Mais da metade dos jovens brasileiros que querem cursar o nível superior no país não tem dinheiro para pagar por sua formação e, portanto, contam com programas sociais de incentivo à educação superior do governo, como o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) e o Programa Universidade para Todos (ProUni). A maioria, 64,8%, concluiu o ensino médio em escola pública estadual.
Os dados constam de uma pesquisa feita pela Associação Brasileira de Mantenedora de Ensino Superior (ABMES), divulgada nesta quarta- feira, em São Paulo. Foram ouvidos 1.000 jovens de 18 a 30 anos, com ensino médio completo, de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Florianópolis, Salvador, Fortaleza, Manaus, Recife e Belém.
De acordo com o levantamento, 81% dos jovens entrevistados pretendem cursar o nível superior dentro dos próximos três anos. Mesmo tendo interesse em estudar em faculdade pública, 78,6% destes jovens não rejeitariam realizar um curso em universidade privada .
Embora sonhem com o diploma, mais da metade deles, 50,5%, afirmou que a família não tem condições de pagar uma faculdade particular.
Dentro deste grupo que pretende cursar uma graduação, 57,9% dos jovens esperam contar com o Programa Universidade para Todos (Prouni) e 50,3%, com o Financiamento Estudantil (Fies).
Sobre as carreiras pretendidas, a maioria sonha em ser médico (12,7%), advogado (11,1%) ou engenheiro (10,9%).
“Hoje, dos 7,8 milhões de alunos em ensino superior , 75% estão nas instituições privadas”, afirma Janguiê Diniz, diretor-presidente da ABMES.
Na opinião do especialista Luciano Mendes Faria Filho, coordenador do projeto “Pensar a Educação, Pensar o Brasil”, no entanto, o estado deve adotar políticas que fomentem o ensino público para que os jovens não dependam de uma vaga em instituição privada.
“Evidente que a alternativa não é aumentar o financiamento público de instituições privadas. Se a gente quer de fato resolver o problema do ensino superior, é preciso que fazer expansão das vagas públicas”, comentou o educador, acrescentando que o Brasil tem uma das médias mais baixas do mundo no que diz respeito à quantidade de vagas públicas. “O Brasil é um dos países do mundo que tem uma das piores participações de vagas públicas no ensino superior, em torno de 24%. Isso só é pior que 4 ou 5 países no mundos. É uma vergonha em relação a toda América Latina.”
Na pesquisa da ABMES, 94,5% dos entrevistados acreditam que o governo federal deve conceder bolsas ou financiamento estudantil para aqueles que optaram por estudar em uma instituição privada e não tenham renda suficiente para arcar com as mensalidades.
“Em várias respostas da pesquisa, vemos a valorização do estado como indutor de políticas públicas educacionais”, afirma o professor e pesquisador da Universidade Federal de Pernambuco Adriano de Oliveira dos Santos, que apresentou o estudo.
“Eles querem estudar, ter acesso. Prouni é bolsa, Fies tem que pagar. O que eles querem é uma forma de acesso”, explica o diretor-presidente da ABMES. A maioria, 62,9%, acredita que os estudantes de escolas públicas não têm as mesmas condições que os alunos das particulares para ter acesso às universidades públicas
Para obter a bolsa do Prouni, o estudante precisa alcançar, no mínimo, 450 pontos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Na opinião de 64,4% dos jovens que querem ingressar na universidade, esta pontuação deve permanecer.
Medida provisória
A Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), que representa mais de 1200 instituições de ensino, segundo Janguiê Diniz, não concorda com a medida provisória (MP) 741, que modifica a forma de remuneração dos bancos que prestam serviços dentro do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).
Segundo a MP, as despesas do programa deixarão de ser repassadas diretamente pelo governo e passarão a ser responsabilidade das próprias faculdades. Segundo o ministro da Educação, Mendonça Filho, a medida vai gerar um alívio de pelo menos R$ 400 milhões por ano para os cofres públicos. Esse valor deveria ser repassado pelo Tesouro aos bancos e agora serão transformados em orçamento extra para a área. Mesmo com o aumento de custos para as instituições, o ministro descarta um aumento de mensalidades.
Com a MP, a remuneração mensal que deverá ser paga pelas instituições de ensino aos bancos corresponde a 2% dos encargos educacionais — na forma de títulos da dívida pública — repassados pelo Tesouro às instituições de ensino todos os meses. Hoje, as empresas utilizam esses valores para abater encargos previdenciários. Com a MP, o governo amplia o uso desses certificados ao liberar que eles possam ser utilizados também para pagar diretamente os agentes financeiros, substituindo o Tesouro nessa operação.
“Não concordamos, mas estamos colaborando com o governo porque achamos que a taxa é momentânea e que o governo ache uma solução o mais rápido para resolver, ter um Fies mais sustentável. Não dá para repassar a conta para quem oferece o serviço”, disse Janguiê Diniz.