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Segundo pesquisa, maior desafio é se certificar que os professores não se constrangeriam na frente dos alunos. | Pixibay
Segundo pesquisa, maior desafio é se certificar que os professores não se constrangeriam na frente dos alunos.| Foto: Pixibay

Você consegue imaginar por que a estrutura escolar, os métodos e a rotina em sala de aula parecem se repetir há anos? Uma pesquisa realizada pela antropóloga Lauren Herckis, na Universidade Carnegie Mellon, nos Estados Unidos, pode ter encontrado a resposta: ela concluiu que os profissionais da educação têm receio de inovar ou implantar novas práticas por medo de parecerem estúpidos e passar vergonha diante dos alunos. 

Herckis acompanhou por mais de um ano uma série de reuniões de professores e teve acesso aos emails trocados pelos docentes para observar o modo como discutiam estilos de ensino e, principalmente, possibilidades de inovações. Como resultado, constatou que os professores da instituição não costumam adotar métodos inovadores, apesar de a universidade ser referência em pesquisa sobre métodos de aprendizagem. 

As inovações implementadas pelos docentes também não foram aproveitadas além do seu ponto de origem. Um exemplo disso é um dos cursos online de estatística da universidade, cujo modelo de ensino a distância foi considerado altamente eficaz para atingir objetivos em metade do tempo previsto. Esse modelo, no entanto, não foi aplicado a outros cursos do departamento, nem mesmo na versão presencial do curso. 

“Isso é uma grande fonte de frustração”, apontou o chefe do departamento de humanidades e ciências sociais da Carnegie Mellon, Richard Scheines. 

Necessidade de afirmação 

De acordo com a pesquisa, um dos motivos para a inércia dos professores é o que os entrevistados definiram como “afirmação da sua identidade pessoal”. Segundo Herckis, o maior desafio é se certificar que professores não se constrangeriam na frente dos alunos. 

Esses padrões de identidade dos professores seriam, principalmente, uma repetição de modelos observados quando eles eram alunos – ou seja, os professores se inspiram em educadores que atuavam em décadas passadas. 

“A primeira barreira a ser vencida é a cultural. Tanto professores, como famílias e os próprios estudantes têm em mente um ‘modelo de sala de aula’ que corresponde à pedagogia clássica, no qual o professor fala e os alunos anotam, em uma postura passiva e receptiva”, avalia Andrea Ramal, doutora em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). 

Do mesmo modo, os professores mostraram maior tendência a adotar inovações criadas por eles mesmos, enquanto apresentaram grande resistência para aderir a mudanças criadas por outras pessoas. 

“As metodologias ativas viram o foco para o estudante: ele precisa assumir o protagonismo na construção do conhecimento, enquanto o professor se torna um orientador do itinerário de aprendizagem. As tecnologias facilitam esse processo, mas então entra uma nova barreira: nem todos os professores dominam os ambientes digitais e muitos não sabem como usá-los nas aulas”, diz Andrea. 

Outras barreiras 

As inovações na sala de aula têm outros impedimentos, como o desejo por boas avaliações pelos alunos, medo das consequências profissionais de avaliações ruins, ceticismo com estudos sobre novas métodos e falta de apoio institucional para alternativas de ensino. 

Outra barreira para adoção de novas ideias e modelos é a falta de discussão dentro da comunidade especializada – em um contexto em que o sucesso ou fracasso de uma inovação afeta diretamente o desempenho dos alunos, é essencial criar novas hipóteses, discutir e testá-las antes de colocá-las em prática. “Quando seu instinto te diz para fazer uma coisa e um artigo diz outra, é muito difícil mudar o comportamento”, diz Herckis. 

Do mesmo modo, a falta de discussão coloca as novas ideias como riscos tanto para a prática do professor quanto para o desempenho dos alunos. “Professores não querem desperdiçar o tempo dos alunos, eles querem ensinar bem. Por isso, usar métodos que foram testados anteriormente é uma estratégia importante”, explica Herckis. “Métodos testados e aprovados são atraentes porque os professores têm evidências de que eles funcionam.” 

Um processo de discussões e testes de novas alternativas de ensino contribui para que a inovação tenha um objetivo prático para o desenvolvimento dos alunos, que são o foco do processo de ensino. 

“A melhor forma é pesquisar o que vem dando certo: em outras escolas e faculdades, seja no Brasil ou no exterior. E ter a coragem de fazer ensaios, para ver o que melhor funciona em suas turmas e em sua matéria”, diz Andrea. 

“Experimentalismos vazios, testar novidades sem um planejamento claro e uma meta que se deseja alcançar, enfim, inovar sem método é tão arriscado quanto manter a aula da mesma forma que no século passado”, conclui. 

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