Claudio Gonçalves lê diariamente pelo menos 1h30 por vontade própria| Foto: Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo

Na prateleira

Conforme a idade e a relação com a leitura, a criança pode se sentir atraída por diferentes tipos de livros:

Primeiros contatos

Livros garantem estímulo sensorial a bebês, seja pela entonação da voz, ritmo ou manipulação de livros específicos, geralmente feitos de plástico ou pano. Indicação: coleções Brinquebook e Publifolha.

Pequenas leituras

Com 3 ou 4 anos, a coordenação está mais desenvolvida, possibilitando o manuseio de livros com páginas em papel com maior facilidade. São importantes figuras grandes e narrativa linear. Indicação: O Caso das Bananas, de Milton Célio de Oliveira Filho, e Bruxa, bruxa, venha à minha festa, de Arden Druce.

Letrado

Com a capacidade de reconhecer palavras e frases, os livros já podem conter pequenas histórias e narrativas mais elaboradas. Indicação: A Fantástica Máquina dos Bichos, de Ruth Rocha, e Doze Reis e a Moça no Labirinto do Vento, de Marina Colasanti.

Leitor em processo

Aos 9 e 10 anos, a criança organiza o pensamento lógico e é capaz de diferenciar o mundo real do da Literatura. São capazes de ler livros maiores, com narrativas mais complexas. Indicação: A história sem fim, de Michael Ende, e obras de Monteiro Lobato.

Leitor juvenil

A criança com 11 e 12 anos tem capacidade de compreender diferentes textos e pode ser apresentada aos grandes clássicos da literatura.

Fonte: especialistas entrevistados.

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Hora da escolha

A psicóloga e proprietária da livraria Bisbilhoteca, Cláudia Serathiuk, dá dicas para incentivar os filhos a ler:

- Cuidado com livros com pop-ups e outros elementos interativos. Eles podem ser bons visualmente, mas nem sempre acrescentam em termos de leitura.

- Pesquise livros infantis premiados e peça indicação aos vendedores das livrarias. Confira se o conteúdo do livro está de acordo com o perfil e com os valores da família.

- Não deixe todas as escolhas na mão das crianças. Elas tendem a escolher livros que trazem personagens televisivos.

- Leia para a criança e deixe que ela o veja lendo por prazer.

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A quantidade de tempo dedicado à leitura como lazer na infância e adolescência tende a formar leitores e implica em reflexos na vida adulta. Um estudo da Organização para a Coope­­ração e o Desenvolvimento Eco­­nômico (OCDE) aponta que os melhores leitores leem mais por estarem motivados a isso e, consequentemente, desenvolvem mais o vocabulário e a capacidade de compreensão. Na pesquisa, o Brasil aparece junto às nações com os menores índices de leitura entre alunos na faixa dos 15 anos.

A publicação Education at a Glance (Educação de Relance, em português) cruzou notas do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) de 2009 e dados sobre a quantidade de horas por semana que alunos de vários países afirmaram dedicar à leitura sem obrigação escolar. Os leitores que se saíram melhor na avaliação afirmaram ler ficção. Contudo, a leitura de outros materiais, como revistas, jornais e livros de não ficção também ajuda a fazer da leitura um hábito, especialmente entre leitores mais "fracos" ou iniciantes.

Com exceção dos gibis – em alguns países, crianças que afirmaram ler essas publicações tiveram nota inferior do que aqueles que disseram não lê-las –, revistas, livros e jornais contribuem positivamente com a performance de leitura dos estudantes. Segundo o estudo, o motivo da ressalva poderia estar ligada ao fato de leitores "fracos" considerarem os gibis uma leitura mais acessível.

Para o educador Júlio Röcker Neto, vice-presidente da editora Ahom Educação, não há nada de mal em uma criança ler gibis e revistas adequados à sua idade, mas não se pode deixar de apresentar a ela outros tipos de leitura, como narrativas ou poesias. Ele reforça a importância da leitura para o desempenho escolar. "Exames nacionais e mundiais comprovam que o entendimento dos enunciados das questões é determinante para o sucesso do aluno em uma avaliação."

Professores

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Apenas 19% dos estudantes entre 14 e 17 anos dizem ler livros que não foram pedidos na escola. O índice cai para 10% na faixa de 11 e 13 anos. Os números fazem parte de uma pesquisa conduzida pelo Instituto Pró-Livro e o Ibope. A falta de interesse pelos livros pode ser reflexo do mau uso do material nas escolas. Para a professora de Metodologia de Ensino da Literatura Infantil Elisa Dalla Bona, os professores erram quando usam a leitura unicamente como pretexto para ensinar ou alfabetizar.

"Quando o professor trabalha o texto com perguntas medíocres, o que chama de interpretação, parte do pressuposto que o aluno não tem capacidade de interagir com o texto. Isso deixa a criança insegura. O resultado é que crianças leem porque o professor mandou, e não por prazer", diz Elisa.

Claudio André Gonçalves, 16 anos, vai na contramão quando o assunto é leitura como passatempo. Mesmo estudando para o vestibular, não fica sem ler pelo menos 1h30 por dia. "Quan­­do o professor pede para ler livro ninguém quer. Preferem resumos. Os alunos deveriam ser estimulados a ler sem obrigação. Se é para ler porque vale nota, aí fica chato."

De acordo com Eliege Pepler, mestre em Estudos Literários e professora do Colégio Media­­neira, a forma de encarar a leitura também precisa mudar. "Leitura não é dom, gosto ou hábito. Demanda concentração, isolamento, participação ativa e reflexiva. É como em um exercício físico, quanto mais cedo é estimulada e quanto mais se pratica, melhor a capacidade de leitura."

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