não sei como consegui fazer o TCC cuidando de duas crianças. Mas, na hora, a gente arranja força e tempo para fazer tudo.”
“No início do [quarto] ano peguei um mês de licença [maternidade] e voltei às aulas em março. No primeiro semestre tinha que fazer [a parte] individual do TCC [Trabalho de Conclusão de Curso], então deixava para ler os livros e escrever depois das 23h, horário no qual os gêmeos já tinham dormido”, conta. Ela acrescenta que sua mãe, Nadia Regina da Silva Binotto, também ajudava atendo os bebês durante a manhã para que ela pudesse frequentar as aulas.
No segundo semestre do último ano, período em que o projeto final de curso era realizado em equipe, foram as amigas de Nadine que a ajudaram a conciliar os estudos com os cuidados com os bebês. “Elas assumiram mais a parte que envolvia o trabalho de campo e eu fiquei com as atividades que podia fazer de casa, no meu tempo”, lembra.
Com o suporte recebido da família, amigos e professores durante a faculdade, Nadine avalia que o período de maior dificuldade veio após a conclusão do curso. Isso porque, como ela não fez estágio depois da chegada dos bebês, foi mais difícil conseguir um emprego. Além disso, o salário das vagas que encontrava muitas vezes não compensava a necessidade de ela pagar a escola para as duas crianças, o que fez com que tenha ficado de fora do mercado de trabalho por cerca de dois anos.
Mesmo com todos os desafios, e passados treze anos desde a gestação, Nadine avalia que o esforço valeu a pena. “É cansativo, mas não impossível. Hoje, lembrando, não sei como consegui fazer o TCC cuidando de duas crianças. Mas, na hora, a gente arranja força e tempo para fazer tudo”, afirma.
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