| Foto: Walter Alves/ Gazeta do Povo

Pedagoga, com mestrado e doutorado na área de História e Historiografia da Educação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), a nova secretária municipal de Educação de Curitiba, Roberlayne de Oliveira Bor­­ges Roballo, enquadra-se no que se costuma chamar de "perfil técnico" para a pasta. Além da formação acadêmica específica na área que dirige, Roberlayne foi professora do ensino fundamental, pedagoga em creche municipal, trabalhou no Núcleo Regional de Educação e deu cursos para gestores educacionais.

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Sem filiação partidária, a professora licenciada da UFPR assume seu primeiro papel de gestão na administração pública afirmando que vai aproximar a escola da universidade e que promete respeitar o legado deixado pela administração anterior. Mesmo assim, lamenta o excesso de dívidas que herdou e fala em "ressignificar" algumas ações, como o modo de interpretar os sistemas oficiais de medição de desempenho dos estudantes.

Qual é a situação atual da Secretaria Municipal de Educação?

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Ainda estamos numa fase de diagnóstico, mas o que podemos dizer de início é que da gestão anterior para cá temos grandes dívidas. Todas serão pagas, mas terão de ser renegociadas. Algumas questões pedagógicas também precisam ser revistas, alguns projetos, reavaliados, mas nada do que foi construído deixará de existir. O que nossa equipe vai fazer é ressignificar algumas ações. Temos também obras inacabadas em creches e em pelo menos uma escola, e demandas em vários setores. É uma das maiores secretarias, são mais de 15 mil servidores, então você pode imaginar o tamanho da estrutura e das dificuldades administrativas. Vamos agir em todos os setores, sempre de forma equilibrada, sem tomar nenhuma medida que comprometa o bom funcionamento desse início de ano letivo. Mas confesso que estamos encontrando uma surpresa a cada dia.

Você é próxima da Eleo­­­­nora Fruet, que já foi secretária municipal de Educação. A sua gestão vai ser parecida com a dela?

Eu sou uma grande admiradora do trabalho da Eleonora, acho que foi uma grande secretária. Ela trouxe um enriquecimento cultural e um refinamento acadêmico muito grandes para dentro da secretaria, e tem uma forma de lidar com gestores e profissionais que para mim sempre foi exemplar. No entanto, eu venho com outro tom por ser da área da educação. Em algumas coisas eu devo seguir o exemplo que ela deixou, algumas ações serão resgatadas, mas claro que pretendo deixar novas marcas também. Como disse, quem assume a secretaria agora é uma pedagoga.

Já é possível falar em prioridades?

Estamos fazendo um estudo departamento a departamento. Não temos como criar planos e metas gerais porque temos muitas especificidades. Mas posso citar o plano de carreira do educador [profissional responsável pela educação infantil], que consta no plano de governo do prefeito, a aplicação dos 33% de hora-atividade, a inclusão de crianças com 4 e 5 anos na educação infantil, a abertura de mais vagas nos Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs) e a reformulação das diretrizes curriculares para o ensino fundamental.

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O prazo final para a inclusão obrigatória de crianças de 4 e 5 anos da educação infantil encerra em 2016, no mesmo período em que termina sua gestão. Como pretende cumprir a meta?

Esse planejamento já havia sido feito pela gestão anterior, e a partir de fevereiro montaremos um grupo de trabalho para dar os primeiros encaminhamentos para o cumprimento de um plano que envolva escolas e CMEIs. A população pode ficar tranquila, garantiremos o atendimento pedagógico para todas as crianças até 2016.

Sobre o plano de carreira para educadores da educação infantil, o que deve ser mudado?

Será montado um grupo para discutir o plano de carreira com participação do sindicato, de educadores, gestores e pessoas de diferentes secretarias. Vamos envolver a universidade e a sociedade civil. O plano implica, por exemplo, em formação e crescimento profissional, licença para estudo e aposentadoria especial. Queremos conversar com outras cidades e estados que passaram por processos semelhantes. Eu não tenho como garantir quais serão os caminhos e como serão finalizados, mas com certeza é uma das nossas prioridades a partir de fevereiro.

O que você pensa sobre as avaliações oficiais que­­ medem a aprendizagem dos alunos, como a Prova Brasil?

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Estamos tendo reuniões semanais sobre essa questão da avaliação. Claro que as avaliações externas são uma referência importante, já as avaliações internas passarão por um processo de mudança na interpretação dos dados. Se de certa forma sempre foram priorizados os macrodados, nós vamos trabalhar a partir de agora com os microdados. Nossa preocupação não será a quantidade de crianças que conseguem acertar uma questão na prova, e sim que questão é essa que a criança errou, qual foi o conteúdo do qual emergiu esse erro. Vamos trabalhar com muita capacitação para professores e pedagogos a partir dessas informações. Estamos resgatando dados dessas provas desde 2008 para fazer um histórico e reavaliar o próprio sistema de avalições. A partir de fevereiro vamos fazer reuniões com diretores para mostrar como está a situação de cada escola. Os diretores serão grandes parceiros nesse processo.

A secretaria pretende tomar alguma medida para estimular a participação das famílias da vida escolar dos alunos ?

Não no sentido de criar ou enfatizar algum programa, mas vamos levar ideias para que os gestores tragam a família desses estudantes para mais perto das questões pedagógicas. Por exemplo, queremos trazer os pais para discutir os parâmetros indicadores de qualidade da rede. Já estamos desenvolvendo um planejamento para que os pais participem também por meio de algumas questões, que eles digam para os gestores o que eles estão achando tanto da infraestrutura como do trabalho pedagógico. Não queremos participação apenas em momentos festivos, queremos trazer as famílias para as discussões pedagógicas. Que não se chame a família só no dia de entregar as avaliações, mas que haja outros momentos de envolvimento. Esse é o princípio da gestão democrática, que vai muito além de fazer eleição para diretor.