O Ministério da Educação (MEC) estima investir de R$ 70 milhões a R$ 90 milhões na compra de dicionários adaptados às novas regras da ortografia. A compra será feita em 2009 a partir de edital lançado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).
De acordo com o diretor de ações educacionais do FNDE, Rafael Torino, o valor ainda não está fechado, porque o edital para a compra do material só sai em 2009. "Nós temos uma estimativa de atendimento para todas as salas de aula do ensino fundamental e médio. Ao todo são 1 milhão de salas com um universo de 37 milhões de alunos da rede pública", afirma. Segundo Torino, a compra deverá ser realizada depois que a Academia Brasileira de Letras (ABL) publique o novo vocabulário. Atualmente, mesmo com a adesão às novas regras, ficam dúvidas sobre a escrita de diversas palavras. Torino afirma que só será possível adquirir o material quando essas dúvidas forem solucionadas.
Depois que for lançado o edital, uma equipe de especialistas vai analisar as obras à disposição. Depois, kits compostos por vários títulos serão adquiridos pelo FNDE e enviados às escolas. Compras adiadas
A aquisição de dicionários, que podia ocorrer neste ano, foi adiada para 2009, devido à reforma ortográfica. E ela está suspensa até a divulgação das definições da ABL sobre os pontos controversos do acordo ortográfico. "Dicionário não é uma material que compramos todos os anos. Não há política regular. A compra se faz quando é necessário e a última aquisição aconteceu em 2006", explica Torino.
Há três tipos diferentes de dicionários: um para crianças em fase de alfabetização, outro para crianças até dez anos e um terceiro, dessa etapa em diante. "Vamos exigir a nova ortografia, porque o dicionário serve para tirar as dúvidas dos estudantes", diz.
Os livros didáticos, por sua vez, terão de ser adaptados a partir de 2010. Já os materiais de biblioteca não sofrerão a mesma exigência. "Os materiais de bibliotecas são permanentes. Ninguém vai ficar queimando livros por eles não estarem com a nova ortografia", aponta.
Calendário das mudanças
As mudanças na escrita começam a valer a partir de 1º de janeiro de 2009. A reforma da ortografia pretende unificar o registro escrito nos oito países que falam português - Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Timor Leste, Brasil e Portugal.
De 2009 até 31 de dezembro de 2012, ou seja, durante quatro anos, o país terá um período de transição, no qual ficam valendo tanto a ortografia atual quanto as novas regras. Assim, concursos e vestibulares deverão aceitar as duas formas de escrita a atual e a nova.
Nos livros escolares, a incorporação das mudanças será obrigatória a partir de 2010. Em 2009, podem circular livros tanto na atual quanto na nova ortografia. O que muda na escrita
De acordo com especialistas, 0,45% das palavras brasileiras sofrerão alterações, ao passo que em Portugal haverá mudanças em 1,6% dos vocábulos. As regras que mudam são as seguintes:
Novas letras há a incorporação do "k", do "w" e do "y" ao alfabeto. O número de letras passa de 23 para 26.
Trema deixa de existir. A grafia passa a ser: linguiça e frequente.
Acentos diferenciais serão suprimidos acentos como o de "pára", do verbo parar.
Acentos agudos de ditongos somem os acentos de palavras como "idéia", que vira "ideia".
Acento circunflexo somem os acentos de "vôo" ou de "crêem".
Hífen palavras começadas por "r" ou "s" não levarão mais hífen, como em anti-semita (ficará "antissemita") ou em contra-regra (ficará contrarregra). Pontos em aberto
O acordo não define todos os usos de hífens, por exemplo. Assim, palavras como pé-de-cabra, ainda não têm o rumo certo e dependem da elaboração de um vocabulário pela Academia Brasileira de Letras e pelos órgãos dos outros sete países signatários.
História do acordo
O acordo ortográfico da língua portuguesa foi assinado em Lisboa em 1990 e deveria ter entrado em vigor em 1994, o que não se concretizou. Em 1998, foi assinado em Cabo Verde um protocolo que modificava a data de vigência, que foi ratificado em 2002.
Sem que as mudanças se aplicassem, em 2004 foi assinado um novo protocolo modificativo, que previa a adesão do Timor Leste, independente desde 2002. Este novo protocolo previa que as mudanças na ortografia entrariam em vigor a partir da assinatura de três países.
O acordo ortográfico já foi ratificado por Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Portugal, e, portanto, pode entrar em vigor. O processo de implementação em cada país pode variar. Em Portugal, o acordo foi aprovado em maio e a nova ortografia deverá ser obrigatória dentro de seis anos.
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