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Um grupo de médicos, do Movimento Ciência Pela Educação, fez uma live na noite desta terça-feira (8), por meio do Instagram, para apresentar argumentos - baseados em evidências científicas - sobre a importância da volta às aulas. Participaram da transmissão os pediatras Ana Escobar, Paulo Telles e Adriana Suzuki, e a infectologista Luciana Becker Mau.
De acordo com os especialistas, o movimento surgiu para cobrar dos gestores públicos que sejam estabelecidos protocolos para garantir a segurança dos estudantes, professores e funcionários nas escolas públicas. Eles ressaltaram que as instituições de ensino particulares já estabeleceram seus protocolos, têm condições e equipamentos e muitas já estão funcionando. Mas as escolas públicas seguem fechadas e os alunos sem aulas, o que aumenta ainda mais as desigualdades social e educacional entre as crianças e adolescentes desses dois grupos.
A escola pública, destacaram os médicos, é o local em que muitas crianças fazem as refeições. Além disso, muitos alunos têm ficado sozinhos em casa - já que os pais voltaram a trabalhar - ou ficam sob os cuidados de outras crianças e adolescentes. Além disso, eles salientaram que muitos estudantes não têm conseguido acompanhar as aulas online - por falta de acesso à internet de qualidade, de aparelho ou por falta de local adequado nos lares para acompanhá-las devido ao grande número de pessoas nas casas.
Por isso, um dos grandes objetivos do Movimento Ciência Pela Educação é trabalhar para que as escolas públicas tenham as condições necessárias e protocolos seguros para receber os alunos.
Os médicos citaram estudos que mostram que a maioria dos casos da segunda onda da Covid nos países desenvolvidos ocorrem por meio dos adultos. Ou seja, pessoas que convivem com as crianças acabaram contaminando-as e não o contrário - não foram elas que pegaram o vírus na escola e levaram para casa -, e por isso as escolas seguem abertas nesses locais.
Além disso, segundo dados citados pelo movimento na live, estudos científicos a que eles tiveram acesso dão conta que, quando contaminadas, em 0,6% dos casos as crianças evoluem para quadros graves da doença.
Protocolos para as escolas
“Todos os serviços abriram com protocolo. Por que as escolas não têm [protocolos para reabertura]?”, indagou o pediatra. Para Telles, é inconcebível que apenas as escolas públicas sigam fechadas, já que shoppings, bares e outros estabelecimentos voltaram abrir em meio à pandemia.
Uma das grandes questões é como fazer para que possíveis casos de contaminação não surjam/saiam das escolas e cheguem aos lares dos alunos. Segundo o Movimento Ciência Pela Educação, para isso é preciso criar protocolos e cobrar dos gestores públicos que providenciem as condições necessárias.
Para os médicos, é fundamental que as crianças usem máscara - isso não se aplica às da educação infantil -, tenham sabão para lavar as mãos, papel-toalha para secá-las, que os ambientes tenham ventilação e que os estudantes mantenham distanciamento social dentro das salas de aula. Eles salientaram que esse é um dos grandes desafios nas escolas públicas, já que a aglomeração dos alunos precisa ser evitada. Para isso, sugerem reduzir o número de alunos em sala. Para isso, haverá necessidade de revezamento do comparecimento às aulas presenciais.
O uso do álcool gel também é importante para a higienização das mãos. Se algum aluno tiver sintoma ou contato com alguém com coronavírus, não deverá ir à escola e isso deve ser comunicado à direção da instituição de ensino.
Para entender a realidade da população mais carente, os médicos - que já atuam em hospitais públicos, além dos consultórios particulares - têm conversado com líderes comunitários. Eles também têm tentado contato com os gestores públicos e, em breve, ainda pretendem abrir diálogo com professores e sindicatos que representam a categoria - ainda bastante resistentes à volta às aulas -, para explicar o que diz a ciência sobre o retorno das atividades.
Vacina
Os médicos participantes da live também opinaram que é inviável esperar que as crianças sejam vacinadas para voltar às aulas. Eles ressaltaram que essa faixa da população não faz parte dos grupos prioritários e por isso deve começar a receber a vacina apenas no fim de 2021. Ou seja, se for necessário esperar a imunização para o retorno das aulas, as atividades escolares serão retomadas apenas em 2022. Além disso, grande parte das vacinas têm sido testadas em adultos e ainda precisam ser analisadas quais são os efeitos e a eficácia nas crianças.