O ministro da Educação Abraham Weintraub afirmou, em entrevista ao Poder 360, que cobrar mensalidades dos estudantes das universidades públicas acarretaria um alto custo político sem retorno suficiente que justificasse esse “estresse”. Como o custo de um aluno em uma universidade pública pode ser o dobro de uma boa instituição particular, nas palavras de Weintraub, “quem pode pagar não ia querer”.
“Uma família rica que possa pagar o custo de uma universidade federal, que não é mais do que 10% dos alunos, não ia querer pagar porque hoje uma universidade pública federal ela tem um custo mais ou menos o dobro ou três vezes mais do que uma escola do mesmo gabarito da iniciativa privada. Não vejo por que as famílias iriam pagar”, explicou.
Segundo Weintraub, o custo de um aluno, na média, dentro de uma universidade federal, corresponde atualmente a R$ 35 mil por ano e deve chegar a R$ 40 mil por ano em 2020.
As universidades públicas são caras, entre outros motivos, segundo o ministro, porque a evasão é grande (mais de 50%) e a média de permanência dos alunos nos cursos é de 6 anos e meio. Contando com outros problemas, a média de um diploma em universidade pública no Brasil pode chegar a R$ 450 mil.
Professores com dedicação exclusiva encontrariam trabalho fora da universidade?
Outro fator que encarece os cursos e precisa ser repensado, na opinião de Weintraub, é o custo dos professores que dão, em média, 8 aulas por semana e recebem de R$ 15 mil a R$ 20 mil, em regime de dedicação exclusiva, e de R$ 8 mil a R$ 12 mil, quando são apenas titulares. Além disso, frisou Weintraub, em geral são 12 alunos por professor, ou seja, a produtividade dos professores seria baixa pelo salário recebido.
“Provavelmente esses números pela primeira vez alguém tem a coragem de chegar e falar”, disse. E, olhando para a câmera, disse:
“Pagador de imposto, você que esta aí: paga imposto para um cara trabalhar, ir uma vez por semana, dar aula, ganha de R$ 15 a R$ 20 mil, não tem compromisso se ele reprova 80% dos alunos, 90% dos alunos ele pode reprovar; não tem muitas vezes uma linha didática clara, e o aluno desiste no meio do curso. Quantos [desistem]? 50%. Em alguns cursos, 90% dos alunos desistem. Então você pega eventualmente um curso de história, filosofia e geografia aonde 90% dos alunos desistem, o aluno formado, o diploma desse aluno é muito caro”, disse.
Weintraub deu a entender ainda que muitos professores com dedicação exclusiva não encontrariam outro trabalho. “Tem faculdade que o professor mesmo que queira não consegue fazer nada [fora da faculdade]”.
“Um professor de Medicina normalmente quer clinicar, não quer só dar aula; um bom professor em escola de negócios quer fazer consultoria”, comparou. “Os professores dessas faculdades [com baixa produtividade] quase todos têm dedicação exclusiva e recebem muito mais do que professores de faculdade onde o pessoal tenta trabalhar além de dar aula”.
“Como você melhora isso? Cobrando indicadores de desempenho. Por que você está perdendo 90% dos alunos? O que está acontecendo? Para quantos alunos você deu aula nesse semestre, para três, para cinco? Só de mostrar daria uma boa melhora nos números”, disse.
E continuou: “Assim que passar o Future-se e começar a ter adesão, a gente pari passu vai passar alguns critérios [aos professores]. ‘Você pode ter número menor de aulas se publicar papers em revistas de melhor relevância. Não publica? Tem de dar mais aula”, disse Weintraub.
O ministro afirmou ainda que tirar as bolsas ociosas da Capes de cursos de pós-graduação ruins, com notas 3 e 4 nos últimos 10 anos, vai melhorar o aproveitamento desse recurso. Ele citou alguns nichos de excelência nas universidades, mas apontou que há muito “joio com o trigo”. “Aumentou-se muito a produção de papel e o impacto caiu. objetivamente o MEC hoje é uma grande universidade federal, uma grande folha de pagamento de professor de universidade federal”.
Escolha de reitores
Sobre a escolha de reitores, Weintraub disse que, na opinião dele, criou-se uma falsa imagem que o dinheiro da universidade “brota como o maná do Céu”, fazendo referência ao texto bíblico. O orçamento das universidades sobe, segundo o ministro, cerca de 8% ao ano acima da inflação.
“Quem paga é o povo. Se o povo paga, nós pagamos, a universidade não é dos professores, não é dos técnicos e não é dos alunos. A universidade é do povo, de todos nós. E na discussão da escolha para reitor, falta a sociedade entrar. Estamos tentando meios que a sociedade possa participar da lista tríplice”, afirmou. O Ministério da Educação estuda tentar essa mudança no Congresso, com a apresentação de um projeto de lei, feito pela própria pasta ou em parceria com deputados e senadores.